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quarta-feira, 30 de abril de 2014

O ESCAPISTA


O ESCAPISTA é uma divertida homenagem ás várias eras dos comics, inspirada em um livro.
Leia mais sobre ela aqui:


O ESCAPISTA
Metalinguístico super herói nos leva à um passeio pela história dos quadrinhos. Ou quase isso.
Tem hq’s cuja ideia básica acaba sendo mais interessante que as histórias em si. Este é um caso. Se você começar a ler as histórias contidas nesta edição sem saber nada do que se trata, você pode achar que é verdade que ele foi um personagem clássico criado nos anos 40, e que foi um grande sucesso, apesar de hoje em dia, estar meio esquecido.
Mas, ao contrário do que parece, se você se deixar levar, ao menos um pouquinho, por essa mentira, fica mais legal. Aliás, desculpe-me, leitor, por já contar do que se trata a mentira. Mas não tive outro meio de começar este texto.
Bem, baseado em um livro de Michael Chabon, que é comentado em um texto no final da edição, sobre uma dupla de amigos que criam uma revista em quadrinhos nos anos 40, as hq’s são com as aventuras do personagem criado por eles. Enquanto eu lia essa edição, me lembrei da primeira HQ do Batman que li na vida, AS VÁRIAS FACES DE BATMAN, uma edição que tinha várias das mais representativas histórias do herói desde a primeira de 1939, até meados dos anos 70. Pois O ESCAPISTA é quase isso. Como se o personagem tivesse mesmo existido. Há uma história que seria sua primeira aparição, nos anos 40, escrita no estilo da época. E as histórias vão seguindo de acordo com as épocas em que teriam sido escritas. Após a primeira HQ, há um texto contando toda a história editorial do personagem.
Claro que, infelizmente, nem tudo é perfeito. Muitas das histórias, apesar de os roteiros tentarem emular o estilo da época, pecam por não ter o mesmo efeito com o traço. Fora Howard Chaykin, poucos artistas fazem com que o leitor imagine realmente estar lendo uma HQ de época. Talvez uma história passada durante a guerra do Vietnã tenha conseguido, mas é muito pouco.
Outro ponto contra a proposta da edição é o fato de o personagem Escapista não ser lá muito interessante. Como ele deve ser “genérico”, e representar todos os principais super heróis das hq’s, ele não consegue ter personalidade própria, sendo modificado à cada história. Claro, que, tendo o texto com sua “história editorial” como justificativa, dá pra entender que é de propósito, como realmente aconteceu com muitos heróis. Mas para além disso deveria existir algum traço de personalidade que fizesse o leitor simpatizar com ele. Não há. Assim, lemos uma revista sem nos importarmos de verdade com o personagem-título.
Mas isso quer dizer que as histórias são ruins? Não, apenas que o personagem não nos conquista. Pra não dizer que nem tudo é bom, há uma história que considero a grande pérola da edição, “Reinar o Inferno”, que tem roteiros do hiper competente Brian K Vaughn (Y – O Último Homem, e Ex-Machina). Essa história, além de emular com perfeição o estilo em que se passaria a história, consegue dar luz á um dos melhores personagens coadjuvantes, e ainda por cima, é uma história que brilha sozinha. Maravilhosa mesmo.
Outra que se destaca, é “Escape do Hospital”, com roteiro de Harvey Pekar. Mas talvez ela seja uma boa apenas pra quem conhece os trabalhos de Pekar, e já leu algo de American Splendor, ou sabe do que se trata por causa do filme “O Anti-Herói Americano”. Principalmente, pra que viu o filme. Afinal, a HQ é quase um epílogo pro filme. Se você não sabe, Harvey Pekar é um quadrinhista que ficou famoso com a revista American Splendor, sujos roteiros nada mais eram do que episódios de seu cotidiano quadrinizados por desenhistas do underground. E essa história é apenas mais um desses episódios. O Escapista está lá apenas como um coadjuvante de luxo. A história é do Harvey. Alguns anos após a produção do filme, Harvey está saindo do hospital, quando encontra o Escapista dentro e um ônibus, e aí...
Outro destaque é a última história que Will Eisner fez antes de falecer. 6 páginas onde o Escapista e o Spirit se encontram. Não é grande coisa como história, só serve pra quem é muito fã do Eisner (como eu. Confesso que foi o motivo que me levou a comprar esta edição). Vale a pena ler o Spirit no traço de seu criador original, depois de décadas.
Fora tudo isso, a proposta original acabou saindo mais interessante do que as histórias. Mas se o leitor não se importar com o fato de o personagem principal não ter carisma, dá pra apreciar boas histórias, onde o mais importante é a aventura e a diversão. Talvez isso já seja o suficiente...
Ah, mas há outra edição do Escapista que foi publicada no Brasil. Mas essa eu nem comprei ainda...

domingo, 27 de abril de 2014

LEXY COMICS


Texto que escrevi sobre a minha carreira de quadrinhista para o site Mauá Fácil. Leia aqui:

E, caso você não conheça a minha página no Facebook, curta-a aqui: 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

PETISCO APRESENTA


A primeira HQ que ajudei no financiamento do Catarse. Um ótimo apanhado dos melhores autores da nova safra de quadrinhistas independentes. Conheça a revista lendo meu texto aqui:

PETISCO
Coletânea de quadrinhos oriundas do site, agora impresso, graças aos leitores!

