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segunda-feira, 30 de junho de 2014

TODA RÊ BORDOSA


Leia aqui meu texto sobre o álbum que publica todas as tiras da porraloca dos anos 80.


RE BORDOSA

Lembro quando eu era criança: havia um cara que morava no mesmo quintal que era um roqueiro cabeludo,com um quarto cheio de discos do Iron Maiden, AC/DC, e vários gibis espalhados. Me lembro principalmente das edições da MAD, e da Chiclete com Banana, que eu sempre folheava. Adorava os desenhos, mesmo que eu ainda não entendia o que eles queriam dizer. Várias capas da revista ficaram gravadas na minha memória. Também tinha outro tipo de revistas, mas não é o assunto aqui.
Anos depois, já com 20 anos, passeava pelo meu sebo favorito, e encontrei um exemplar da “Morte da Porraloca”. Claro que comprei sem nem pensar muito. Além de barato, eu sabia que aquilo era um clássico das hq’s nacionais. Agora, sim, as piadas faziam sentido pra mim. Adorei a leitura, e imediatamente virei fã do Angeli. Passei a comprar várias outras edições da Chiclete que encontrei pelas minhas peregrinações por sebos. Talvez até tenha sido isso o que me fez virar quadrinhista.
Anos depois, finalmente é lançada uma edição que compila todas as tiras da personagem que seu autor se permitiu a ousadia de matar. Muitos anos antes de matar um personagem de HQ tivesse virado rotina. TODA RÊ BORDOSA, é um livrão de 19,5 x 26,5 cm, e 216 páginas.
As tiras foram restauradas digitalmente a partir dos originais do Angeli, novo letreiramento, e na publicação foram separadas mais ou menos pelos “temas”.  Há as tiras com a Rê no bar, na praia, na cama, na banheira, com os pais, grávida, com os amantes, na clínica de aborto, etc.
Além das tiras e hq’s que saíram na Folha de São Paulo entre 1984 e 1987, há também a história completa da morte dela, além das hq’s onde o autor “revisita” a Rê, “Memórias de uma Porraloca”, de 1996, onde ele encontra o diário perdido da Rê Bordosa, e “Vodka”, de 2009, que mostra um grupo de pessoas que se reúne fantasiados de Rê Bordosa. Além de alguns extras, como esboços, capas, reprodução de uma reportagem sobre a morte dela na época, além de tiras em italiano.
Só senti falta de algum texto contando mais sobre a história da criação dela. Ou algum prefácio do próprio Angeli. Mas, por outro lado, isso é algo que só vai fazer realmente falta para os fãs novos, que não conhecem a história, não sabem que o Angeli a criou como uma forma de “exorcisar” tipos de pessoas que ele odiava, e uma mulher beberrona e pentelha como ela não é mesmo muito agradável.
Além do que, há os documentários “Dossiê Rê Bordosa”, e “Angeli 24 Horas”, pra quem quiser saber mais. É só procurar onde comprar, ou assistir de graça.
Com Rê Bordosa, mais do que criticar um tipo de mulher considerada “vulgar” pela sociedade, Angeli acabou fazendo um retrato do comportamento daquela época. E, pra quem ainda não leu, e pode se perguntar “será que essas tiras tão calcadas nos anos 80 ainda tem algum valor hoje?” Sim, tem. Os trabalhos de Angeli são atemporais. A Rê é uma mulher moderna, que estava frente do seu tempo, e continua sendo moderna. Mas o melhor de tudo é que as piadas continuam engraçadíssimas.
O que posso dizer além de IMPERDÍVEL?

sábado, 28 de junho de 2014

TURMA DA MÔNICA - LAÇOS


Uma das melhores histórias da turma da Mônica, produzida com maestria e sensibilidade pelos irmãos Cafaggi. Leia minha crítica aqui: 

LAÇOS
Minha primeira “compulsão” ao ler LAÇOS foi compará-lo com “Astronauta – Magnetar”, sei lá porque. Talvez por não ter lido Turma da Mônica ha muitos anos, ou talvez por ter em mente que, assim como o primeiro álbum da série Graphic MSP, este também seria uma releitura total dos personagens. Mas não é. Os personagens continuam os mesmos de sempre, apenas com uma sensibilidade diferente no estilo da história. E esse é, com certeza, o grande mérito desta HQ, e o motivo pelo qual está conquistando todos os leitores.
Talvez ela tenha me conquistado menos do que a maioria das pessoas, por uma razão meio besta: eu nunca assisti “Os Goonies”, filme dos anos 80 que todos estão comparando com a HQ. Mas eu tive amigos. E, por isso, acabei adorando a história, mesmo não tendo afinidade com o filme. Não é preciso. Os irmãos Caffaggi fizeram uma história que envolve mesmo aqueles que não possuem nenhum conhecimento das citações e homenagens que estão pela HQ.
Como eu disse no primeiro parágrafo, não se trata de uma reinvenção da Turma da Mônica, mas de uma história com outro estilo. A turminha continua a mesma. Eles não foram radicalmente modificados como aconteceu com o Astronauta.
Acho que todo mundo já sabe que a história fala sobre o desaparecimento do Floquinho, o cachorro do Cebolinha, e em como a turma se junta para procurá-lo. Só isso. Uma simplicidade que se mostra uma aula para quadrinhistas que acham que precisam criar um Watchmen qualquer para que o resultado seja uma grande história. Cada cena da história é construída para que o leitor se envolva em cada um desses momentos. Como em um bom filme, a história não é apenas uma desculpa para fazer os personagens irem até o fim da linha, mas vivenciarem cada passo da viagem. E o leitor acompanha junto.
De certo modo, esse “formato” do roteiro alude ao próprio formato das revistinhas da turma, que possuem várias histórias curtas. Assim, o álbum se assemelha a uma grande coleção de capítulos curtos que se ligam.
Analisando assim, talvez essa seja a razão pela qual ler LAÇOS seja tão bom. Cada cena é recheada de pequenas pérolas, seja no subtexto com citações à histórias clássicas da turminha (Não, eu não reconheci, mas li sobre isso em algum site. Hehehe) seja pelas piadas maravilhosamente inseridas no decorrer de toda a trama. Algumas delas com certeza ficarão para sempre no imaginário dos leitores, como a “explicação” do Cebolinha sobre o fato de ele ser o único que usa sapatos nas hq’s tradicionais. Outra piada que me fez rir sozinho é quando o mendigo fala que já viu muitas coisas estranhas na vida, sendo uma delas o personagem “Xaveco”.
Essa é a sutileza que permeia toda a revista. Os irmãos captaram o espírito tanto dos personagens quanto o de ser criança e de se aventurar por aí. Talvez hoje em dia ninguém realmente se aventure pelo bairro, mas que temos vontade, isso temos. Confesso que até hoje, quanto tenho que ir pra algum lugar que nunca fui, procuro fazer o percurso a pé, só pra desfrutar do prazer de caminhar e conhecer um lugar novo.
O que mais pode ser dito sobre a história? Que os traços dos Cafaggi são excelentes, misturando a singeleza de um livro infantil com a dramaturgia à la Will Eisner? Que essa história é uma declaração de amor aos personagens? Ora, isso o leitor vai perceber assim que começar a folhear a revista.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

DRACONIAN


DRACONIAN, uma excelente HQ nacional! Leia minha resenha aqui:


DRACONIAN

É muito bom ler uma hq nacional independente que nos pega de surpresa. Uma excelente surpresa! Draconian é uma dessas. Lançada em outubro de 2012, ela é uma coletânea de várias hq’s curtas passadas em um mesmo universo. O de vampiros que agem á margem da sociedade. Confesso que, á primeira vista, imaginei que seria histórias beeeem no estilo Anne Rice, mas me enganei. Felizmente, o grande trunfo de Draconian é ter personalidade própria. Tanto no estilo quanto na proposta das histórias.
O universo de Draconian apareceu pela primeira vez em 1999 na revista de RPG Dragão Brasil. O álbum lançado agora, é uma coleção de histórias dos diversos personagens que compõe o universo criado pelo autor, mas em hq’s refeitas especialmente para a nova edição. São 9 histórias com cerca de 10 a 12 páginas cada. Cada história é focada em um dos personagens. Não há uma trama que uma todas essas histórias, como se fosse uma grande saga, mas há uma “aura” de subtrama mencionada no decorrer das histórias, o que garante a ligação entre todos os personagens, e situando o leitor dentro desse mundo.
Voltando ao meu preconceito inicial, uma outra coisa que imaginei antes de ler é que, por serem personagens que surgiram dentro de uma revista de RPG, essa HQ seria muito calcada nos jogos de Vampiro, como “A Máscara”, por exemplo, com seus vários clãs cada qual com suas regras de conduta. Felizmente, não é nada disso. Nada contra o RPG, que confesso que joguei bastante, mas se a HQ fosse inspirada no jogo perderia a empatia de leitores que nunca jogaram.
Criados por Paulo César Santos, que desenha a escreve as histórias, e alguns capítulos com roteiros de André Farias, as histórias possuem um estilo e ritmo que difere bastante da maioria das hq’s tradicionais (sejam independentes ou mainstrean). O primeiro capítulo, por exemplo, começa de forma bastante “lenta”, criando toda a uma ambientação, e termina de forma inesperada. Ao ler sem ter sequer folheado antes, me parecia que essa primeira história era um capítulo de introdução da história. Mas ao continuar a leitura, e descobrir que as histórias não são seriadas, apesar dos personagens serem recorrentes, vi que tinha algo especial em mãos. Raro autores pensarem em criar histórias curtas para um álbum hoje em dia. E todas as histórias possuem esse estilo, mas cada uma delas com um ritmo próprio, de acordo com  o tema de cada história.
Em Draconian os vampiros são o mais humanos que a maioria dos vampiros mostrados em outras mídias. E talvez esse seja o diferencial aqui (e o que me cativou nessa edição). OS vampiros vivem como pessoas normais, com profissões e vivências como as de quaisquer outras pessoas. Isso dá um ar de “Vertigo” às história, além de permitir que o leitor se identifique com as histórias. São hq’s cujo tema é mais mostrar como os vampiros vivem em nossa sociedade, como eles trocam de identidade com o passar dos anos, como conseguem dinheiro, se divertem, etc.
Não dá pra dizer qual das histórias contidas neste volume é a melhor. Todas estão no mesmo nível. Um excelente trabalho que não deixa nada a desejar à nenhum grande artista dos quadrinhos. Mas se eu posso eleger uma que tenha sido a minha favorita, é “Você Deve se Lembrar” passada na França ocupada pelos Nazistas durante a Segunda Guerra.
O traço de Paulo César Farias é tão bom quanto o dos desenhistas que trabalham em grandes editoras(aliás, ele já desenhou publicou nos EUA). Mas além do belo traço, o conhecimento e controle do “storytelling” é o que faz o leitor entrar no clima das histórias do universo de Draconian.
Com uma excelente qualidade gráfica, lombada quadrada e papel couchê, a revista possui 126 páginas, e foi lançada de forma completamente independente. Para adquirir um exemplar, basta ir à alguma loja de quadrinhos, ou entrar em contato com Paulo César Farias. Veja os links abaixo, e boa leitura!

domingo, 22 de junho de 2014

MONSTER


MONSTER, um dos melhores mangás adultos sendo publicados atualmente no Brasil. Leia minha crítica aqui:


MONSTER, de NAOKI URASAWA, começa de forma estranhamente genial. Estranhamente, porque o primeiro volume não apresenta o mote de toda a saga. É como um prólogo super estendido.  Ele começa nos anos 80, e nos mostra Kenzou Tenma, um jovem médico japonês que vive na Alemanha, em busca de crescimento profissional. Um dos melhores neuro cirurgiões do país, ele vive sob uma tensão ética, pois ele é um dos poucos médicos do hospital em que trabalha que faz juz ao juramento de Hipócrates, a ponto de, quando precisa escolher entre salvar a vida de uma criança e do prefeito de Düsseldorf, escolhe o primeiro, arruinando sua carreira no hospital, que é dirigido por um home que pensa mais em uma carreira do que nos pacientes.
Essa escolha de Tenma faz com que o diretor passe a assediá-lo de forma a acabar com sua carreira no hospital. Mas o menino salvo não é um paciente qualquer. Ele foi encontrado em uma cena de crime. Seus pais foram mortos, e apenas sua irmã gêmea estava ilesa no local. E, mais de uma década depois, esse menino, Johan, pode ser um dos mais cruéis e inteligente assassinos seriais da Alemanha, e cujos crimes o próprio Dr. Tenma é acusado de ter cometido, e passa a ser perseguido pela policia. Assim termina o primeiro volume, sem entrar em maiores detalhes da história, que além de prender o leitor, deixam pistas que serão retomadas durante os números seguintes.
Com um estilo que lembra seriados americanos, na linha dos clássicos “O Fugitivo”, e “O Incrível Hulk”, cada edição mostra o Dr. Tenma, foragido, andando pela Europa, atrás de Johan, e acaba encontrando pessoas pelo caminho, algumas às quais ele precisa ajudar, outras que acabam ajudando-o, além de doses do passado de Johan, e de outros personagens.
Urasawa conta a história de forma lenta, mas sempre deixando o leitor no ponto exato entre tensão e emoção. Alguns capítulos breves contam histórias isoladas que tocam fundo no leitor. Outras possuem um ritmo ágil, digno de filme de ação Hitchcokiano. Pra quem é acostumado com os mangás coloridos que preenchem a maioria das prateleiras da bancas brasileiras, ler MONSTER pode ser uma experiência diferente, pois este é um mangá dirigido ao público adulto. E a trama é tão bem amarrada que cada nova informação sobre Johan deixa o leitor tão confuso quanto os próprios personagens.
Outra qualidade desse mangá é a construção dos personagens. Todos são muito bem elaborados, com seus detalhes psicológicos, suas emoções, bem reais. É fácil se identificar com cada novo personagem que é acrescentado à história, e sentimos a falta daqueles que apenas estão estrelando alguns capítulos, e sabemos que não irá mais participar (ou, quem sabe, o autor esteja guardando para o final...)
MONSTER possui 18 edições. Em 2006, a editora Conrad publicou 10 volumes, mas cancelou. Agora, a Panini retomou a publicação, reiniciando desde o nº 1, que saiu em junho do ano passado, publicando bimestralmente, junto com 20th CENTURY BOYS, outra obra maravilhosa do mesmo autor, que falarei em breve aqui.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

SOBREONTEM & SEQUENCE SHOT


Duas HQs resenhadas juntas:

#Sobreontem, que reúne várias hq's e charges sobre os protestos de 2013;
SEQUENCE SHOT, ótima história feita como um "plano sequência" cinematográfico, de Geeg Tochini.

