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segunda-feira, 29 de setembro de 2014
sábado, 27 de setembro de 2014
BIDU CAMINHOS
A cada novo lançamento da coleção
Graphic MSP, o primeiro impulso é o
de comparar com as edições anteriores. Ao meu ver(não sei se todos concordam),
“Astronauta Magnetar” e “Laços” sem querer, estabeleceram um parâmetro para os
álbuns seguintes: ou são uma releitura que vai bem longe do original, como
“Magnetar”, ou é fiel às originais, mas com um toque autoral, como “Laços”. A
maioria das críticas que tenho lido sobre a série parecem apontar isso. Mas,
fechada a “primeira fase” das Graphics, chega as bancas “Bidu – Caminhos” que
mostra que as histórias são maias do que apenas isso.
Produzida por Eduardo Damasceno e
Luís Felie Garrocho, a dupla que produziu “Achados
e Perdidos”, a primeira HQ nacional financiada pelo Catarse, Bidu é uma
história que, a primeira vista, pode contradizer a teoria que apresentei no
parágrafo anterior, pois ela é basicamente uma forma autoral de recontar o
primeiro encontro do Bidu com o seu dono Franjinha. Mas ela vai muito além
disso. Primeiramente, o Franjinha é quase um coadjuvante na revista. Sim, ele
aparece, e com certa importância pra história, mas o Bidu, que dá título à
revista, é o verdadeiro protagonista.
A história mostra o Bidu como um
cachorro de rua, que vive em um ferro velho. Expulso de sua “casa” por Rúfius,
outro cachorro de rua, grande e bravo, ele vaga pelas ruas, até ter uma ideia:
se deixar ser apanhado pela carrocinha. Assim, ele ao menos terá um teto e
comida. Aqui cabe um adendo: ótima ideia dos autores de mostrar o canil como um
lugar que cuida bem dos cachorros, bem diferente do que se costuma ver em
histórias, que mostra canis como presídios pra animais, e seus funcionários
como carcereiros cruéis. Aqui, os funcionários são boas pessoas, e o canil mais
parece um spa pra cachorros. Bidu não é o único cão capturado pela carrocinha,
mas Rúfius acaba indo parar lá também. Agressivo, um dia ele arma uma fuga. E
vão juntos Bidu, e Duque, um cachorro que sente falta de sua dona.
A partir daí, a história é sobre
a fuga deles, e como esse breve relacionamento entre os três promove uma leve
mudança em suas vidas. Em especial, caro, Bidu, que parece reavaliar sua vida
como um errante solitário.
E, ao mesmo tempo, em um toque
simples mas genial dos autores, Franjinha, como um coadjuvante, vai seguindo
sua trajetória paralelamente. Ele abre a revista falando com sua mãe que quer
ter um amigo: um robô, ou um cachorro. Sua mãe o ajuda, e, nas “pausas” da
trama do Bidu, é mostrado como sua aventura em busca de um cãozinho se
desenrola. Genial, pois em cada aparição, é contada apenas uma parte da trama
maior que o Franjinha planeja. E os fatos mostrados não parecem ter ligação com
isso. Mas só aparentemente.
Outra grande sacada é o uso dos
recursos da linguagem gráfica empregada pela dupla de autores. Assim como nas
obras de Will Eisner, aqui as onomatopeias não estão apenas indicando sons, mas
fazem parte do cenário e dos “objetos”. Um belo exemplo é quando Bidu esta com
fome, e o “som” de seu estômago roncando agarra e aperta sua barriga. Outro ótimo
recurso são as “falas”dos cachorros. Ao invés de palavras, os cães da HQ falam
através de imagens. O que eles estão falando aparece desenhado nos balões de
diálogo. Além de visualmente bacana, esse recurso faz com que os animais não se
fiquem antropomorfizados, mas continuem sendo cachorros durante toda a HQ. E
até denota a personalidade de cada um deles. Rúfius, por exemplo, “fala”através
de diagramas de projetos. O que faz o leitor identificar nele uma atitude de
falsa intelectualidade, um ar superior de quem apenas acha que está falando de
forma inteligente, mas que não consegue se fazer entender pelos interlocutores.
Seguindo esse mesmo raciocínio, é interessante notar como Duque é mais
detalhista em seus diálogos, e Bidu fala com poucas imagens. Cada qual com sua
personalidade, como eu disse.
Com uma história digna das
animações que são indicadas ao Oscar, todas essas qualidades fazem de Bidu
Caminhos uma leitura imperdível!