Parece que os quadrinhos brasileiros encontraram seu meio. Alternativo, quase sem retorno, mas com produtividade em alta. Sim, alguns autores estão conseguindo uma façanha e tanto ao publicarem suas obras. Destes, o mais conhecido são os que integram o “Coletivo Quarto Mundo”.  Lembro de quando o Coletivo foi formado. Eu estava presente na edição do Ângelo Agostini na época. Fico imaginando, se na época, eu tivesse publicado alguma coisa minha, talvez eu hoje fizesse parte dele. Mas tudo bem, me contento em ser um leitor. Afinal, tem muita coisa boa sendo publicada.
E o Coletivo cresceu, temos várias revistas e sereis sendo produzidas por essa grande equipe de amigos. Vários sites foram fundados por eles, para publicar seus trabalhos de forma individual e em grupo. Um desses sites é o “Petisco”. O site publica várias séries, sendo que cada uma delas é atualizada semanalmente. E sempre em um dia da semana diferente. Assim, o site consegue ter atualizações diárias.
Mas apesar de uma ótima iniciativa, o legal dos gibis é poder lê-los no papel. E, pra isso, os integrantes do coletivo resolveram usar o site de crowdfounding “Catarse” para conseguir investimento e bancar a publicação. E isso já mostrou o sucesso da empreitada. Precisando de R$ 15 mil, eles conseguiram R$ 16.535, e com isso, puderam publicar PETISCO APRESENTA – VOLUME 1.
Lançado durante a última Fest Comix, em SP, e na Gibicon, de Curitiba, o álbum é uma coletânea de algumas das sereis do site, mas com histórias exclusivas, que o leitor só vai encontrar nessa edição impressa.
Em um formato intermediário entre o americano e o “formatinho”, o álbum tem 96 páginas, lombada quadrada, e uma qualidade de impressão muito boa.
As séries que integram este volume são :
TERAPIA (Rob Gordon, Mario Cau e Marina Kurcis), que, neste volume, apresenta uma história focada em um dos personagens coadjuvantes da websérie, uma garota que conversa com sua terapeuta sobre como ouvir os discos da coleção de seu falecido pai a coloca em contato com ele, e como isso pode estar  atrapalhando um pouco seu convívio social. Uma história introspectiva e muito bela.
NANQUIM DESCARTÁVEL (Daniel Esteves, Wanderson de Souza e Omar Vinole), talvez uma das sereis independentes mais conhecidas do meio, que já deu vários prêmios ao seu autor. Particularmente, sou fã do trio de personagens Ju, Sandra e Tuba. As duas primeiras estudantes que produzem quadrinhos, e o melhor amigo “mala” delas. Pra quem já leu alguma das edições da revista, este volume apresenta um curto conto da época da faculdade, quando elas se conheciam à pouco tempo. Talvez por já conhecer os personagens, mas achei a melhor história do volume.
MACACADA URBANA (Vencys Lao e Paulo Sergio S. Romani). Uma história de ficção onde macacos inteligente dominam o mundo, e os humanos estão quase extintos. Parece que você já viu isso em algum lugar, né? Sim, mas o foco dessa história é diferente da saga cinematográfica, com mais humor, e personagens com aquele “jeitinho brasileiro”.
NOVA HÉLADE ( Cadu Simões e Angelo Ron). Uma mistura de ficção científica com mitologia grega. A história reconta algumas histórias mitológicas, mas com uma roupagem futurista. E ainda tem como cenário o mundo musical. Em alguns momentos, a HQ assume um lado de comédia, que parece meio fora de lugar à princípio, mas Cadu Simões, o criador do Homem- Grilo, sabe como encaixar humor sem descaracterizar o trabalho. Essa história me lembrou a revista Heavy Metal.
DEMETRIUS DANTE (Will e Felipe Meyer). Demetrius Dante é um detetive que investiga casos sobrenaturais. Um Dylan Dog brasileiro. Interessante, principalmente porque ele age como um detetive comum, mas sem os clichês chatos dos detetives dos romances policiais. Demetrius se mostra um personagem mais agradável assim. E o traço característico do Will é um show à parte.
BELADONA (Ana Recalde e Denis Mello). Fechando a revista, temos um conto de terror sem diálogos, que mais parece um pesadelo. Uma garota sozinha, em um circo assombrado... E um traço que lembra as antigas edições da “Kripta”.
Para os leitores que quiserem adquirir essa revista, não é difícil pesquisar pela internet, em busca de seus autores. Também pode tentar o Facebook, e várias convenções de quadrinhos, onde os autores estão sempre participando, e distribuindo autógrafos, na “Banca do Quarto Mundo”.
Um excelente lançamento, que merece ser degustado sem moderação.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

FADE OUT - SUICÍDIO SEM DOR


Uma das hqs independentes mais bem escritas que li. Leia minha crítica aqui:


FADE OUT – SUICÍDIO SEM DOR
Um dos contemplados com o Proac 2011, esta HQ é uma grata surpresa pela narrativa que foge do que se vê na maioria das hq’s atuais.

Atualmente, muitas hq’s estão sendo lançadas, mas a maioria é feita de histórias que, apesar de excelentes, não fogem muito do habitual. Esta FADE OUT – SUICÍDIO SEM DOR se diferencia justamente por isso. Aqui, o leitor vai encontrar uma história diferente da maioria. Tanto no tipo de história, quanto na forma como ela é narrada. Será que é porquê o roteiro era pra ser de um filme, e que foi adaptado pra HQ? Talvez, sim. Mas ficar imaginando isso como razão é desmerecer um pouco a linguagem dos quadrinhos como meio artístico. Afinal, esta revista é ótima em muitos aspectos que são exclusivos da linguagem da nona arte.
FADE OUT é um termo técnico cinematográfico que significa o desaparecimento da imagem de forma lenta, indo para o escurecimento. Um título que se ajustaria melhor para um filme, ao fazer uma analogia ao suicídio do personagem. Mas que, como quadrinho, fica interessante por si só. Na primeira página, vemos Kurt, o personagem principal, em uma banheira, cheia de sangue. Ele acabou de morrer. Ou, como ele mesmo diz, “finalmente, eu conseguir morrer.” Em seguida, a história retrocede para os acontecimentos antes de sua morte. Não dá pra precisar quantos dias antes, mas isso não atrapalha a história. Pelo contrário, é até melhor pra fazer com que o leitor desfrute da trama. Talvez ficar em “contagem regressiva” para a morte do protagonista desviaria o interesse do leitor.
O primeiro momento da história mostra Kurt tentando se matar. Em um momento que pode fazer o leitor pensar que a história é de humor negro, Kurt está no banheiro, com um revólver na mão, pensando em várias coisas antes de se dar um tiro. Desde o que vai acontecer com sua mãe, até sobre o gosto da arma. Até que no final, não consegue se matar, e continua sua vida. Ele conhece Tiffany, tem problemas no trabalho, mora sozinho com a mãe divorciada, nunca conheceu o pai, etc. Tudo parece meio clichê, mas o roteirista acertou em não dar ao Kurt uma personalidade de rapaz descolado que sofre bullying. Pelo contrário, Kurt está em paz com sua condição de “rejeitado pela sociedade”, o que dá mais vida pra ele. Ele vive bem sua vida, apesar da vontade de se matar no começo da história.
No decorrer da trama, parece que sua vontade de se matar foi embora. Ele conhece Andy, uma garota com quem parece ter muito em comum (apesar de estar namorando a Tiffany), vai atrás do pai que nunca conheceu (e que provavelmente, o leitor vai concordar com a atitude de Kurt em relação à ele, que, diga-se de passagem, palmas pro roteirista, por mostrar uma decisão que foge dos clichês, e do que a sociedade espera, e julga como “o certo”). E, pra acrescentar mais “ação” à história, Kurt descobre que a polícia pode estar deixando passar um caso de um assassino serial de assistentes sociais.  Agora, Kurt precisa descobrir se ele está certo quanto à isso, e encontrar o assassino, visto que a polícia não tem interesse no caso, e sua mãe é uma assistente social.
Mas ainda tem a questão de Kurt ter que resolver seus problemas com Tiffany e Andy...
Beto Skubs se mostra um ótimo roteirista. Talvez o único “pecado” da revista seja situar a história nos EUA. Mas é algo tão sem importância pra trama, que o leitor só percebe que a história se passa lá devido aos nomes dos personagens. A forma como tudo se desenvolve, os modos de agir de todos os personagens durante a história, é tudo tão fluído e natural, que ela pode acontecer em qualquer lugar do mundo. Incluindo o Brasil. Mas na prática, isso é algo que não faz tanta diferença assim.
O texto é muito bom em sua construção narrativa, nos diálogos que não tentam ser explicativos (coisa rara em qualquer HQ do mundo. Parece que hoje em dia os roteiristas acham que os leitores só entendem a história se o personagem explicar cada passo que dá), e ainda, o que mais me chamou atenção, a forma como as imagens são usadas pra contar a história, mostrando coisas que as palavras não dizem. Há um quadrinho, por exemplo, que mostra que um policial que Kurt conhece já teve (ou tem ) um caso com sua mãe. Kurt não sabe disso, nem dá pistas desse fato. O leitor só fica sabendo se notar com atenção ao quadrinho todo, e ver por uma janela a mãe dele se vestindo, logo após o policial sair de casa.
Um outro grande trunfo está na caracterização de todos os Personagens, em momento algum repetindo os clichês do gênero. São todos tão bem construídos, o que dão uma vivacidade perfeita à eles, que agem como pessoas reais . Nesse quesito, Kurt salva completamente a história, por não se comportar como um adolescente deprimido, emo, ou nerd perseguido pelo mundo. Ele tem personalidade própria, não segue nenhum  tipo de “tribo” dos jovens.
Os desenhos são de Rafael De Latorre, que seguem um estilo limpo, parecendo uma mistura do mangá com americano, com uma pitada de linhas claras. Mais ou menos o estilo que Renato Guedes segue, mas sem copiar nenhum dos desenhistas conhecidos. A minha única ressalva é o fato de a mãe de Kurt parecer muito jovem. Mas aí, eu me lembro que há muitas adolescentes engravidando, e imagino que essa deve ser a proposta da criação visual dela, vai saber. De qualquer forma, nada que atrapalhe a leitura. 
Além do estilo do traço, De Latorre é competente também na diagramação. Ele não se utiliza de recursos “de impacto”, optando por uma diagramação tradicional, e com muitos quadros com pouquíssimos cenários, de acordo com o clima que o enredo transmite na cena. Uma arte que casa perfeitamente com as cores de Marcelo Maiolo (colorista que também trabalha na DC Comics). Essas alternam páginas de cores quentes com frias, de acordo com o tom da trama. Essas mesmas alternâncias servem pra separar os momentos de “devaneios” de Kurt, com os momentos de interação com outras pessoas, ou mesmo os de maior tensão e suspense.
Sobre essas “alternâncias”, o casamento texto/arte é perfeito, e faz com que o leitor imagine cada cena separadamente. A forma como a história é tratada, é como se a cada duas ou quatro páginas, houvesse um “fade” (sem trocadilhos, hehehe) na trama, de modo à situar o leitor em outra cena.
Tudo nessa revista agrada, seja o acabamento gráfico simples, mas competente, a diagramação, o papel, os “extras” da revista, etc. Um bom exemplo de como pode ser uma HQ simples, sem grandes inovações estilísticas. Mas com a preocupação de ter uma bela narrativa.
Ao terminar de ler, tive a impressão de ver uma HQ que usa perfeitamente o conjunto roteiro estruturado, direção segura e precisa, com atores agindo de forma natural, embalado em uma perfeita fotografia, com um ritmo perfeitamente editado. Só faltou uma trilha sonora. Mas sonoplastia, o leitor com certeza vai conseguir imaginar a sua perfeita ao ler essa HQ.