#SOBREONTEM 
No texto desta semana, vou comentar sobre dois lançamentos que adquiri no mesmo dia. Ambas hq’s nacionais produzidas por grandes artistas do meio. Saiba mais e corra atrás de um exemplar.
O primeiro, #SOBREONTEM, é um “quase fanzine” reunindo grandes artistas do cenário das hq’s nacionais com histórias, charges, e textos sobre as manifestações que ocorreram no Brasil em junho. As manifestações que começaram contra o aumento das tarifas dos transportes, mas acabaram ganhando proporções maiores quando a violência policial passou dos limites, e o povo decidiu ir às ruas para se manifestar contra todos os seus direitos que andam ultimamente sendo violados.
Vários quadrinhistas do país se manifestaram, inicialmente em seus sites e páginas no Facebook, em trabalhos que foram muito compartilhados. Alguns dias depois, surgiu essa revista, sem fins lucrativos, que reúne alguns desses trabalhos.
Desde histórias sérias que mais se assemelham a manifestos, até charges humorísticas satirizando os acontecimentos, a mini revista reúne 19 artistas, entre eles Laerte, Gabriel Bá, Fábio Moon, Rafael Albuquerque, Fido Nesti,  entre vários outros, em uma revista em formatinho, com ótimo acabamento gráfico.
A revista foi oficialmente lançada durante o Multiverso ComicCon, em Porto Alegre, e está a venda apenas em eventos de quadrinhos, custando apenas o preço de custo de R$ 5,00. E o dinheiro arrecadado será doado ao Movimento passe Livre.
E o que eu achei da revista? Além de uma ótima leitura, essa edição é um pequeno marco histórico, pois marca o momento em que o país passa, é um registro em quadrinhos dos acontecimentos. E um grande ponto positivo, é que os envolvidos não apenas estão fazendo hq’s sobre o assunto, mas mostrando seus posicionamentos, que são os mesmo de cada brasileiro no momento.



SEQUENCE SHOT
Uma grata surpresa essa edição produzida por Greg Tocchini. Uma edição com uma premissa ousada, que é contar uma história sem diálogos, e feita como se fosse um filme em plano sequência.  Na linguagem fílmica, um pano sequência é quando a cena transcorre e a câmera passeia por ela sem cortes. Fazer isso em uma HQ pode parecer impossível, afinal, as elipses são parte da estrutura dela. Mas Tocchini conseguiu.
Esta edição mostra uma história sem grandes explicações, que coloca o leitor já no meio da ação. Se há um personagem principal, é uma maleta vermelha que vai passando de mão em mão.  A primeira página já abre a história de forma genial, com um homem em  um quarto, observando outro prédio, onde há uma mulher, aparentemente uma prostituta, com um homem que coloca uma arma dentro da maleta cheia de dinheiro. Ele sai do quarto tranquilamente, e vai até seu carro. Até que um acidente faz com que a mala passe para as mãos de outro personagem, e a ação começa.
Sem diálogos (apenas algumas onomatopeias, e símbolos representando palavras em um balão), a HQ prende o leitor não apenas por sua proposta diferenciada, mas pelo bom uso do ritmo narrativo na trama. Greg alterna momentos em que a história deve ser fluida com os momentos mais “corridos” da ação. A história consegue, quase que totalmente, nos fazer sentir como se estivéssemos vendo uma única cena, com a “câmera” acompanhando os personagens.
Nem sempre a narrativa em plano sequência funciona. Em alguns momentos, na hora de virar as páginas, há uma leve quebra. Mas provavelmente é por estarmos acostumados com a leitura tradicional de uma HQ. Uma segunda leitura pode corrigir isso, quando o leitor se aprofunda mais na história. De qualquer modo, o resultado é uma HQ inspirada e imperdível.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

ZDM - TERRA DE NINGUÉM


ZDM, uma hq distópica sobre um futuro onde Nova Iorque não faz parte dos EUA, se tornando um território em guerrilha constante, e onde o jornalista Matt Roth precisa sobreviver. Leia sobre ela aqui:

Todo dia é 11/09”, diz uma pichação na primeira edição da série. E, ao ler essa HQ de Brian Wood, parece que é isso mesmo. Ficamos com a sensação de que a realidade que vemos pelos meios de comunicação não é bem assim, e que podemos estar vivendo algo completamente diferente, sem nos darmos conta. Esta HQ é considerada uma das melhores alusões à guerra do Iraque, mas pode ser sobre qualquer guerra, qualquer revolução.
Brian Wood era um sucesso promissor no mundo das hq’s quando, em 2005, lançou DMZ, pelo selo Vertigo, da DC Comics. Embora seus trabalhos posteriores não mostrem que ele amadureceu como artista, algumas de suas hq’s são excelentes. Este, juntamente com LOCAL, é um dos bons trabalhos do desenvolvedor do game GTA.
“DMZ” é uma sigla para “DeMilitarized Zone”, ou seja, “Zona DesMilitarizada”, um local que fica entre  duas forças em guerra, uma espécie de “zona neutra”, ou, comona HQ, uma zona sem pátria.
A história mostra uma realidade alternativa, onde uma nova guerra civil nos EUA faz com que a ilha de Mahnattan, em Nova Iorque, se isole do restante do país, tornando-se a Zona Desmilitarizada do título. A guerra ocorre entre o governo “oficial” dos EUA, e um exercito dos “Estados Livres.” Essa guerra, como poderia acontecer de verdade, possui várias nuances bastante obscuras. Principalmente devido aos conglomerados da mídia, manipuladora dos fatos.
A história começa com o jovem fotojornalista Matty Roth, que, enviado para ser assistente de um grande repórter, acaba sendo pego no meio de um ataque, quando entra em Manhattan, ficando preso no local. Procurando por sobrevivência, ele acaba tendo uma forma de contato com os habitantes que ficaram no local, e descobrindo que a realidade não é bem como a mídia mostrava, nem como seus patrões queriam que ele noticiasse.
As primeiras edições são focadas principalmente em Matty se adaptando ao novo local, e descobrindo como são as coisas na ZDM. Ele é o elo com o leitor, que acaba vendo a verdade sobre a guerra junto com ele. Na primeira edição, por exemplo, muitas das informações sobre a guerra civil vem de jornalistas e militares, e depois vemos as coisa pelos olhos dos moradores da ilha. Em uma das primeiras edições, por exemplo, vemos Matty descobrir que um grupo considerado como terrorista, na verdade, são pessoas que lutam para garantir a sobrevivência de animais do zoológico de NY.
Também temos Zee, a primeira pessoa que fica amiga de Matty quando ele “desembarca” por ali. Ela é a personagem que fica abrindo os olhos dele, além de cuidar deles nos momentos mais difíceis, e ensiná-lo como sobreviver por lá.
A revista não procura revelar “segredos” de como a guerra civil aconteceu, e como as coisas chegaram até tal ponto, mas mostrar os resultados dos conflitos, e como as pessoas lidariam com uma situação dessas. Mas o que mais chama atenção é o modo como a mídia lida com os fatos, manipulando não apenas como noticiarão as coisas, mas agindo como uma organização secreta. Matty, que na edição nº 6 é resgatado da ilha pela emissora onde trabalha, e imediatamente é “contratado” como “correspondente de guerra” oficial deles, se vê usado por eles de forma explícita. Ele se questiona o tempo todo sobre qual é a realidade desse conflito, e que interesses podem haver por trás de tudo. Pretendendo ser um porta voz da realidade da ilha pela emissora, ele acaba se desvinculando dela, e se engaja na luta das pessoas do local. Afinal, como ele descobre no segundo arco da revista, o exército americano pode tentar um novo golpe para tomar a ilha a qualquer momento.
Os desenhos, na maioria do desenhista italiano Riccardo Burchielli são um espetáculo a parte. Com um estilo “sujo” para os padrões americanos, fazem o leitor se sentir como se estivesse lendo alguma saga da revista Heavy Metal. Ele sabe como criar uma ambientação de um local pós-guerra, com cenários destruídos, destroços pelas ruas, etc. E com um ótimo domínio de narrativa, dando ao leitor o ritmo exato entre os momentos de tensão com os de reflexão dos personagens.
No Brasil, a série foi inicialmente publicada pela Editora Pixel, que publicou as primeiras 10 edições dentro da “Pixel Magazine”. Após o cancelamento da revista, e a perda dos direitos do selo Vertigo pela mesma, a Panini Recomeçou a publicação desde o nº 1, na forma de encadernados. Apesar do preço nada convidativo, e vendido apenas em livrarias e lojas especializadas, esta é uma das melhores hq’s publicadas atualmente em nosso país.
Lá fora, a saga se encerrou no nº 72, conforme o próprio Wood planejava. E, com ou sem guerra no Iraque, sua mensagem principal continua atualíssima.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