Originalmente publicada em: http://artecompipoca.net/index.php/bidu-caminhos-resenha/
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
FRADIM
Não conhece o trabalho do Henfil? Um dos maiores artistas da HQ nacional de todos os tempos?
Então, aproveite a chance de conhecer, agora que a coleção FRADIM está sendo relançada.
COLEÇÃO FRADIM
Quem nunca ouviu falar de HENFIL?
Bem, talvez os mais jovens não saibam, mas Henrique de Souza Filho foi um dos
mais importantes cartunistas do Brasil. Com seu traço despojado de detalhismos,
e seu humor crítico e politizado, a obra do cartunista é parte da história
política do nosso país, além de ser influência de muitos dos grandes
cartunistas e humoristas da atualidade.
Muitos de seus personagens
representam a situação em que o país se encontrava na época, e não por acaso,
muitas de suas tiras e charges foram proibidas pela censura da ditadura. Entre
seus personagens mais famosos, estão a Graúna, e os Fradins.
Os Fradins (ou Fradinhos), são
uma dupla de frades, Cumprido e Baixim. Cumprido é sério, e procura seguir com
a vida correta, enquanto o Baixim é sarcástico e politicamente incorreto. Os
personagens foram inspirados em dois padres franciscanos que o autor viu certa
vez. Ele contou que um deles era alto e estava com um semblante sério, enquanto
um mais baixo estava com um sorriso misterioso no rosto. Essa imagem o levou a
criar essa dupla. Confesso que a primeira vez que tive contato com as charges
da dupla, fiquei chocado ao saber que naquela época já se fazia esse tipo de
humor sem amarras do falso moralismo. E engraçadíssimas!
Em 1970, Henfil criou a revista
FRADIM, que publicava seus personagens. Com uma periodicidade inconstante, a
revista durou 31 edições, e publicou vários dos personagens de Henfil
acompanhando os Fradinhos. Graúna, Zeferino, Bode Francisco, entre outros. A revista
terminou em 1980, mas Henfil continuou produzindo e publicando até seu
falecimento, em 1988. Ele se foi, mas seu desenho ficou na memória de todos os
leitores de quadrinhos do Brasil.
Agora, uma parceria entre a ONG
Henfil, e o Instituto Henfil está trazendo de volta todas essas edições da
revista Fradim, além de um “número zero”, pra apresentar a coleção e os
personagens.exatamente como elas foram publicadas pela primeira vez, no formato
tablóide. Incluindo até mesmo as sessões de cartas, onde o autor faz
verdadeiros debates com os leitores sobre as atualidades do país, além de seus
trabalhos.
Aliás,falando em atualidades, o
leitor que nunca leu nada do Henfil vai se surpreender com a atemporalidade dos
seus trabalhos. As histórias continuam atuais. Muitas das críticas feitas à
época poderiam ter sido feitas hoje. Como se nossa situação não tivesse mudado.
Um grande artista é assim: Eterno!
terça-feira, 23 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
20TH CENTURY BOYS
Um dos melhores mangás em bancas atualmente. De Naoki Urasawa, o mesmo autor de Monster.
Leia minha resenha aqui: http://artecompipoca.net/index.php/20th-century-boys/, publicado originalmente em 2014.
20th CENTURY BOYS
Se eu puder eleger os dois
melhores mangás em bancas brasileiras atualmente, escolho “Monster” e 20th
Century Boys”, não por acaso ambos escritos e desenhados por Naoki Urasawa. Um
dos mestres dos mangás adultos de suspense, ele cria tramas cheias de
reviravoltas, e personagens críveis. Pra aqueles que não são leitores assíduos
de mangás, e que torcem o nariz ao ver qualquer mangá juveni super colorido nas
bancas, saiba que este é um mangá dirigido ao público adulto. Tanto a trama
quando o estilo de roteiro e desenhos são diferentes dos mangás que são
voltados apenas aos jovens. Aqui há uma história mais densa, narrada com a
precisão necessária. E os desenhos procuram ser mais realistas.
Em 20th Century Boys (título
tirado de uma música da banda setentista T-Rex, e que tem bastante a ver com
momentos da história), a história começa no fim dos anos 90, quando Kenji Endo,
um adulto dono de uma loja com a mãe e a sobrinha, que sonhava me ser um astro
do rock acaba tomando conhecimento de uma conspiração política envolvendo todo
o Japão, e talvez o mundo. Essa conspiração está sendo arquitetada por um
político que nunca mostra o rosto, e é chamado apenas de “Amigo”. Fundador do
“Partido da Amizade”, uma seita que utiliza como plano de dominação mundial as
histórias criadas pelo próprio Kenji e seus amigos, quando eram crianças no
final dos anos 60. Os planos dos garotos
eram se tornarem heróis, salvando o mundo de ameaças como robôs gigantes
movidos a energia nuclear. Mas o “Amigo” vai usar esses planos para trazer mais
pessoas para sua seita, e dominar o Japão.