sábado, 19 de abril de 2014

ARTE COM PIPOCA


Conhece o site ARTE COM PIPOCA?
Site dedicado ao cinema, séries e quadrinhos. Eu estou colaborando, escrevendo textos pra lá. Pra ver a coluna que quadrinhos, acesse o link abaixo:

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A MORTE DO SUPER HOMEM


Quem lembra do maior evento de marketing dos quadrinhos de antes da era da internet?
Relembre aqui: 

A MORTE DO SUPER HOMEM
À 20 anos, morria o maior super herói de todos os tempos. Na época, foi um evento anunciado em várias mídias, pois pensava-se que era uma morte definitiva.

Lembro quando saiu a notícia. Fiquei sabendo pelo Jornal Nacional. Foi uma reportagem sobre o anúncio de que o Super Homem iria morrer em breve, em uma de suas edições. A reportagem era quase como se fosse alguém importante que tinha sua morte anunciada. Os repórteres, os EUA, perguntavam para vários fãs o que eles achavam da morte do Super. Alguns lamentavam, outros diziam que era um personagem que já tinha dado tudo o que podia, e que estava na hora de encerrar suas atividades mesmo.
Me lembro que, naquela hora, pensei “preciso comprar esse gibi”. Somente anos depois foi que eu pude comprar essa edição, embora a revista tenha saído no Brasil apenas 1 ano depois.
Em uma época em que não existia a internet da forma como a conhecemos hoje, a notícia da morte do Super conseguiu chegar aos leitores através da campanha de marketing da editora. Se fosse hoje, tudo teria vazado, e quando acontecesse, nem teria mais graça. Além do que todos os planos dos editores seriam de conhecimento dos leitores. Mas naquela época, não. Foi anunciado que ele iria ser morto em uma história. Ponto. A história foi lançada nas bancas. Muitos leitores e até não-leitores ficaram curiosos, e a revista se tornou uma das mais vendidas até então. A DC ficou quatro meses sem publicar as revistas do Super. Para muitos, o Super Homem tinha morrido de forma definitiva, e para sempre.
A história não é grande coisa, e tem vários erros em sua concepção. Em certos momentos, nem parece que ela foi pensada dramaticamente, mas apenas é uma desculpa pra fazer o Super e o vilão Apocalipse saírem se socando durante todas as páginas. Mas pra um leitor sem grandes preocupações, até que agradava bastante.
A HISTÓRIA
O vilão APOCALIPSE, criado apenas para esse fim, era um sujeito grande e selvagem, que saiu de dentro da terra vestido em uma roupa de contenção, e começava a matar tudo o que via pela frente. A Liga da Justiça foi contatada para acabar com ele, mas não consegue. Quando o Super aparece, começa a porradaria. Durante os capítulos seguintes, os dois saíam no braço por boa parte dos EUA, até chegar em Metrópolis, a cidade do Super, onde o herói finalmente conseguia exaustar o vilão, que caía morto. Mas ele também ficou exausto demais após essa luta, e terminava morrendo nos braços de Lois Lane. Na época, a jornalista sabia a identidade do Home de Aço, e eles estava noivos(outra decisão editorial nas coxas, mas deixa isso pra lá). Assim, acabava a história e a vida do Super Homem.
UM EVENTO DE MARKETING
Na época, tanto nos EUA quanto aqui, a história teve uma grande repercussão aé entre quem não lia quadrinhos. Até mesmo a TV daqui noticiou a história da morte, como se noticia a morte de qualquer celebridade.  Aqui, a editora Abril, que publicava Marvel e DC na época lançou a revista em uma edição especial de cerca de 160 páginas, contendo toda a saga. Essa publicação ocorreu cerca de 1 ano antes do que deveria ter saído, se considerarmos a cronologia  vigente na época. Pra um colecionador das revistas mensais, ela trouxe alguma confusão sobre personagens coadjuvantes, mas pra novos leitores, nada demais causava espanto. Mesmo assim, quem só conhecia o Super pelos filmes e desenhos animados, deve ter sido bem estranho ver o Lex Luthor Jr na história, um cabeludo, ao invés do Lex tradicional, careca. Nem pergunte...
A revista mensal do Super homem continuou trazendo as histórias antes da morte dele, normalmente, em uma estratégia de fazer com que quem tivesse começado a ler a partir da “Morte” ficasse com vontade de ler as histórias que antecederam o fato. Nos EUA, as várias revistas do Super pararam de ser publicadas por cerca de 4 meses, o que fez com que muitos achassem que era uma morte definitiva. Mas é claro que tudo já estava sendo planejado pra que o personagem voltasse. Tão pensando o quê? Justo na época em que começava a produção de um seriado pra TV (e que talvez seu sucesso seja uma consequência de toda a repercussão gerada pela morte nas hq’s), alguém achava que o Super continuaria morto?
O RETORNO
A Volta do Super Homem foi bem planejada, apesar de algumas histórias duvidosas no meio do caminho. Primeiro, as revistas voltaram da numeração em que havia parado, mostrando o que aconteceu imediatamente após a morte do herói. Quem estava no local no momento da morte dele tentou ressuscitá-lo, sem sucesso. Depois, aconteceu o velório, com direito à participação de todos os heróis do universo DC. Agora, a cidade de Metrópolis era defendida por outros heróis menores, coadjuvantes das próprias histórias do Super. Mas para dar uma nova injeção de empolgação nos leitores, a DC fez algo que parecia ousado: criou 4 Super Homens para substituir o falecido. Dois deles eram óbvios que não enganaram ninguém, mas os outros dois poderiam ser o verdadeiro, com pequenas modificações. Os que nunca causariam dúvidas aos leitores foram o Superboy, um clone do super em versão adolescente, e Aço, um homem comum, com uma armadura de aço e um martelo. Agora, os outros eram um ciborgue cujo DNA era kryptoniano, e um outro Super com poderes diferenciados, mas que tinha pleno acesso à Fortaleza da Solidão, e conhecimento da tecnologia de Krypton. A partir daí, a história mostraria qual deles seria aceito pelos cidadãos de Metrópolis como o novo e verdadeiro Super Homem. Talvez a tática tenha sido fazer os leitores também ficarem em dúvida. Para isso, cada um dos “novos Super Homens” estrelava uma das revistas do heróis separadamente. Mas por pouco tempo, depois disso, as revistas se interligaram, para mostrar uma invasão à Terra, que havia sido orquestrada por um dos Super Falsos.
Nesse meio caminho, o verdadeiro Kal-El (esse é o nome Kryptoniano do Super Homem) ressuscita, e parte para salvar o planeta, juntamente com outros heróis, entre eles o Superboy e Aço. Após derrotar os vilões, o Super recupera seus poderes plenos, e tudo volta ao que era antes, mas com uma grande mudança: O Super usando cabelo comprido.
Grande mudança, né?
Depois disso, infelizmente, as histórias voltaram à ser mais do mesmo para o Super. Embora sua morte e ressurreição tenham deixado marcas no Universo DC, como o que aconteceu com o Lanterna Verde Hal Jordan, a saga Zero Hora, e o sucesso da empreitada fez com que os editores resolvessem tentar o mesmo com o Batman no ano seguinte, fazendo-o ser aleijado pelo vilão Bane, e substituído por um Batman de armadura, e mais violento, na saga “A Queda do Morcego”.
Depois disso, grandes sagas que matavam ou modificavam um super herói viraram moda. E como toda moda, cada nova saga do gênero parecia mais uma cópia mal feita da original. E se nem a história original era assim tão boa, imaginem as cópias...
No Brasil, a Morte do Super Homem foi publicada pela Editora Abril, em 1993, e teve um relançamento no ano seguinte, sempre em formatinho. Em 1994, as sequências foram publicadas em “Funeral para um Amigo”, em 4 edições, depois o especial “Super Home Além da Morte”, e a mini-série em 3 edições de 160 página cada “O Retorno do Super Homem”. A Morte também teve uma republicação mais tarde em formato americano, como mini-série pela própria Abril, e em um encadernado de luxo pela Panini.
Lembrando que essa história se passa antes do atual reboot da DC, portanto, pra cronoogia atual, é como se ela nunca tivesse acontecido. Até o momento em que algum editor resolver que é hora de recontar a história, em uma nova versão... 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Y - O ÚLTIMO HOMEM