MONSTRO DO PÂNTANO - RAÍZES


Primeiro volume com as primeiras história do Monstro, feita por seus criadores originais. Leia minha resenha aqui: 

MONSTRO DO PÂNTANO
Um dos melhores lançamentos deste semestre pela Panini foi este encadernado do Monstro do Pântano. Contendo as edições originais da saga da criatura, escrita e desenhada por seus criadores Len Wein, e Berni Wrhigtson, estas histórias não são apenas o marco inicial na história daquele que, sem quere, seria um dos pilares do amadurecimento dos quadrinhos americanos, mas pedra fundamental da criação do selo Vertigo.
Claro, a criação do selo dependeu inicialmente da fase escrita por Alan Moore, que foi quando as histórias começaram a ganhar seu teor adulto. Mas isso não quer dizer que as histórias originais de Le Wein sejam infantis, ou mero lugar comum. Pelo contrário. Para quem, como eu, nunca havia lido nada dessa fase inicial, essas histórias surpreendem bastante, pois elas possuem um estilo bastante controverso, se comparado à maioria das HQs da época.  Talvez pelo fato de seu editor na época ser Joe Orlando, que já passou pela célebre editora EC Comics, o maior nome dos quadrinhos de terror dos anos 50, o que pode ter contribuído para isso.
Este encadernado publica as primeira 6 edições da revista do Monstro, mais a sua primeira aparição, cerca de 1 ano antes, em House of Secrets # 92. Há ainda um  texto introdutório do próprio Wein sobre a criação do personagem, e porque, ao dar um título à ele, foram feitas modificações em sua origem, sua identidade, e na época em que as histórias se passam.
Agora, voltando a falar sobre essas histórias, para quem conheceu Alec Holland através da fase Moore, é interessante ver como o bruxo inglês respeitou toda a essência do personagem. Ele pode ter levado as histórias para outros patamares, mas as características básicas de todos eles estão ali. Toda a base. Chega a ser estranho ver como surgiram todos os temas recorrentes da serie, que pra quem leu a fase posterior já conhece bastante, surgindo nas histórias. Tomamos conhecimento com Alec e Linda Holland, em sua vida de casal cientistas, as organizações que estavam atrás deles, e de sua fórmula biorrestauradora, e como os personagens coadjuvantes vão surgindo, se conectando, e fazendo parte da saga do monstro aos poucos.
Mas esta edição não é imperdível apenas para os fãs da fase Vertigo do personagem. Não se trata apenas de uma revista feita para que a coleção de muitos fã da fase “Moore-em-diante” completem suas coleções. O que torna esta edição realmente um clássico é o fato de suas histórias serem realmente boas. Elas não envelheceram nem um pouco, apesar de terem sido produzidas décadas atrás. Elas possuem um frescor, que é como se fossem hq’s feitas hoje em homenagem aos clássicos.
Wein possui um estilo de ir conduzindo o leitor lentamente pelo cenário da história. Ele só conta o suficiente para que entendamos a história até aquele momento, deixando várias informações para nos mostrar mais tarde, quando do clímax da história. É como ver um episódio(bom) da série “Supernatural”.  Um pé no estilo clássico dos contos de horror, mas com um jeito moderno de ver essas situações.
E o estilo de Berni Wrightson, não por acaso, virou sinônimo de desenho de HQ de terror. Seu estilo é moderno nos ângulos e enquadramentos, mas ao mesmo tempo com uma finalização “suja”, que remete às hq’s antigas. E o domínio da narrativa é tanta que o leitor segue com os olhos exatamente o que o artista quer mostrar, sem desvios para a página seguinte. Só não é melhor devido às cores, que na época, não eram devidamente valorizadas pelas editoras. Quem entende dos bastidores das HQs, sabe que foi apenas após Neal Adams, em meados dos anos 70, que revolucionou o conceito do uso das cores nos quadrinhos. Antes disso, as cores eram editadas de uma forma porca, mesmo.
E quanto à edição da Panini? Nota 10! O que alguns leitores mais chatos podem questionar, que é o fato de o encadernado foi “cortado” em 2 volumes, enquanto nos EUA toda a fase foi publicada em uma única edição. Eu, particularmente, acho melhor, pois além de ser desconfortável ler um livro enorme nas mãos, ao dividir em dois volumes, o preço fica mais acessível. Fora, isso, também conta o formato, igual ao de “Hellbazer Origens”, ou seja, papel Pisa, capa cartão com orelhas, e preço camarada.
Se você é um amante do selo Vertigo, fã da criatura do pântano, ou apenas que ler ótimas histórias de terror, essa edição é uma ótima pedida.

sábado, 14 de junho de 2014

SWEET TOOTH


SWEET TOOTH, uma das obras mais tocantes do selo Vertigo nos últimos tempos. Leia minha resenha aqui: 