Nas primeiras edições, o autor
constrói a trama de conspiração ao mesmo tempo em que nos apresenta os
personagens, em sua vida adulta, e sua infância, em flashbacks passados nos
final da década de 60. Kenji acredita que o tal “Amigo” é uma das crianças de
seu grupo, mas não consegue sequer lembrar detalhes de seu plano de salvar o
mundo. E pra impedir os planos do “Amigo”, é preciso lembrar de todas essas
informações. Uma verdadeira corrida contra o tempo, pois o plano do vilão tem
data marcada para acontecer: a virada do milênio.
Essa é a trama dos primeiros
volumes. Mas Urasawa narra com uma abundância de detalhes, e com uma construção
perfeita de cada um dos envolvidos nela, que o leitor consegue sentir a vida de
cada um dos personagens da história. Mesmo os que aparecem pouco. Ao mesmo
tempo em que vamos conhecendo cada vez mais detalhes do passados dos garotos,
tomamos conhecimento dos eventos que antecederam esse “fim do mundo” programado
para a virada do milênio.
E, como um grande mestre da
narrativa, em pouco volumes Naoki Urasawa dá um salto cronológico, e a história
avança até o ano de 2014. Bem no momento em que o nosso grupode heróis iria
investir contra o ataque do “Amigo”. Neste mundo “futurista”, o Japão está em
paz. Tudo graças ao “Amigo”, considerado o grande herói do “Reveillon de
Sangue”. E o Partido da Amizade domina o país, em um estado ditatorial
disfarçado, quase como em 1984, de George Orwell. Nesse mundo, Kana, a sobrinha
de Kenji é a nossa nova heroína. Ela sabe o que realmente aconteceu na virada
do milênio, mas a princípio não pode fazer nada. Mas quando uma nova
conspiração começa a se aproximar dela, a trama retoma sua narrativa de
suspense.
E, quando acreditamos que a
revista será agora apenas sobre a heroína em 2014, eis que novos flashbacks
recontam o que aconteceu nos anos entre esse salto cronológico. Mas, ao
contrário do que pode parecer a princípio, o autor não se perde, e não faz com
a história fique dividida entre o antes e o depois do “Reveillon de Sangue”.
Independente de qual tempo está sendo mostrado na trama, há um senso de unidade
o tempo todo. O leitor que for fisgado nos primeiros números da revista, com
toda a certeza vai querer continuar acompanhando até o final (como eu). Ao
todo, a série possuirá 22 volumes, e no Brasil está sendo publicado pela
Panini.
domingo, 21 de setembro de 2014
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
HELLBLAZER INFERNAL - HÁBITOS PERIGOSOS
Um homem descobre que está com
câncer terminal no pulmão. Mas decideo que não vai se entregar tão facilmente.
Não, eu não estou falando do Wlater White, mas de John Constantine, o maior e
mais famoso mago dos quadrinhos adultos, criado por Alan Moore em 1985, durante
sua passagem pela revista do Monstro do Pântano. Em um encadernado que acaba de
ser lançado pela Panini, ele enfrenta um mal que talvez nenhum de seus
“poderes” e conhecimento de magia poderão ajudar a vencer.
Publicado Nos EUA em 1991 na
revista mensal do mago, HELLBLAZER,
a saga começa quando John descobre que está com câncer terminal, devido ao uso
abusivo de cigarro. Quem conhece o personagem sabe que um dos seus charmes é
justamente esse vício. O cigarro dá ao personagem um ar de malandro, que só
ajuda a acentuar sua canalhice. Assim, Garth
Ennis, na época estreante no mercado americano, teve a brilhante ideia de
começar sua fase na revista com a descoberta de que o protagonista está às
portas da morte devido à isso. “O que eu poderia fazer com ele que ainda não
havia sido feito? Matá-lo, talvez.”, diria o autor mais tarde.
