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terça-feira, 22 de abril de 2008

UMA MORTE NO TEATRO

Me considero um homem de bom gosto,cultural e intelectual.Leio e componho poesia;visito exposições dos mais variados artistas e escolas de arte,por toda a cidade;devoro os clássicos da literatura;medito ao som de música clássica e erudita;e vou ao teatro asssistir espetáculos semanalmente.Adoro teatro.Quando não há um espetáculo sendo encenado em minha cidade,vou à alguma cidade vizinha.Até mesmo já me dispus à escrever algumas peças ,que,infelizmente,não tenho contatos pessoais para torná-la um espetáculo encenado em algum teatro.
Como o leitor pode supor,sou um intelectual solitário.Pra mim,é até bom,pois não gosto de aglomerações,muito menos de estar acompanhado de alguém que falaria durante a apresentação,tirando minha concentração.Deste modo,quando ocorreu o fato que contarei a seguir,eu me encontrava sozinho.
A peça era uma ópera.
Gosto de me sentar longe do palco,de modo a poder admirar todo o espetáculo em meu campo de visão,sem precisar mexer muito o pescoço.então,naquela noite,lá estava eu,na última fila.
A casa possuia uma lotação satisfatória,o que me agradou.Eu já disse que odeio aglomerações,mas,como amante das artes,fico feliz quando vejo muitas pessoas prestigiando um espetáculo.E o teatro em que estávamos,eu nunca tinha estado entes.Me causou uma boa impressão.
O prédio também era muito bom.Novo.Limpo,poltronas macias.O teto parecia firme e seguro(ainda bem,pois seria uma tragédia se "o céu caísse sobre nossas cabeças").
A peça começou.todos em silêncio.Minha atenção,como sempre,no espétáculo.Nem as pesoas ao meu lado pareciam -me realmente estarem lá.
À um certo momento,desviei levemente minha atenção para algo que ahcei ver com o canto do olho.Um movimento nas sombras,no teto.Olhei para ver o que era.Não vi nada.Achei que poderia ser um morcego.Ou talvez fosse apenas minha imaginação,ou mesmo uma ilusão de ótica.Ainda assim,passei meu olhar por todo o teto,pelas armações de sustetação do teto e suporte das luzes.Não encontrei nada(afinal,o que teria lá pra ser encontrado?),e voltei minha atenção para a peça.Fiquei um pouco frustrado por ter desviado minha atenção dela,mesmo que por poucos segundos.Felizmente,eu já conhecia a peça,pois já havia visto outras encenações dela.
Mas fiquei curioso em saber o que eu tinha visto."Quando a peça acabar,e as luzes se acenderem,vou olhar novamente para o teto,em busca do que quer que fiosse que tirou minha concentração e atiçou minha curiosidade",pensei.
Um certo tempo depois,novamente algo no teto atraiu minha atenção.Pareceu-me que algo havia refletido um pouco de luz.Como minha curiosidade já estava maior que nminha atenção pela peça,fiquei olhando para o teto.Novamente,vi uma luz refletida levemente em algo pequeno.Muito pequeno.E se movia.E pareceu-me que havia um vulto grande perto desse objeto.O vulto estava nas armações.Pelo tamanho,acho que devia ser uma pessoa.
E o objeto pequeno que refletia a luz se mexia.De repente,já não via mais a peça.Era como se eu não estivesse mais lá,só o som da peça chegava aos meus ouvidos,mas eu não dava atenção.O objeto se movia,apontando para todo o teatro,como se estivesse procurando algo.Ou alguém.
O objeto era triangular.Pude notar quando ele apontou em minha dirção.Meu coração palpitava,minha respiração ficou mais rápida.O objeto parou em minha direção.Podia sentir que o objeto triangular apontava para mim.senti meu suor escorrer por minhas costas.Fiquei paralisado;Não conhecia as pessoas que estavam ao meu lado.Do meu lado direito,uma moça que estava abraçada À um homem,provavelmente seu namorado.Do meu lado esquerdo,um senhor de idade avançada,óculos na ponta do nariz,e o queixo apoiado no punho.A atanção totalmente voltada à peça.Eu não conhecia ninguem.Não sabia o que fazer.Não podia causar um escândalo.Fiz a única coisa que podia.Desviei meu olhar,de volta para a peça.
Mas não conseguia me concentrar nela.Só pensava no brilho triangular,que notava pelo canto do olho.O brilho triangular que apontava pra mim.O brilho triangular que desviou de mim.
Um pouca aliviado,olhei para as armações,e vi o brilho se desviando para o outro lado do teatro.Ao redor do objeto triangular,havia um brilho mais leve,em semi-círculo.Esse outro brilho foi mudando de forma,ficando mais ovalado,formando uma elipse.Então,o objeto triangular foi atirado com velocidade na direção do público.Ouvi um gemido abafado.
A peça continuou por poucos segundos.Enquanto isso,segui o vulto com o olhar até a parte das armações que ficava acima do palco.Então,o vulto sumiu por algum lugar.
De repente,um grito de mulher meio que me despertou do meu transe.Todos no teatro olharam na direção dela.Os atores,no palco,pararam de encenar,olhando pra ela.A mulher estava de pé,gritando histerica.As luzes se acenderam.Um homem havia sido flechado e morto.Nas circunstâncias,não seria apropriado dizer,mas me senti aliviado.Aliviado por não ter sido eu.
Quando a polícia chegou,as pessoas que não eram próximas do morto foram liberadas.Eu fui embora,sem sequer dar depoimento do que vi.
Eu não gosto de jornais sensacionalistas e sanguinários,por isso,não sei quem era o homem assassinado,nem o motivo do crime.Não me interessa saber.
E eu nunca mais voltei àquele teatro.

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