SWEETH TOOTH
Uma análise sobre esta interessante HQ

Quando a Panini lançou SWEETH TOOTH no Brasil, eu fiz um breve comentário sobre a primeira edição. Agora, tendo lido os 3 volumes publicados, volto a escrever, pois modifiquei um pouco a minha opinião sobre esta obra.
Sweeth Tooth é escrita e desenhada por Jeff Lemire, um autor “novato” que está se tornando a nova sensação da DC comics, escrevendo pra vários títulos. Sua sensibilidade para com as histórias é notável já na primeira leitura. Ele sabe como construir e conduzir histórias, dando um clima de realismo, e comum ritmo naturalíssimo. Quem acompanha o Homem Animal dele pode perceber isso.
Nesta saga, mais autoral, ele conta a história de Gus, um menino híbrido humano com chifres de cervo. Ele vive em um mundo pós-apocaliptico onde uma praga sem cauã conhecida dizimou grande parte da população. Os sobreviventes vivem como podem, formando milícias selvagens, grupos de saques, etc. Gus pode ser a chave da causa, e talvez da cura para a praga.
Tudo começou cerca de 7 anos antes, com a praga. Após esse acontecimento, todas as crianças começaram a nascer com partes de animais no corpo. Algumas dessas crianças são trancafiadas, e usadas em laboratórios, para testes.
A história começa quando o pai de Gus morre, e o menino fica só em sua casa. Atracado por caçadores, ele é salvo por Jepperd, um grandalhão mau humorado, o tipo de cara de poucos amigos. No primeiro volume, ele engana o menino e o leva para uma instalação científica, onde ele será estudado de várias formas. Esse primeiro volume possui um ritmo estranho, tudo acontece muito rápido, e não há muito tempo para nos apegarmos aos personagens. Talvez eu ainda tinha Y – O ÚLTIMO HOMEM na cabeça, e achei que a nova revista seria igual  mostrando a dupla em sua peregrinação pelo mundo desolado. Ledo engano.
A partir do segundo volume, fica claro que essa HQ n ao é mais uma nova versão do clichê de “um grupo de pessoas andando pelo mundo desolado”. O segundo volume é focado em Gus sendo analisado por um cientista da base onde ele se encontra preso, enquanto Jepperd tenta acabar com a vida, até ter uma crise de consciência, e, no final, decide voltar e salvar a vida de Gus. Agora, as coisas acontecem com um novo ritmo, mais calmo, mais focado em cada acontecimento isoladamente. A trama vai crescendo aos poucos.
O terceiro volume mostra Gus tentando fugir do local, enquanto Jepperd junta uma equipe para invadir o local e salvar as crianças híbridas. Algumas revelações são feitas, tudo de forma quase casual, o que envolve ainda mais o leitor.
E o que pode ser considerada a melhor qualidade desta saga, é a concisão. Com duração de apenas 40 números(e 6 encadernados) nos EUA, Lemire vai direto ao ponto, sem ficar enrolando em diálogos forçados e banais. Talvez pelo fato de seus personagens serem um acriança e um brutamontes que não gosta de ninguém, a história é cheia de ação. O que parecia um defeito no começo, se mostra agora um recurso narrativo competente.
Talvez, por sua premissa esquisita, Sweeth Tooth não se torne uma obra aclamada, como foram “Y”, “Ex-Machina”, ou “100 Balas”. Mas quem se atrever a ler, não vai se arrepender.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

JUIZ DREDD MEGAZINE


Minha resenha, e crítica da primeira edição da JUIZ DREDD MEGAZINE, uma revista que já caiu nas graças dos leitores brasileiros.


JUIZ DREDD MEGAZINE
A volta do Juiz mais implacável dos quadrinhos britânicos, em uma revista que pode ser tornar uma das melhores revistas mensais do país. Se durar...

Quem não conhece o Juiz Dredd? Hoje em dia, ele tem alguns fãs no nosso país, mas a situação era bem diferente anos atrás. Graças aos seus filmes, ele se tornou conhecido por aqui, apesar das poucas publicações em quadrinhos dele que saíram por aqui.
Criado em 1977 pelo roteirista John Wagner, e pelo desenhista Carlos Esquerra, e com um apoio imprescindível do editor Pat Mills, Dredd é um juiz que vive em um futuro onde uma guerra nuclear acabou com quase todo o planeta. Os EUA ficaram divididos em duas grandes cidades, Mega City-1 e Mega City-2, separadas por um deserto radiativo. Nesse mundo, a violência e o desemprego imperam, e para conter a criminalidade, foi criada uma força policial especial, os juízes, que tem o poder de julgar e sentenciar crimes á seu bel prazer (na verdade, sua obrigação profissional, mas deu pra entender, né?).
O mais implacável dos juízes é Joe Dredd, o protagonista da revista. Implacável não no sentido “Wolverínico” da palavra, mas ele é o que mais leva seu profissionalismo ao pé da letra, aplicando a lei de uma forma quase não-humana. Ele não vê compaixão alguma quando está cumprindo seu dever de prender criminosos, ou de vigiar os cidadãos para impedir os crimes.
Suas histórias são bastante sarcásticas, com um humor fino digno dos ingleses, que fazem de Dredd hq’s que parodiam o governo inglês da época, quando era dominado com mão de ferro por Margareth Tatcher. Quem estuda política vai reconhecer que muitas das “soluções” usadas no futuro onde Dredd vive são praticamente idênticas às ideias mirabolantes que aquele governo queria impor para os cidadãos desempregados, estrangeiros, portadores de Aids, etc.
Assim, há histórias onde não há empregos, então, os cidadãos se juntam para destruir robôs trabalhadores, e poderem trabalhar um pouco, mas com cuidado para os juízes não aparecerem, senão eles seriam presos. Ah, e se eles ficassem vagabundeando por não ter nada pra fazer, podem ser presos por vadiagem. E se passassem o tempo todo dentro de casa, podem ser presos por suspeita de ser criminoso conspirando, ou qualquer outro motivo.
Crítico, e divertido. Principalmente divertido.
Dredd no Brasil foi publicado no final dos anos 70, pela editora EBAL, que publicou uma revista chamada “Ano 2000”, que publicava as hq’s da revista “2000 AD” (o mesmo formato que a Mythos retomou com a nova publicação). Essa publicação teve vida curta (apenas 10 edições), e Dredd só foi voltar às bancas do nosso país em 1992, na mini série “Batman e Juiz Dredd – Julgamento em Gothan”, em uma história onde Batman viaja ao futuro, caçando o Juiz Morte, e acaba em confronto com Dredd, em uma trama cheia das paranoias e ironias típicas das histórias do Juiz.
Depois de outros encontros com vários personagens (Lobo, Aliens, Predador, e mais um monto com o Morcego), Dredd teve algumas edições especiais publicadas, e sumiu das bancas. Até agora.
A NOVA REVISTA.
Finalmente, vou comentar a nova publicação. E digo que ela é digna de nota. O único porém é o preço. R$10,90 por apenas 68 páginas pode fazer com que a revista não tenha vida longa. E se ela não durar, não adianta a editora colocar a culpa nos leitores, dizendo que “foram os leitores que não compraram a revista”. Acredito que a justificativa do preço seja o tipo de papel. Bem, um papel com “menos qualidade” não seria nada mal. Até porque o “formatão” da revista faz com que ela fique “toda mole” nas nossas mãos. O papel Pisa Brite talvez não seja de todo mal.
Bem, vamos ao conteúdo. Lendo, me senti como se estivesse encontrado alguma edição da revista Heavy Metal que falta em minha coleção. Várias hq’s curtas, escritas com o esmero diferenciado dos ingleses, quase todas com elementos de ficção científica. Além do Dredd, que abre a revista com uma HQ irônica, mas cujo chamativo acaba sendo a arte de Brian Bolland, temos outros personagens, a maioria inéditos por aqui. ÁREA CINZENTA, sobre um grupo de “policiais” que vigiam uma área de quarentena para extra terrestres que vem ao nosso planeta, e precisam ficar nesse local até que os cientistas saibam que não há perigo de contaminação para nós. Mas alguns deles podem ficar meses lá dentro, o que gerou a criação de uma sociedade no local que mais lembra uma favela. No começo, essa história não parece grande coisa, e o personagem principal parece uma versão do Dredd, mas depois ela nos pega de um jeito que dá até raiva ver que ela tem continuação.
O que pode ser um pequeno defeito para alguns leitores, é isso. Muitas histórias são capítulos iniciais de um arco. Mas, apesar disso, os ingleses sabem como fazer um capítulo curto ser quase auto-contido.
Outro personagem inédito aqui é NIKOLAI DANTE. Um bandido galã que vive de pequenos furtos e trapaças em um mundo futuro onde a Rússia é um império global. Um belo traço, mas nada demais. O personagem não cativa. Mas a história é muito bem contada.
SLÁINE, que já teve uma de suas melhores sagas publicadas por aqui, pela editora Pandora Books, aqui tem sua primeira história (e inédita) publicada. Não gostei. Talvez por nunca te sido fã do gênero “espada e magia”, mas também porque o personagem não se parece com o que ele viria a se tornar em suas histórias posteriores. E com desenhos feios, em um estilo ultrapassado.
Agora, o melhor da revista, é DISTORÇÕES TEMPORAIS - CRONOCANAS, de Alan Moore e Dave Gibbons. Sou suspeito, por ser fã do mago barbudo, mas é impressionante como em apenas 5 páginas, ele criou a melhor HQ desta edição, conciso, mas completo, cheio de reviravoltas e com os paradoxos de viagens no tempo das grandes e clássicas histórias de FC, em um roteiro enxuto e amarrado.
A história que fecha a edição, é novamente com Dredd, mais séria, a história coloca Mega City nas mãos de terroristas que pretende explodir a cidade. Eles explodem a primeira bomba, agora, cabe aos juízes irem atrás dele antes que ele destrua a cidade.

