VINCENT
Biografias em
quadrinhos já não são nenhuma novidade faz algum tempo. Mas encontrar
biografias em quadrinhos realmente boas pode ser um tanto raro. Felizmente,
Vincent, da cartunista Holandesa Barbara Stok se enquadra na sessão das boas.A
HQ conta a história da vida do pintor Vincent van Gogh, conhecido por suas
telas cheias de um colorido representando belas paisagens e pessoas comuns em
atividades cotidianas. Também é lembrado como tendo cortado a própria orelha em
um momento de loucura.
O álbum lançado no
Brasil pela editora LP&M começa com Vincent saindo da casa do irmão Theo, e
indo morar em Provence, numa tentativa de que os novos ares lhe tragam muita
inspiração pra pintar. Mesmo que no começo da nova vida, ele ainda tenha o sustendo
financiado pelo irmão. A autora narra as dificuldades e os bons momentos que o
pintor passa em sua nova cidade, alternando sempre com inserções de Theo e sua
esposa comentando a vida de Vincent através das cartas que recebe dele.
O começo quando ele ainda
precisava se firmar profissionalmente no local, e economizar o máximo de
dinheiro pra poder sobreviver e pintar, e depois enviar as obras ao irmão, que
tenta vendê-las, passando pelas amizades, amores e até uma certa boemia entre
as pessoas da cidade. Tudo é contado de forma simples, mas objetiva, pra nunca
fugir da fluência que uma boa obra ficcional pede. Mesmo que seja uma
biografia, e que os acontecimentos da vida dele sejam narrados em ordem
cronológica.
O traço cartunístico da
autora só ajuda a dar o clima leve da HQ, mesmo que ela não tenha pudor em
mostrar o lado mais insano da vida dele. Seus problemas nervosos, seus acessos
de fúria e loucura, tudo tratado com seriedade como a doença deve ser vista.
Mas sempre sem julgá-lo por sua conduta ou estilo de vida escolhido. Este Van
Gogh é um sujeito bastante simpático e acessível ao leitor. É fácil gostar
dele, e sentir pena quando seus planos, como a criação de uma morada de
artistas, não dão certo. Mesmo nos momentos finais da vida dele, quando todo o
clima assume um tom mais melancólico, Barbara Stok consegue fazer com que sua
história ainda tenha um certo otimismo.
Apesar do estilo dela,
não pense o leitor que sua HQ é simplória. Ao contrário. Seu traço é bastante
expressivo, principalmente nos rostos e emoções dos personagens. E o uso de
cores chapadas e berrantes, bem no estilo que Van Gogh usava em seus quadros,
acrescentam um charme a mais à esse belo álbum. Mas essas não são os únicos
recursos utilizados por ela. Quando dos momentos de tensão e acessos nervosos
de Vincent, ela cria quadrinhos verdadeiramente “psicodélicos” pra representar
isso. A cena em que ele corta a orelha é uma das mais criativas e originais já
feitas em uma HQ, pra uma cena tão tensa.
Outras ótimas sacadas
sapo os momentos sem texto. Ou o fato de não haver recordatórios, apenas em
algumas páginas há trechos das cartas de Vinvent pra Theo. Uma forma de mostrar
a passagem do tempo ao mesmo tempo que informa o leitor dos pensamentos do
personagem e dos fatos reais. Uma obra que recomendo pra todo apreciador de uma
boa HQ, seja um fã de Van Gogh, ou não.
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