Y - O ÚLTIMO HOMEM, foi, na minha opinião, a melhor e mais criativa série do selo Vertigo da década passada. Uma trama que conquista quem a lê. Saiba mais sobre ela aqui:


Y – O ÚLTIMO HOMEM
Está chegando às bancas do Brasil o último volume da saga do último humano do sexo masculino do planeta. Uma obra prima do genial Brian K Vaughn.

Imagine como seria o mundo se, de repente, todos os animais machos, incluindo aí os humanos, morressem. Como seria um mundo onde apenas as mulheres existissem? Com base nessa ideia que tem base em ficção científica “trash”, o escritor Brian k Vaughn, juntamente com a desenhista Pia Guerra, criaram “Y – O ÚLITMO HOMEM” para o selo “Vertigo”, da DC Comics, em 2002. Com 60 edições publicadas, a série é uma das melhores histórias publicadas pelo selo nesta primeira década do século, por apresentar um tema tão “exdrúchulo”, mas de uma forma que, ao ler, fica muito palpável. Ao folhear a primeira página, o leitor se sente como se realmente não houvesse mais homens no mundo.
A história começa com a Dra Alisson Mann, uma geneticista que tentava criar um clone de si própria. No momento em que a criança estava pra nascer, acontece algo que faz com que todo mamífero macho do planeta morra ao mesmo tempo. Sobra apenas dois: Um humano chamado Yorick Brown, e seu macaco de estimação.
Quando começa o “generocídio”, o mundo entra em crise. Cadáveres tomam conta das ruas, e as mulheres demoram pra se estabelecer no Novo mundo. Aviões caem, fábricas param, eletricidade e outras necessidades básicas param de ser produzidas.  Caos. Mas aos poucos, elas começam a reerguer o mundo. Enquanto isso, Yorick e seu macaco decidem ir até o congresso encontra sua mãe, uma deputada. Chegando lá, ele informa que precisa ir até a Austrália, encontrar sua namorada, Beth, que ele havia acabado de pedir em casamento por telefone, e não havia ouvido a resposta. Mas a deputada Brown encarrega seu filho de outra missão: juntamente com a “agente 355”, do misterioso “Círculo Culper”, procurar pela Alisson Mann, e juntos, encontrarem uma cura para o que se acha ser uma praga.
Essa é a trama básica da saga. Claro, que, o que parece simples a princípio, precisava de complicações pra poder durar tantas edições, e Vaughn faz com que, inicialmente, o laboratório da Dra seja incendiado por um grupo de mulheres do exército israelense, o que faz o grupo precisar atravessar todos os EUA até o segundo laboratório dela, na costa oeste. No caminho, várias complicações.
O primeiro dos problemas que eles enfrentam são as “Filhas das Amazonas”, um grupo de mulheres que acreditam que a praga foi uma seleção natural para destruir os homens e libertá-las da escravidão do patriarcado. Agora, elas vivem destruindo bancos de esperma, e acabando com tudo o que lembre a cultura masculina. Ao tomarem conhecimento de Yorick, elas querem matá-lo, e acabam por encontrá-lo em uma cidade onde ex-detentas vivem em uma sociedade quase perfeita. Despistá-las, principalmente depois de descobrir que uma das amazonas é Hero, irmã de Yorick, não foi tarefa fácil.
Em cada álbum, o trio de “heróis” passava por uma localidade diferente dos EUA, encontrava pessoas com problemas, ou se envolviam em assuntos que desviavam o grupo temporariamente da sua missão. Como quando encontraram uma russa que dizia que os astronautas que estavam na estação espacial iriam pousar em breve, e havia dois homens no grupo. Em outra ocasião, eles encontraram uma milícia de mulheres armadas que decidiram dominar as estradas.
Vaughn criou uma história onde um fato absurdo se torna crível. Na verdade, vários fatos absurdos. A cada página, somos jogados em situações que beiram o ridículo, mas que, no estilo narrativo dele, ficam com um tom realista. E o fato de ele escrever sem usar o recurso dos recordatórios dá um ar cinematográfico à revista.
Y parece mais uma série de TV, com cada capítulo sendo um “monstro da semana”, enquanto a “trama maior” ganha ares de subtrama. Outro ponto positivo é em como o passado de personagens secundários é apresentado ao leitor, através de capítulos isolados, compostos por flachbacks. Coincidência ou não, o estilo usado pelo autor foi o mesmo usado no seriado Lost, que surgiu na TV na mesma época. E Brian K Vaughn acaboou sendo contratado pra trabalhar como roteirista do seriado, ficando da terceira á quinta temporada. Cada edição focada em um passado é como um “respiro” da trama principal, para que possamos conhecer algo do personagem que, em breve, poderá ou não ter consequências no desenrolar da história.
No meio do caminho, o autor fez algo que, apesar de não ser nada inovador, acabou se mostrando inusitado: a Dra. Mann descobre o que salvou Yorick da praga. Agora, uma das questões foi respondida, antes do fim da saga. Mas ainda assim, a história seguiu, com o sequestro do macaco Ampersand, o que levou os heróis à percorrerem o globo atrás dele, o que, parecendo uma coincidência, mas que na verdade foi bem planejado e amarrado por ele, fez com que os personagens descobrissem que e o que causou o generocídio.
O final, com a descoberta, também mostrando como Brian K Vaughn tem domínio do seu ofício, acontece na penúltima edição. O que faz com que a última edição seja uma espécie de epílogo da saga.
E os desenhos de Pia Guerra são competentíssimos. Um traço simples, que emula um estilo clássico dos comics dos anos 70, mas com o domínio do ritmo narrativo moderno, são um espetáculo à parte, e ajudam o leitor à se situar no mundo sem homens. Em algumas edições, outros desenhistas foram convidados, como Paul Chadwick, Goran Parlov, e principalmente Goran Sudzuka, quem mais atuou como convidado.
Mas o grande motivo pelo qual a série é uma leitura excelente são os personagens. Bem construídos, tanto os principais quanto os coadjuvantes, e aqueles que aparecem em uma única edição, todos possuem uma vitalidade e personalidade, coisa que poucos autores conseguem criar com competência. Yorick, por exemplo, é um jovem nerd como muitos dos leitores. Sempre fazendo citações à cultura pop, em muitos momentos, algo tão obscuro que poucos leitores devem sacar. Não que seja preciso reconhecer cada citação que ele faz, mas isso dá um charme à mais à leitura. Em um momento, por exemplo, ele mostra um isqueiro com a inscrição “Foda-se os comunistas”, e menciona que viu isso em um gibi. Ele não menciona qual, mas leitores habituais do selo Vertigo notam que se trata de Preacher, que eu já comentei neste site.  Citações de filmes, seriados, diálogos que ele repete, letras de músicas. Ele é o verdadeiro leitor de quadrinhos sendo representado. E também é o alter ego do roteirista, que também faz um tipo parecido no Mitchel Hundred, em Ex-Machina.
E as mulheres que ajudam Yorick em seu caminho são tão complexas quanto qualquer mulher que eu ou você conheça. Elas passam por mudanças de humor o tempo todo, alem de agirem com suas particularidades. Em várias cenas de diálogos, elas conversam como seres reais, não apenas reagindo ao que Yoricik fala, como um autor incompetente faria.
Em resumo, uma leitura obrigatória pra quem busca boa histórias. Se você é um leitor que nunca leu uma edição sequer de Y- O ÚLTIMO HOMEM, eu recomendo ir atrás de todos os volumes (ao todo são 10). Aposto que você não vai conseguir parar de ler enquanto não terminar. E, durante a leitura, vai até esquecer que vive em um mundo real onde os homens ainda existem.