Bem, basicamente, é isso. Um texto mais longo desta vez, pois além da revista, comentei um pouco sobre a história do Juiz Dredd. Agora, é torcer pra que a revista tenha uma vida longa em bancas. E, no meu caso, vou torcer também pra que o preço diminua.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

DR. ESTRANHO & DR. DESTINO


Considerada uma das melhores história de ambos os personagens, essa HQ que foi recentemente relançada pela Panini. Leia minha resenha sobre ela aqui:


TRIUNFO E TORMENTO
Um breve comentário sobre uma HQ dos anos 80 que a Panini está trazendo de volta.

Em sua política de republicar alguns clássicos em formato de luxo, a Panini tem acertado com alguns lançamentos. Depois de esgotar (ou não) a lista de clássicos absolutos, nos mais diversos formatos, a editora começou a republicar algumas histórias que, apesar de não aparecerem com frequência em listas de “melhores de todos os tempos”, são itens quase obrigatórios para os amantes de boas histórias.
Um desses itens é o recente “DOUTOR ESTRANHO & DOUTOR DESTINO: TRIUNFO E TORMENTO”, produzido nos anos 80, e que a editora Abril já havia publicado por aqui em janeiro de 1991. Eu tenho um exemplar, pois mesmo não sendo fã dos personagens, essa história é fantástica a ponto de eu considerá-la obrigatória na minha coleção.
A história, escrita por Roger Stern (um dos melhores escritores dos anos 80, infelizmente, sumido atualmente), e com desenhos de Mike Mignola (que ais tarde ficaria célebre como o criador de Hellboy), é uma daquelas histórias que possuem um ar de “história definitiva” do personagem. No caso, dos dois personagens.
A originalidade e criatividade já começa pela proposta: um herói, e um vilão que não é habitualmente o “seu” vilão, e além do mais, eles não estão um contra o outro, mas lutando lado a lado. A história começa quando um mago conhecido como “Velho Genghis” sente que sua vida está pra terminar no plano terreno,por isso, ele convoca todos os principais magos do planeta para participarem de um torneio que vai decidir qual deles receberá o título de “Mago Supremo”. Entre esses magos, logicamente, se encontram os dois Doutores que dão título à revista.  Na introdução da história, é revelado que Tanto Stephen Strange (o Dr. Estranho) quanto Victor Von Doom (o Dr. Destino) haviam encontrado com o Velho Genghis no início de suas “carreiras”, em uma bela menção à história de origem de cada um deles. Em uma ótima sacada do roteiro, somos apresentados aos personagens dessa forma, o que além disso, nos aproxima do Dr. Destino, já que, como ele mesmo diz no começo dessa história, ele não está lá com intenções vis, mas como mais um dos magos convocados. E também, como personagem DESTA  história, ele não está ali como vilão.
Após  torneio, onde os vários magos usam seus artifícios, seus conhecimentos e experiências, algo inusitado acontece: O Dr. Estranho, o vencedor, precisa conceder uma dádiva à quem mais tiver continuado de pé durante a provação, e a pessoa que conseguiu foi o Dr. Destino. Mas, ao contrário do que se possa imaginar por conhecer o imperador da Latvéria, ele não quer uma dádiva para planos de conquista, mas quer ajuda para encontrar e salvar a alma de sua mãe, condenada ao inferno, onde está nos reinos de Mefisto (o demônio do universo Marvel).
Assim, começa uma história muito bem contada, que ainda nos apresenta novos fatos sobre as origens de cada um dos personagens, e onde Von Doom nem é tão vilão assim. Ou melhor, ele deixa de ser um vilão bidimensional como muitos personagens de quadrinhos, mas passa a ter uma personalidade sólida, a qual podemos até mesmo compreender por que ele age da forma como age.
Roger Stern criou uma história que possui os elementos que os quadrinhos apreciam estar passando nos anos 80, onde a inocência dava lugar à uma certa maturidade. Maturidade essa que muitos escritores entenderam como violência explícita nos anos seguintes. Mas aqui, não há nada disso. Alguns leitores mais jovens, acostumados com certas nuances das atuais hq’s (sendo eufemista, pra não ofender ninguém) podem não gostar do estilo dessa história, com um ritmo lento, mais focado nas ações internas dos personagens e nos diálogos. Mas quem se deixar envolver pela trama vai se surpreender com um completo domínio da narrativa para deixar o leitor dentro da cabeça de cada personagem.
O enredo é composto de vários “blocos” narrativos, como se fossem pequenos capítulos, cada qual com sua própria estrutura, mas todos bem amarrados ao enredo principal. Roger Stern, como eu disse, foi um dos melhores escritores de hq’s dos anos 80. Suas fases em vários personagens Marvel foram marcantes. Ele conseguiu fazer com que suas histórias se tornassem mais famosas que seu próprio nome. Qual leitor de Capitão América daquela época não reconhece a fase em que o Capitão é coagido a se tornar candidato á presidente dos EUA como uma das melhores que o herói teve? E as histórias do Homem Aranha? Se mais escritore tivessem a sensibilidade que balanceia aventura com emoções que este “Triunfo e Tormento” possui, as atuais hq’s não seriam tá depreciadas, quando comparadas com os bons tempos.
E a arte desta edição, por Mike Mignola? Ainda que não esteja do mesmo jeito que hoje, seu traço é inconfundível. Com menos áreas chapadas de preto, mas ainda assim, todo fã de seu belo traço vai se maravilhar com as páginas dessa HQ. E ainda possuem um recurso brilhante: enquanto os personagens estão no plano terreno, todas as páginas possuem requadros nas bordas. Quando os “doutores” entram no Inferno, não há requadros, e a arte “vaza” por toda a folha. Parece bobagem, mas dá uma outra sensação de imersão do leitor na história.
Depois de ler essa história, acho estranho que ela nunca tenha feito parte Ed nenhuma lista de melhores dos anos 80. Pra quem nunca leu, tenho certeza que vai adorar a leitura.

sábado, 7 de junho de 2014

SOPA DE GRAN PEÑA


Adoro os irmãos Hernandez! E recomendo suas hq's pra todo leitor de boas histórias adultas! Leia minha resenha dessa saga aqui: 

SOPA DE GRAN PEÑA
Quem gosta de hq’s adultas, alternativas, underground, e de qualidade, conhece, ou pelo menos já ouviu falar de LOVE & ROCKETS, a hq produzida pelos irmãos Hernandez.  Eu mesmo já falei sobre algumas das histórias desses fantásticos irmãos aqui. Hoje vou comentar mais um trabalho de um deles.