Quem conhece o trabalho atual de
Ennis pode achar bem estranho este arco inicial de Hallblazer, pois o humor
negro e violência “tarantinesca” que se tornou marca registrada dele não se
encontra nesta HQ. Talvez por ainda estar amadurecendo como escritor, por
Constantine ser um personagem mais sério, ou devido a temática da trama, o
humor não se encontra. De certo modo, ainda bem, pois um pouco do humor dele
hoje em dia é muito exagerado. A seriedade em Hellblazer faz parte da essência
da revista, mesmo que alguns poucos momentos sejam leves, devido ao humor do
próprio Constantine.
A primeira parte da história é a
mais verborrágica. Praticamente toda contada a través de recordatórios, começa
com John em um café, pensando sobre a vida, e os acontecimentos após a
descoberta da doença, e os estágios pelos quais a pessoa passa nessa situação. Poucos
diálogos, mas sem deixar a história chata. Um recurso pra aproximar o leitor do
drama que deve ser a situação de se descobrir com câncer.
A partir da segunda parte, a
história já ganha mais movimento, com John primeiramente procurando um velho
amigo também mago, com a intenção de encontrar uma cura mágica. O amigo,
Brendan Finn, também está morrendo, e cabe a John salvar sua alma do Diabo, que
vai em pessoa recolhe-la. A forma como John ludibria o tinhoso é digna dos
melhores momentos deste personagem tão sacana, e faz com o Demônio (mais tarde
chamado de “Primeiro dos Caídos”) passe a perseguir Constantine durante toda a
passagem de Ennis pela revista (que durou mais de 40 edições, entre 1991 até
1993, quando Ennis passou a escrever sua obra prima, PREACHER).
Nas histórias seguintes da saga,
John se despede dos familiares, até que uma inusitada ideia lhe surge à mente:
vender a alma para três demônios, em seguida, tentar o suicídio. Como isso
poderá ajudá-lo a vencer o câncer? Melhor deixar o leitor ler, pois é um planos
mais geniais que já vi em histórias de terror. E ainda há espaço para o drama,
na forma de um novo amigo que John faz, um idoso interno do hospital, também
com câncer terminal.
Considerada como uma das melhores
histórias do personagem (se não for A melhor), este arco serviu até mesmo de
inspiração para o filme do personagem, de 2005, com Keanu Reeves. Apesar de
pouco fiel às hq’s, o fato de John estar com câncer serviu de base do roteiro,
assim como a participação do anjo Gabriel na trama. E não duvido nada se esta
saga servir de trama para o vindouro seriado Constantine (Com o câncer durando
toda uma temporada, talvez?).
A revista possui apenas um
defeito: os desenhos. O traço de Will Simpson são um tanto feios, com uma falta
de coerências nas feições de todos os personagens durante toda a história, mas
pelo menos o desenhista domina o ritmo narrativo, e a leitura é ótima assim
mesmo. A mudança de arte finalista em cada edição também contribui para a essa
inconstância das feições dos personagens.
Após a conclusão da fase inicial
do personagem, em “Hellblazer Origens”, a fase seguinte começa com o título
“Hellblazer Infernal”, e, para o leitor que ainda não teve o prazer de ler a
fase Garth Ennis, é uma das melhores do personagem. Ennis escreveu um
Constantine mais humano, no sentido de ser mais próximo de uma pessoa real. Um
cara comum que só quer beber com os amigos, e que sabe que seu principal poder
mágico é a esperteza. Claro que, sem deixar de lado os monstros e demônios do
dia a dia dele.
A edição inicial tem 212 páginas,
possui 8 histórias da saga “Hábitos perigosos” e seu epílogo, e já está nas
bancas. Essas histórias já haviam sido lançadas no Brasil, primeiramente pela
editora Abril, em 1995, nos primeiros números da revista VERTIGO. Anos depois,
a Pixel publicou Hábitos Perigosos como encadernado, mas sem o epílogo. Agora,
teremos a história completa, além da promessa da Panini de publicar toda a fase
Ennis. Acredito que, se o leitor nunca leu nada do personagem, pode acontecer o
mesmo que aconteceu comigo quando li a edição da editora Abril: ficar fã do
personagem, e começar a colecioná-lo. Garanto que você não vai se decepcionar.
Publicado originalmente em http://artecompipoca.net/index.php/hellblazer-infernal-habitos-perigosos/
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS # 48
Tem professor que só falta isso mesmo...
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quarta-feira, 17 de setembro de 2014
DARK HORSE APRESENTA
O mercado nacional pra quadrinhos
adultos está em um bom momento. Se os super heróis ainda dominam o mercado, e
os preços das hq’s adultas está nas aulturas, pelo menos tem muita coisa boa
sendo lançada. E a editora HQM está lançando uma nova revista mensal que tem
tudo para ocupar o lugar da finada Vertigo como a principal revista mensal de
hq’s adultas do mercado.