segunda-feira, 14 de abril de 2014

domingo, 13 de abril de 2014

ASTRONAUTA - MAGNETAR


ASTRONAUTA - MAGNETAR, a primeira das "Graphic MSP" lançada, e uma das melhores hq's adultas já produzidas no mercado nacional. Leia meu texto sobre ela aqui: 


ASTRONAUTA – MAGNETAR
Primeiro lançamento do selo “Graphic MSP”, onde artistas consagrados do cenário nacional reinventam os personagens de Maurício de Souza.

Tudo começou com o livrão MSP 50, onde vários artistas recriavam histórias dos personagens da Turma da Mônica, em um projeto feito para homenagear os 50 anos de carreira de Maurício de Souza. O projeto foi tão bem sucedido, que deu origem à outras duas sequências, além de “Ouro da Casa”, onde os próprios artistas que trabalham no estúdio MSP poderiam fazer histórias com seu estilo pessoal, ao invés do estilo do estúdio. Mas o mais interessante projeto seria o selo Graphic MSP, com 4 álbuns anunciados, onde os artistas irão reinventar os personagens da forma como lhes melhor convier.
Dos livros anunciados, o primeiro lançamento foi ASTRONAUTA – MAGNETAR, produzido por Danilo Beyruth, e com cores de Cris Peter. O álbum coloca o personagem do Maurício de Souza em um ambiente de “ficção científica hard”, onde as situações são mais realistas. O personagem é quase o mesmo, mas com a diferença de o foco da história ser voltada para o público adulto.
Tudo começa com o personagem chegando perto de um “magnetar”, para estudo. Se o leitor não sabe o que é um magnetar, não se preocupe. Além do fato de a história explicar o fato científico por si, há um glossário de termos astrofísicos no final da revista. Não que seja preciso saber exatamente do que se trata o fenômeno pra poder curtir a história. Ela é contada de forma tão natural que apenas sabendo que é algo que acontece no espaço já é suficiente.  Chegando ao local, o Astronauta começa a colocação de equipamentos de monitoração nos pequenos asteroides ao redor. É quando um acidente deixa o personagem à deriva no espaço. Devido à interferência do magnetar, seu rádio não funciona, o que o impede de pedir ajuda. Agora, basta apenas ele usar seu conhecimento e inteligência pra tentar sobreviver enquanto tenta consertar o estrago.
Mas sobreviver sozinho no espaço pode não significar apenas sobrevivência física, mas mental também. Dias e dias de solidão preenchidas apenas pela rotina pode levar uma pessoa à loucura. É o que ocorre com o Astronauta, que tenta se agarrar ao máximo possível ao que resta de sua sanidade, e pensar em uma forma de sair de lá.
Danilo Beyruth possui um estilo de criar histórias simples, mas que são bem conduzidas, sem apelações desnecessárias, ou recursos gratuitos. Assim como em Necronauta, aqui vemos uma história que não busca ser um grande épico, mas por isso mesmo acaba sendo mais competente que muitas histórias em quadrinhos feitas por aí. E o ritmo da história é tão agradável que nos faz sentir como se estivéssemos realmente no espaço ao lado do personagem.
O começo da história, onde somos apresentados à um pouco do passado dele é de uma beleza singela, mostrando o menino ao lado do avô. O que pode parecer um recurso manjado, afinal, são as lembranças do avô que acabam por ajudá-lo no futuro, nas mãos competente de Beyruth se tornam algo completamente diferente. Se torna um elo de humanização do personagem. Ele tem um estilo de narrativa que lembra muito Will Eisner, contando drama de uma forma leve, e dramatizando com ações cada pensamento, sempre movendo a história pra frente, sem fica cansativo em momento algum.
Os desenhos dele também são ótimos. Simples, com identidade própria, com cenários detalhados, mas sem deixar a página poluída. E, aqui, temos o melhor trabalho de diagramação de páginas do autor. A forma como ele alterna os vários estilos de quadros não fica parecendo gratuito em momento algum, e dão o clima exato para o leitor entrar no ritmo e nos sentimentos que a trama pede.
Sobre sentimentos e emoções, deve-se destacar as cores de Cris Peter. Nossa mais ilustre colorista faz um trabalho sensacional. Cores vivas, mas sem ser chamativas demais. Um colorido que casa perfeitamente o estilo do clássico do Maurício de Souza com a proposta adulta da nova versão. Um trabalho digno de nota!
Sem exagero algum, posso dizer que os leitores que adquiriram a revista possuem um novo clássico dos quadrinhos nacionais em mãos.