GILBERT HERNANDEZ. Embora eu prefira o trabaho de seu irmão Jaime, não posso dizer que as hq’s de Gilbert (ou Beto, como ele assina nos rodapés de algumas páginas) sejam inferiores. Pelo contrário, elas apenas possuem uma sensibilidade diferente da do irmão, se é que psso chamar essa diferença entre os dois assim. Além do traço ter um acabamento final diferente, as histórias de Gilbert na revista eram focadas em uma vila imaginária chamada PALOMAR.  Em suas várias histórias, acompanhamos os habitantes do local, em várias fases de suas vidas, em acontecimentos comuns entre eles, ou apenas algo pessoal e íntimo de um ou outro morador da vila.
No Brasil, algumas dessas histórias foram publicadas pela editora Record, em 1991, nas páginas da revista de curta duração LOVE & ROCKETS, além de álbuns avulsos, como “Crônicas de Palomar”. Em 2004, a editor Via Lettera publicou alguns álbuns de Love & Rockets, sendo o primeiro volume dedicado a Palomar, chamado “Sopa de Gran Peña”, que é o nome original da série (e, que, na editora Record, havia sido chamada pelo nome em inglês “Heartbrask Soup”). Publicando a série na ordem cronológica da vida dos protagonistas, a série começa com alguns dos personagens ainda crianças. Ao longo das páginas, acompanhamos esses personagens se tornando adultos, tendo casos amorosos, filhos, problemas, mortes, e tudo o que acontece na vida real.
De certo modo, essa HQ se parece muito com uma novela. As tramas são baseadas em acontecimentos cotidianos. Talvez com um “tem pero” latino que deixe tudo mais saboroso, mais cativante para o leitor. Mas ainda assim, são histórias sobre nada mais que o cotidiano. Mas ao mesmo tempo que são histórias sem grandes aventuras, são recheadas do mais puro e cativante drama humano, e de um realismo que nos conquista de imediato. É impossível ler e não se sentir próximo à algum dos personagens.
Outra característica dessas histórias são o modo como Gilbert muda o tempo todo de personagens, fazendo com que um coadjuvante em uma história seja o protagonista de outra, e quase sempre uma ação aparentemente insignificante, que é apenas um detalhe em uma história se torna o Leitmotiv de outra. Eu confesso, como não li o álbum todo de uma vez, quando retomava a leitura, acabava voltando umas páginas só pra relembrar de um acontecimento que voltava anos depois, em outro capítulo.
Mas o melhor mesmo dessas histórias, o que nos cativa de verdade, são as mulheres. Não apenas por elas serem desenhadas maravilhosamente atraentes, mas porque são personagens fortes, seguras, dominantes, que movem e transformam tanto as histórias quanto as vidas dos personagens masculinos. E com isso, leva o leitor junto...
Quanto às HQs contidas nessa edição com mais de 140 páginas, não dá pra destacar alguma, pois são todas no mesmo nível. E diferenciadas. Ora temos uma história com um tom de suspense, ora apenas um pequeno evento cotidiano, depois um drama, etc.
A revista, como mencionei, foi publicada por aqui em 2004, por isso, só pode ser encontrada em sebos e lojas de quadrinhos. Se achar por um bom preço, compre, pois vale a pena. Se vale!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

SALÕES DE HUMOR

Abaixo, as minhas participações nos salões de humor. Não como premiado, mas selecionado, o que já me enche de orgulho, afinal, os trabalhos ficaram expostos, e tudo o mais, o que já me deixa feliz.


2008 - O trabalho acima foi selecionado no Salão de Humor de Volta Redonda, categoria "História em Quadrinhos."


2010 - Também na categoria "História em Quadrinhos", o trabalho acima foi selecionado no Salão de Humor de Volta Redonda.


2010 -  O cartum acima foi um dos selecionados na categoria especial "Noel Rosa." Salão de Humor de Volta Redonda/RJ.


2011 - Outro selecionado em categoria especial, "Centenário de Oscar Niemeyer", também no Salão de Humor de Volta Redonda.


2013 - O cartum acima participou da exposição "Traços Pelos Direitos Humanos", promovido pelo Instituto Henfil.


2013 - Acima, charge selecionada no Salão de Humor de Piracicaba.

E abaixo, um vídeo que fiz cobrindo a Exposição de Humor de Santo André, onde participei, em 2012.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

BATMAN DE NEIL GAIMAN


"O que aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?", é uma HQ que "finaliza" a carreira, e a vida do Batman. Um conto imaginário escrito por Neil Gaiman. Saiba mais lendo aqui:


BATMAN DE NEIL GAIMAN
Encadernado com as histórias escritas pelo criador de Sandman com o Homem Morcego.
Talvez os fãs mais radicais podem não gostar do que vou falar sobre Neil Gaiman, mas verdade seja dita: ele é um grande fã de Alan Moore, “copiando” algumas ideias dele em suas histórias. Ele coloca vários elementos das obras do barbudão em suas histórias. Felizmente, ele o faz de forma competente, e sem ficar dizendo que “não é nada disso”, como alguns autores fazem. Assim, quando a DC resolveu matar Bruce Wayne, em 2009, e chamou Gaiman pra escrever o que seria a história final do Homem Morcego, Gaiman fez uma homenagem ao que Moore fez quando, em 1986, foi chamado para fazer a história final do Super Homem. Então, enquanto a HQ de Moore se chamou “O que aconteceu ao Homem de Aço?”, a de Gaiman se chama “O que aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?”.
Mas, felizmente, as semelhanças param por aí. Gaiman, sendo competente, sabe que não seria nem um pouco legal se ele se limitasse a copiar a história clássica.
Nesta bat-história, o Homem Morcego morreu. Não a mesma morte que ele teve, na época, nas histórias de linha, mas uma morte imaginária, que nem seu espírito lembra como foi. Nos “bastidores”, seu espírito conversa com alguém que lhe mostra seu funeral. Nele, vários personagens, entre amigos, e vilões, comparecem a uma sala no beco do crime (local onde os pais de Bruce Wayne foram assassinados) para prestar suas homenagens.
Nas duas partes da história (que foi originalmente publicada em duas edições, nas revistas Batman 686 e Detective Comics 853) vemos alguns vilões contando suas versões para a morte do herói, cada um assumindo a autoria da morte dele. Entre os amigos de Batman, ouvimos as histórias de seus vários sacrifícios pelo bem maior. Nessas, a mais curiosa é a versão de Alfred, que coloca toda a mitologia de Batman como mera atuação de atores para alimentar as neuroses de Bruce Wayne.  Ao final, o espírito que conversa com ele se revela, fazendo-o aceitar sua mortalidade, e o fato de ter se tornado um símbolo como persoangem.
Uma bela mistura de sua mitologia dentro das histórias, como a representação do personagem na cultura popular de nosso mundo real.
A arte de Andy Kubert é um show a parte. Quem conhece o desenhista sabe como ele é competente tanto no traço de personagens quanto na ambientação, narrativa, ritmo e composição de páginas. À tudo isso, ele acrescentou à esta HQ homenagens à todas as épocas e aos principais artistas e algumas histórias celebres do Morcego. A mulher gato, por exemplo, que é a primeira a contar sua versão da morte de Batman, é retratada na forma de suas versões desenhadas na “era de ouro” dos quadrinhos;  Quando o coringa conta sua versão, ela remete, tanto no roteiro quanto na arte, à “A Piada Mortal”, de Alan Moore, considerada como o confronto definitivo de Batman e Coringa; E em vários momentos, Andy usa o traço característico de artistas específicos que arcaram época para retratar os personagens. Assim, o Batman é desenhado como nos anos 30 e 40, ou com o traço “quadrado” de  Dick Sprang, de Jim Aparo, entre muitos outros. Quando Rã’s Al Ghul aparece, ele é desenhado com o traço idêntico ao de Neal Adams.
Ao final, temos uma bela história, contada com a competência de sempre de Neil Gaiman, que, sabiamente, não tenta ser a história definitiva do Homem Morcego, mas homenageia tanto o personagem quanto os próprios leitores, em sua relação com o personagem.
E, completando a edição, temos como “extras” os esboços de Andy Kubert para a HQ, além de outras histórias escritas por Gaiman para o Batman. Os extras já haviam sido publicados aqui dentro da revista mensal do Batman publicada pela Panini, quando a história havia sido publicada pela primeira vez, e quanto as outras hq’s, apenas uma delas eu não tenho  a informação se já havia sido publicada ou não por aqui. Trata-se de “Pavana”, publicada lá fora nos anos 80 na revista “Secret Origins”, e conta a origem da Hera Venenosa. As outras histórias são “Um mundo preto e branco”, que saiu na mini série “Batman Preto e Branco”, dos anos 90, e “Pecados Originais”, e “Quando uma porta”, ambas em uma edição especial de Secret Origins, Onde um programa de TV quer contar a visão dos vilões de Batman. Gaiman escreveu o “esqueleto” da trama, mostrando os bastidores do programa, e a história onde os produtores entrevistam o Charada, presente nesta edição. As outras histórias dessa edição especial, que mostram as origens do Pinguim e do Duas Caras ficaram de fora, pois foram escritas por outros autores. Apesar de ficar estranho ler a história sem as duas sequências, dá pra entendê-la assim mesmo, além do que a forma como a origem do Charada é contada é de uma forma bizarra, o que fez dela, na minha opinião, uma das melhores histórias com o personagem.
Mas o melhor dessa edição  especial é o preço. Publicada com toda a pompa das publicações “Panini Books”, ou seja, capa dura, e papel couchê, o preço é bastante convidativo, bem diferente do preço das publicações lançadas para comic shops e livrarias.
Dificilmente essa história vai se tornar um bat-clássico, como a HQ do Super escrita pelo Moore se tornou, mas com certeza um item obrigatório para fãs do Morcego.


segunda-feira, 2 de junho de 2014

TRÊS SOMBRAS


Uma belíssima HQ, que mais parece uma animação Disney/Pixar.
Excelente leitura recomendada! Saiba mais lendo minha resenha aqui:


TRÊS SOMBRAS
Uma das mais belas hq’s europeias a ser lançada por aqui nos últimos tempos.
TRÊS SOMBRAS,  de Cyril Pedrosa, é uma grata surpresa. Desconhecido do grande público no Brasil, o autor já trabalhou nos estúdios Disney como animador. Sabendo disso, dá pra perceber a influência do estúdio no seu traço, principalmente na composição dos personagens, e nos movimentos.
Esta HQ se passa em uma época indeterminada, que pode ser uma período medieval, mas que é também  atemporal. Não é mencionado onde e quando ela ocorre. Um mundo mítico, talvez? Não importa. O importante é o tema dela. E a forma como ela é narrada, em um misto de HQ adulta com fábulas infantis. Algo que pode agradar tanto os fãs de quadrinhos quanto aos admiradores dos desenhos da já citada Disney.
Em TRÊS SOMBRAS, Cyril Pedrosa conta a história de uma família que vive nesse local indeterminado, composta pelo pai Louis, pela mãe Lise, e pelo filho Joachim. Eles vivem tranquilos em sua casinha, cuidando da pequena fazenda, e se divertindo juntos, até o dia em que o pequeno Joachim é visitado por três sombras. A princípio, seus pais acham que é apenas coisa da imaginação de uma criança, mas ao olharem pra fora de casa, eles veem as sombras, na forma que parece ser a de três pessoas em montarias. Nos dias seguintes, eles continuam vivendo normalmente, até que as sombras voltam a aparecer.
O que as Sombras querem é levar Joachim. Apesar de não ficar claro o que elas são, elas representam a morte, e que o tempo de vida do pequeno filho do casal está próxima do fim. Mas seu pai se recusa a permitir isso, o que o faz seguir em uma viagem sem destino certo, para levar o filho o mais longe possível das Três Sombras, e assim, salvá-lo.
Em sua viagem, Louis e Joachim passam pela floresta, embarcam em um navio de passageiros, além de enfrentarem todo tipo de provação da natureza e humana. Tudo em uma busca obsessiva de Louis para levar o filho o mais longe possível das sombras. Eles passam por uma longa viagem, sempre com Louis se negando a aceitar a morte do filho.
Cyril Pedrosa nos conta a essa história de uma forma quase mágica, ao nos jogar em um mundo onde o simbolismo da aproximação da morte é tratado de um jeito especial, com ações dos personagens e situações vividas por eles, para nos fazer adentrar nesse mundo, onde  somente palavras poderiam explicar essa não aceitação de Louis, mas que, ao fazer uso de uma narrativa aristotélica, nos envolve muito mais. Não há em momento algum um narrador nos esclarecendo tudo através de recordatórios. A história é toda contada pelas ações, gestos e movimentos. E os desenhos mostram tudo com tamanha perfeição que é como se estivéssemos vendo atores interpretando em nossa frente.
E o traço usado por ele alterna as linhas simples e fluidas com traços grossos, quase rascunhados. Mas nunca de forma gratuita. As diferenças do traço são usadas quando a emoção que o autor deseja passar pede. Os momentos mais dramáticos são os que o traço adquire um estilo mais “feio”, mas cru. Ou mesmo lúdico, dependendo do momento na história, e da sensação que o leitor precisa sentir.
A HQ possui 268 páginas, mas o leitor vai se envolver de forma que vai ler tudo em uma só tacada. Aliás, é o que recomendo. E, como já foi dito, quem tiver filhos vai compreender melhor as nuances que só um pai pode sentir ao saber que a morte de um filho se aproxima. E entender as atitudes de Louis em não aceitar isso. Mas para o leitor que ainda não tem filhos, fica uma excelente leitura, envolvente e emotiva, mas sem ser piegas em momento algum.