Com 84 páginas, e papel de
qualidade, a revistas é uma versão da homônima americana, e trás várias hq’s
curtas, algumas completas, outras seriadas, de grandes autores do meio. Só o
fato de ter uma HQ do “Concreto” já é motivo de alegria! Quem não conhece o
personagem criado por Paul Chadwick, não sabe quem é um dos melhores
personagens criados. Concreto é um homem que foi abduzido por alienígenas, e teve o corpo
transformado em pedra. Agora ele usa suas capacidades modificadas para ajudar
as pessoas. Mas sua real intenção é conquistar o coração de sua amiga e agente,
Maureen. Nesta primeira edição da revista, vemos um passeio noturno com o
cachorro acabar em um caso de polícia com duas situações que se amarram
brilhantemente. Chadwick é um ótimo contado de histórias.
Além dessa HQ chama a atenção um
conto de Natal diferenciado de Mike Mignola (o criador do Hellboy), que, sem
muitas explicações, nos mostra o que pode ser uma outra versão do Papai Noel.
Conhecendo Mignola, provavelmente é uma versão folclórica atualmente
“esquecida”de algum país europeu. Muito boa!
Além desses, há outros autores
“top de linha”, como Howard Chaykin, Neal Adams, Richard Corben, e até um conto
do “Bad Boy da FC” Harlan Ellison. Também há um preview curto de Xerxes, a nova
HQ do Frank Miller, junto à uma entrevista com ele, comentando sobre a HQ, e
sua relação com “300”.
Para uma primeira edição, a HQM
acertou em cheio, trazendo lado a lado os grandes veteranos com autores
desconhecidos por aqui. O único porém vai pela própria proposta da revista
original em trazer hq’s curtas. Se por um lado, é bom pra ter uma maior
variedade (a Juiz Dredd Megazine que o diga), por outro alguns dos artistas
acabaram fazendo primeiros capítulos de HQ’s que não dizem nada sobre sua
trama. Neal Adams com seu “Blood”, e Howard Chaykin com “Marked Man” são os
exemplos disso. Não dá pra saber se serão histórias boas ou não, já que as
poucas páginas são insuficientes pra dizer algo sobre elas. Mas, pra quem
conhece os respectivos autores, ao menos dá pra reconhecer que eles ainda estão
em ótima forma.
Já Carla Speed McNeil, com sua
“Finder”, se saiu melhor. No expediente consta com sendo capítulo 1, mas a
história é tão concisa e direta, que parece estar completa. Mesmo que nas
próximas edições tenham mais aventuras do seu personagem, esta história já se
completa por si. E que história! A autora está de parabéns! Com um traço
simples (lembra uma mistura de Darwyn Cook com Mike Allred), ela conta em
apenas 8 páginas a história de um bandido que tenta arrumar um emprego normal
de entregador. Poucos diálogos e muitas informações contadas pelos desenhos
fazem desta uma ótima leitura. Nunca ouvi falar dessa autora, mas de cara, ela
me conquistou. Se as próximas histórias desse personagem forem tão divertidas
quanto essa, já é um bom motivo pra continuar comprando a revista.
O restante da revista não faz
feio. Pra quem acha que o mercado das grandes editores americanas é feito só de
super heróis e histórias próximas desse gênero, DARK HORSE APRESENTA é uma
grande surpresa. As hq’s curtas de humor aqui presentes lembram mais o tipo de
HQ’s que vês mais nas antologias europeias. Com certeza, se as vendas forem
boas, e se a editora fizer um bom trabalho de divulgação, teremos uma séria
candidata a “melhor HQ mensal pra adultos” da atualidade. Vamos torcer!
terça-feira, 16 de setembro de 2014
RECITAL DE POESIA
Eu nem gosto de futebol, e estou fazendo uma tira dessas? É o fim do mundo, mesmo...
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014
BATMAN - ANO UM
Em 1986, logo após terminar sua
clássica O CAVALEIRO DAS TREVAS, Miller se juntou ao artista David Mazzuchelli,
com quem havia feito “A Queda de Murdock” para o Demolidor, e juntos, começaram
a recontar a origem e os primeiros dias de Batman como combatente do crime.