sábado, 12 de abril de 2014

VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS # 31

Aviso: A intensão desta tira não é pregar os falsos valores de padrões de beleza pré-estabelecidos pela sociedade. Mas satirizar isso. Meu senso de humor nem sempre espelha a realidade. 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

LOCAS - VOL 1 - MAGGIE, A MECÂNICA


Um dos gibis alternativos mais legais já produzidos! Só quem nunca leu pra não se apaixonar pela mulheres criadas por Jaime Hernandez.
Leia sobre as Locas aqui:


LOCAS
Depois de anos longe das prateleiras do Brasil, a obra de Jaime Hernandez volta com tudo!
Recentemente, a GAL Editora lançou “Locas: Maggie, a Mecânica”, o primeiro volume que compila o material produzido por Jaime Hernandez para a antológica revista Love and Rockets no asno 80.  Semana passada, comentei sobre Birdland, de Gilbert Hernandez, irmão dele. Não confunda os dois. Eles tem traços parecidos, é verdade, mas analisando bem, dá pra notar as diferenças no estilo de cada um. Eu, particularmente, prefiro o Jaime.
Pra falar desse lançamento, é bom relembrar um pouco da história da revista: Love and Rockets foi uma revista independente publicada pelos irmãos Hernandez, Jaime, Gilbert e Mario. Este último decidiu não se dedicar tanto assim aos quadrinhos. 
Cada um possuía uma série de personagens próprios, que publicavam em várias histórias “soltas”pela revista. Os personagens de Jaime são as famosas “Locas” que estrelam este álbum.
Locas conta a história de várias amigas, centrada principalmente em Maggie e Hopey. Duas mexicanas punk rockers, que possuem uma amizade “colorida”, vivendo e sobrevivendo no dia a dia da sua comunidade. Uma mistura de americanos com mexicanos, como é da origem do próprio autor.
No começo, as histórias da amigas (e de outros personagens que vão surgindo no decorrer das edições) eram mais escapistas, como dá pra conferir neste primeiro álbum. Maggie trabalha como mecânica de foguetes, viaja pra lugares onde dinossauros ainda estão vivos, já foi sidekick de um super herói, etc. Com o tempo, as histórias foram ficando mais pé no chão, mas sem perder a personalidade e as características das personagens.
Outra característica das Locas é o fato de Jaime mostrar o envelhecimento delas. Elas mudam com o tempo, engordando, emagrecendo, mudando o corte de cabelo, etc. Isso acrescenta mais vida à elas, deixando a leitura mais “íntima” para o leitor.
Mas o que mais chama a atenção ao ler as histórias é o modo como elas são retratadas. Acredito que nenhum autor de quadrinhos (e talvez de qualquer outra mídia artística) tenha retratado mulheres com tamanha perfeição e realismo. Não se trata da visualização ou idealização masculina das mulheres. Elas possuem vida própria. Agem, fala, pensam  com mulheres. Dificilmente algum autor homem conseguiria tal êxito, mas Jaime Hernandez consegue.
A forma como ele constrói a história, alterando o ritmo de acordo com a cena, usando os recursos gráficos juntamente com o ritmo do roteiro para colocar o leitor dentro do clima da história, e também na cabeça das personagens são características que só fazem da leitura do livro algo mais delicioso ainda. Apesar das muitas páginas da edição da GAL, se o leitor se deixar levar, poderá ler a edição toda em um fôlego só, e nem se dar conta do tempo passando.
No Brasil, as histórias das Locas já foram publicadas em pequenas doses dentro da revista animal, no final dos anos 80, que publicava as histórias mais curtas. Mais tarde, a Editora Record adquiriu os direitos, e publicou duas revistas, Love and Rockets (que trazia os trabalhos dos irmãos), e Locas, só com as personagens do Jaime. Esta, a menos que eu esteja errado, só teve duas edições publicadas. Mas apesar de, na época, a revista não conseguiu ter uma vida longa, fez muitos fãs, o que anos depois garantiu a volta dos irmãos Hernandez às bancas. A editora Via Letrera já publicou duas edições de Love and Rockets, e agora, a GAL lançou este primeiro volume de Locas, e com a promessa de dar continuidade. Êba!
E a edição da GAL é muito bem caprichada e bonita de ter na estante. Além e uma introdução de Antero Leivas sobre como o trabalho do Jaime é apaixonante, e um posfácil do editor Maurício Muniz sobre seu contato com as Locas, as histórias selecionadas são um exemplo de como o autor deveria se divertir muito enquanto produzia as histórias, e essa diversão consegue transparecer em cada página, e cativar o leitor.
Na primeira metade do livro, acompanhamos Maggie começando seu trabalho de mecânica prosolar, com um novo patrão, e um  novo colega, o famoso galã Rand Race. Após uma apresentação em uma história curta, temos uma história mais longa mostrando ela indo em um trabalho contratado por um político ambicioso em outro país, onde um foguete caiu e está preso ao lado de um dinossauro. Enquanto as formas narrativas variam do tradicional até a narrativa em forma de carta, há várias subtramas das personagens coadjuvantes sendo contadas paralelamente. Nesta edição, a principal delas é Penny Century , que vive várias aventuras em busca de diversão, e do sonho de se tornar uma super heroína, enquanto namora o milionário H.R. Costigan, um homem que tem chifres, literamente.
A segunda parte do livro é dedicada á outros personagens em histórias curtas, mas fechando, há a longa “100 quartos”, onde Penny decide dar uma festa em sua mansão, na ausência do namorado Costigan, e o que começa com apenas uma reuniãozinha noturna entre amigas descamba para Maggie sendo sequestrada por um homem que se escondia na casa, entre outras situações estranhas. Só lendo pra entender, e ficar vidrado.
Um trabalho indispensável pra qualquer amante de boas históriase de quadrinhos alternativos. E se você não conhece as Locas, faça como muitos leitores: compre, leia e se apaixone pelas gatinhas da revista. E que venham as próximas edições!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

BIRDLAND

Consegue imaginar uma história cheia de sexo e alienígenas, e ainda assim ser muito divertida? Pois a mente brilhante de Gilbert Hernandez consegue.
Leia minha resenha de Birdland aqui: 

BIRDLAND
Birdland é uma HQ escrita e desenhada por Gilbert Hernandez. Só isso já é motivo pra qualquer um que aprecia quadrinhos independentes a ficar curioso em ler esta obra. E, saber que se trata de uma história “pornográfica” é pra deixar ainda mais curioso. Afinal, quem conhece o traço do artista sabe que ele desenha belíssimas mulheres. 
Mas BIRDLAND é mais que apenas isso. É arte!
Bem, de certo modo, a história pode parecer apenas como a de qualquer filme pornô, afina, à primeira vista, ela é apenas uma mera desculpa para os personagens praticarem sexo. E, nesta história, há sexo em todas as páginas. Ao folhear a revista, nem parece que há uma história ali no meio, da a quantidade de cenas de “ação” presentes em quase todos os quadrinhos. Mas há sim uma história. Simples, mas está ali.
A trama conta a história de personagens que tem ligação com a já conhecida “Love and Rockets”, que Gilbert, junto de seus irmãos editaram desde o começo dos anos 80. Fritz Herrera, meia irmã da personagem Lubba, que aparece em “Sopa de Gran Peña”, uma das “sagas” de Gilbert em Love and Rockets, é uma psiquiatra que ignora completamente o marido, enquanto abusa secretamente de seus pacientes, hipnotizando-os. Seu marido, Mark, tenta esquecer seus problemas “pulando a cerca” todo o tempo. Apesar de ignorado pela esposa, Mark é o interesse amoroso de Petra, sua cunhada. Ele tenta fugir dela, mas a garota é insistente, e não mede esforços em conquistar Mark.
Há também outros personagens, uns com interesses nos outros, em um verdadeiro jogo de emoções e corações que mais parece uma novela mexicana. Nada mais natural, afinal Hernandez é mexicano. Mas ele não cria uma trama melosa como as que vemos na TV. Pelo contrário, a alma mexicana é agradável aqui. Ele tem um estilo que, em outras histórias, já foi comparado com Garcia Marques. E, nesta edição, ele usa o formato de novela pra criar uma trama divertida e escapista.
Afinal, na primeira página da história, há um prólogo que mostra uma das personagens,  bang Bang, que sumiu no meio do mato quando criança, e que talvez por isso carregue segredos que nem ela própria sabe o que são. Adulta, ela se torna uma dançarina de strip-tease, e que pode ser a chave de uma invasão alienígena.
Invasão? Bem, talvez não exatamente. Talvez os aliens tenham outros planos pra nós humanos. E talvez esses planos envolvam a nossa sexualidade. Talvez sejam planos mostrados em um contexto que, assim como o sexo, é algo que pode apenas ser sentido e experimentado, mas dificilmente explicado em palavras.
Essa HQ foi publicada nos EUA pela editora Fantagraphics Books, especializada em quadrinhos alternativos. Lá fora, ela foi primeiramente uma minis-série, lançada no começo dos anos 90. No Brasil, saiu em 2009 pela editora Arte Sequencial, em um volume único, com um belo trabalho gráfico.
Uma história ideal não apenas pros amantes dos quadrinhos eróticos, mas pra qualquer um que quer desfrutar de momentos de diversão descompromissada, o tipo de história a qual Gilbert Hernandez é especialista.


terça-feira, 8 de abril de 2014

segunda-feira, 7 de abril de 2014

12 RAZÕES PARA AMÁ-LA


Uma HQ alternativa romântica, sem ser piegas. Leia sobre ela aqui:

12 RAZÕES PARA AMÁ-LA
Quem poderia imaginar que o gênero romântico também está nos quadrinhos?

Confesso que não sei porque comprei essa HQ. Nunca havia sequer ouvido falar dela, ou dos autores. Sei lá. Acho que foi o fato de ser algo diferente. Me chamou atenção. Gosto quando fico sabendo de um quadrinho que não tem super heróis, ou grandes sagas.
Bem, vamos falar dessa história. 12 Razões é uma graphic novel contada em 12 pequenos capítulos, publicada nos EUA pela ONI PRESS, e aqui no Brasil em 2007 pela Devir. Cada capítulo mostra um momento na vida e no relacionamento de um casal. E o título de cada um dos capítulos é o nome de uma música. Basicamente, é disso que trata a revista. O roteiro de cada capítulo é bem simples, mostrado de forma bucólica na maior parte do tempo, exceto quando o momento é mais dramático. Afinal, como todos sabem, uma parte integrante de um relacionamento são os desentendimentos. E eles são tratados da mesma forma que os momentos de ternura.
Em uma forma que, a princípio parece gratuita, os capítulos são mostrados fora de ordem cronológica. A história passeia por várias fazes da vida dos personagens, desde os primeiros encontros, até quando eles parecem estar juntos hà muito tempo. A princípio, isso parece apenas algo “jogado no ar”, mas conforme a leitura avança, vemos que há uma interligação entre as várias histórias, e que nada está jogado pelas páginas sem uma razão. Há uma conclusão para a grande história da vida dos dois, mesmo que ela não seja uma construção cronológica. De uma forma geral, é como se fosse um grande mosaico feito de lembranças. Lembranças essas que surgem de qualquer jeito à nossa mente quando estamos ao lado da pessoa amada.
O único problema aparente desse tipo de narrativa é que, enquanto álbum inteiro há uma linha mestra que une todos os capítulos, se analisados separadamente, cada pequena história pode decepcionar um pouco. Parece que as histórias não vão pra lugar algum, que elas terminam antes de se concluírem. Um exemplo é o capítulo 5, que começa em um cinema, o casal sai discutindo sobre o filme (ou melhor, sobre dormir durante um filme; ou melhor, sobre as mulheres terem medo de filmes de terror  enquanto um homem dorme ao ver o filme), depois vira uma discussão religiosa, e termina com o casal continuando a conversa ao subir as escadas pra seu apartamento, sem ter uma conclusão de nada. Estranho...
Além do fato de muitos capítulos serem tão curtos que fica impossível de se dar continuidade ao que quer que seja.
E quanto aos desenhos? Apesar de competente na composição de páginas e na firmeza da arte final, o traço e Joëlle Jones é amador. Pelo texto da biografia ao final da edição, dpa pra ver que ela não é uma desenhista com muitos trabalhos à época, mas ainda assim, seu traço muda a fisionomia dos personagens á cada quadro. Parece que ela mudava sem perceber, achando que estava mudando apenas as expressões faciais. Mas, infelizmente, em alguns quadros, os personagens mudam a estrutura óssea completamente. Apesar disso, ela possui um bom ritmo narrativo, que casa (sem duplo sentido) perfeitamente com o estilo da história. Aliás, ela também muda sutilmente o estilo da composição e finalização das cenas de acordo com o tom do capítulo. Mas uma boa sacada da Devir foi escolher publicar em um “formatinho”. Deixou a arte mais bonita. Não sei se nos EUA o formato foi o mesmo (acho difícil, mas...), mas esse formato deixa a arte mais compacta. E melhor pra apreciar o estilo dela, afinal, outra característica do seu traço é o uso de pouquíssimo cenário na maioria das páginas.
Agora, o grande trunfo dessa história: a natureza masculina/feminina que impregna cada página. Um trabalho sensível e excepcional, que mostra o lado sensível dos homens e o lado confuso das mulheres. Mas não se trata da visão do sexo oposto, ou de uma visão unissexual, mas cada um deles está mostrado de forma completa. Sem os preconceitos de quem acha que entende o sexo oposto. Essa história pode até ser um guia básico de certas emoções de um relacionamento que não conseguimos expressar por palavras, que acabamos sempre agindo como é visto em cada página.
As 12 RAZÕES PARA AMÁ-LA são também as 12 razões pra ler essa história.
E depois, emprestar pra sua pessoa amada ler também.

sábado, 5 de abril de 2014

A PLAYBOY


A PLAYBOY, de Chester Brown. Uma HQ autobiográfica sobre o primeiro contato do autor com o sexo oposto através das páginas da revista. Leia minha crítica aqui:

A PLAYBOY
Pra quem não conhece, um texto sobre outra obra do autor do recente “Pagando por Sexo”.

Tá todo mundo falando de “Pagando por Sexo”, obra de Chester Brown, uma autobrografia em quadrinhos onde o autor fala sobre suas experiências com prostitutas. Ouço falar muito bem dessa obra, mas tão bem, que fico imaginando “mas é do mesmo autor do chato ‘A playboy’, tem certeza?”
Sim, pois quando eu li A PLAYBOY, achei tão sem graça que só não vendi porque sabia que não acharia nenhum comprador pra ela. Guardei em uma caixa, e a esqueci.
Até hoje.
Já que Chester Brown está sendo tão elogiado por sua nova obra, resolvi reler esta, só pra ver se minhas impressões mudariam. E mudaram.
A PLAYBOY, publicado aqui no Brail pela Editora Conrad, em 2001, é uma HQ também autobiográfica onde ele conta como foram seus primeiros contatos com a revista masculina de mesmo nome, quando tinha 15 anos. Usando a si mesmo adulto como um narrador que, na forma de um anjo, visita o jovem Chester, ele conta ao leitor seus pensamentos da época, mas vistos atualmente, enquanto o “anjo” passeia ao lado de sua versão mais jovem. Em momento algum ele conversa consigo mesmo jovem, apenas com o leitor, enquanto mostra e fala sobre a experiência de comprar a revista pela primeira vez, como reagiu às pessoas ao seu redor, o que fez com a revista para não ser pego, o que o levou à outras edições, à colecionar, etc.
Em um formato pouco maior que um livro de bolso, e com cerca de 170 página, a HQ dá pra ser lida de uma tacada só, em menos de meia hora, devido ao estilo que o autor emprega. Cada página tem entre um e dois quadrinhos apenas, o que faz o leitor virar as páginas rapidamente. Talvez seja esse um dos motivos que me levou a não gostar muito da primeira vez que li, afinal, com tantas viradas de páginas, uma revista dá a impressão de leitura rápida, de história com ritmo rápido, o que A PLAYBOY definitivamente não é. Pelo contrário, é uma história morosa, com poucas mudanças em sua trama. Chester não se aprofunda em motivações, explicações psicológicas, ou qualquer outro recurso que poderia acrescentar mais drama à história. Ele apenas mostra o que fez e como fez. Por exemplo, quando ele descobre que a garota da capa de uma revista é negra, o que foi a primeira vez que ele se confrontou com seu racismo, é mostrado apenas o “anjo” dizendo pro leitor que ele se arrependeu de ficar se masturbando por ela, depois o seu eu jovem apenas muda de página pra outra garota, e continua o ato masturbatório.
E isso ocorre em todas as páginas da história, nada de se aprofundar nem se explicar. Lendo as críticas do “Pagando por Sexo”, eu compreendi que isso faz parte da sinceridade do autor em mostrar o que fazia e como pensava, pois enquanto ele não dá explicações profundas, ele também não está se justificando, o que poderia parecer um falso moralismo, apenas pra agrada o leitor mais moralista.
Apesar dessa aparente falta de “ação”, Chester segue com a história até sua vida adulta, onde ele foi de um garoto que comprava a revista pra se masturbar até um adulto colecionador, e que descobre que prefere se masturbar do que fazer sexo com as namoradas. Em alguns momentos ele assume que só conseguir transar se imaginasse que estava com algumas das garotas da capa.
Outra cena interessante é um epílogo, onde ele está conversando com um leitor, logo após o lançamento da parte 1 da revista. Ele sabia que em breve seria lançado a parte 2, e esse epílogo, que fecha de um modo tão moroso quanto o resto da história, acaba sendo interessante pelo lada experimentação metalinguística. Ele ainda usa o diálogo de uma  namorada pra justificar o porquê de a história ser assim.
Muito bom.
 Ainda bem que não me desfiz da revista. Passado algum tempo, entendi melhor a história, e fiquei mais curioso por PAGANDO POR SEXO. Espero poder adquirir em breve, e comentar aqui.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

MITOLOGIAS HQ


Atualmente, os quadrinhos brasileiros estão conquistando seu espaço à força.
Mesmo com pouco ou nenhum apoio das grandes editoras, muita coisa boa tem sido lançada por aqui. E, com sorte, alguns autores conseguem publicar suas obras de forma independente. É o caso deste MITOLOGIAS, que começou como uma webcomic, mas que acabou tendo uma versão impressa. E com muita qualidade, diga-se.
A edição, que possui 170 páginas, e custa apenas R$20,00, pode ser comprada diretamente com os autores. Confesso que o que me chamou a atenção pra comprar foi primeiramente o preço. Achei que valeria a pena conhecer algo assim, custando tão pouco. Lendo, a princípio, demorei pra gostar pra valer da história. O começo dela é meio clichê, apesar de bem feito. Nada muito grave, mas que me deixou com uma impressão errada da história. O humor excessivo do personagem principal também me incomodou um pouco. Afinal, a história não é de humor, talvez o personagem devesse ser menos engraçado.
Mas como a história flui bem, continuei a leitura, e ainda bem, pois ela melhora sutil e naturalmente com o decorrer dos capítulos.
A história começa com uma introdução do mundo dos Deuses, o que só vai fazer sentido mais tarde na história. Passado esse prólogo, temos Társio e o “reverendo”, com armas nas mãos, perseguindo alguém. Eles sobem por escadas, e param em um andar, quando uma criança se revela um demônio, e atira em Társio. Ele, então, começa a relembrar como foi que começou a se envolver com esse tipo de assuntos. 
Tudo começa em uma edição da FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty, evento de literatura que acontece todos os anos na cidade de Paraty. Quem não conhece, é fácil pesquisar sobre. E o evento também tem dedicado um bom espaço às histórias em quadrinhos. Társio está no evento com um amigo, juntos para ver um escritor de HQ chamado “Noah Gaiman”, e pegar um autógrafo. Após o evento, ele acaba perdendo o ônibus de volta pra casa, e seu amigo sugere que ele vá até a casa de “Luis Pinga”, que pode dar hospedagem pra ele, mas ele deve tomar cuidado com o que pode ser pedido em troca. Társio vai até o local, onde Luis Pinga lhe deixa dormir em sua casa, se em troca, Társio matar alguém. Társio caba aceitando, meio que por brincadeira, e recebe um par de armas místicas que somem de acordo com o desejo do dono após pronunciar palavras mágicas, e vai cumprir sua “missão”.
Antes de continuar, é preciso dizer que este primeiro capítulo é baseado em um conto escrito por Tarsio Abraches, que está transcrito no final do livro. Talvez por isso, seja um capítulo um pouco rebuscado demais pra linguagem de uma HQ. Quero dizer, como adaptação pra quadrinhos, está competente, mas ainda assim, falta desvincular um pouco a história do conto, pra dar personalidade própria.
Nos capítulos seguintes, agora a história é criação própria dos autores, Társio vai até a casa de um homem chamado Fenris, que ele diz que é um monstro disfarçado de home bom, e que Társio deve matá-lo. Ele precisa cumprir a missão, ao mesmo tempo que aprende sobre quem são realmente essas pessoas, e como o mundo dos Deuses e o nosso mundo se conectam. E qual será seu real papel em tudo isso.
A história daí pra frente adquire um outro tom, mais vele, e ao mesmo tempo com um ritmo mais natural. Társio se mostra alguém com personalidade própria, não apenas um “engraçadinho” como a primeira impressão me causou, e todos os personagens agem com mais vitalidade durante a história. História essa que, basicamente não apresenta nada de novo no gênero, mas que consegue divertir durante a leitura. Afinal, ela possui  boa fluidez , ritmo narrativo, e não é pedante durante as explicações dos personagens. Nesse quesito, ponto pro roteirista, pois ele conseguiu fazer o que poucos se lembram , que é fazer com que as explicações sejam incluídas no desenrolar da trama, e não no “estilo scooby-doo”, onde todo mundo para pra ouvir a explicação.
Os desenhos lembram muito o estilo de fanzines. Alguns exageros estilísticos que aparentemente nos fazem pensar que está tudo fora de proporção, mas é apenas o traço do desenhista que é assim mesmo, e o mais importante, ele possui uma boa noção de ritmo narrativo, além de uma ótima diagramação. Em algumas cenas, o quadro está um pouco super poluído, mas não acontece com frequência.
E, ao final, uma história solo com Ulisses, o amigo do Társio que o colocou nessa enrascada toda. Muito boa, por sinal.
No geral, uma boa HQ, que merece ser conhecida.