Em quatro capítulos, Miller
começa mostrando a chegada de Bruce à sua cidade, após os anos de estudo e
treinamento no exterior, paralelamente à chegada de Gordon. O primeiro capítulo
é focado nos dois se adaptando a nova cidade. Enquanto vemos Bruce Wayne dando
seus primeiros passos no combate ao crime, vemos Gordon (então, um tenente) conhecendo
como funciona toda a corrupção policial da cidade, com o aval do comissário
Loeb.
Com cortes temporais marcados
pelas datas do ano em que a cena ocorre, Miller nos leva rapidamente às ações
que moldaram os personagens, e em poucas páginas, vemos várias semanas que
mostram como cada um foi ficando mais maduro em sua determinação.
No primeiro capítulo, Bruce tem
mais destaque, com sua desastrosa
primeira investida contra o crime, terminando com a clássica cena em que
um morcego quebra sua janela, da ndo-lhe a inspiração para criar um uniforme. Do
segundo capítulo em diante, Gordon se torna o protagonista, tendo Batman como
uma figura mitológica da cidade, quase sempre aparecendo nas sombras. Assim,
Gordon representa como a cidade vê o surgimento de um vigilante vestido de
morcego fazendo o que a polícia não faz.
Ao deixar o Batman levemente de
lado, Miller faz da história algo “mágico”, pois além do fato de conhecermos
James Gordon como uma pessoa com conflitos mais dramáticos, ele foge de ter que
mostrar pela enésima vez o drama psicológico de Bruce Wayne, suas motivações,
etc, etc. Ele se torna o Batman, e pronto! Agora, vamos ver como os cidadão de
Gotham reagem a isso, e como a polícia o trata. De certo modo, deixa a HQ até
mais realista.
Outro destaque à a presença da
Mulher Gato. Em poucas páginas, Miller define com precisão a prostituta que
decide “mudar de carreira”, se inspirando no Morcego para praticar roubos. Ela,
diferente de outros bet-vilões (e até mesmo de suas versões anteriores) não sofre
de nenhuma perturbação psicológica, apenas se fantasia para roubar. Simples.
Ela acabou chamando tanta atenção que a DC tentou convencer Miller a fazer uma
história com a origem dela. Não entraram em acordo, e anos depois, outros
autores fizeram a tal história, sem o mesmo brilho de “Ano Um”.
BATMAN – ANO UM se tornou um
marco nos quadrinhos, por sãs características únicas como uma forma de
modernizar de forma mais “adulta” as origens e motivações de personagens, além
de ser considerada até hoje como a história definitiva de como Batman começou
sua carreira, desde então, fazendo parte da cronologia, e servindo de base para
todo roteirista que decide recontar a origem dele. A HQ também serviu de base
para o filme BATMAN BEGINS, além de ter uma adaptação feita em animação super
fiel.
domingo, 14 de setembro de 2014
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
O ESTIGMA DO BATMAN
Uma HQ sobre a influência do Batman na vida de um fã, no mundo real. Criativa, e tocante. Leia minha crítica aqui:
O ESTIGMA DO BATMAN
Em 2000, a DC publicou uma curta
série que tinha uma proposta genial: “Mundo Real”, uma espécia de “Elseworlds”,
mas com histórias que se passavam em nosso mundo, onde os super heróis são nada
mais que personagens de gibis. Nessas histórias, os feitos dos gibis
influenciam a vida de personagens da vida real. Apenas dois volumes foram
publicados aqui no Brasil, sendo o primeiro deles O ESTIGMA DO BATMAN, uma das melhores e mais tocantes.
Magistralmente escrita por Christopher Golden e Tom Sniegoski, e ilustrada por Marshal Rogers, que já havia feito uma
fase do Morcego nos anos 70, a história se passa em 1989, a poucos dias da
estreia do primeiro filme do Batman dirigido por Tim Burton, e apresenta Charlie
Duffy, um rapaz de 28 anos que possui uma leve deficiência intelectual, e
acredita que é o Batman, seu herói favorito. Ele possui vários utensílios e
memorabília do Batman, além se sempre andar com uma camiseta com o emblema do
morcego estampada. Em seu dia a dia, ele age como se estivesse em um episódio
da bat-série dos anos 60.
Quando criança, ele tinha uma
melhor amiga, Clarissa, que era a sua
Robin. Os dois brincavam pelo bairro usando as fantasias da dupla dinâmica. Mas
um dia, Clarissa precisou mudar, e os dois nunca mais se viram. Passados mais
de 10 anos, uma moça aparece no mercadinho em que Charlie trabalha, e rouba um
produto. Charlie acredita que a ladra é a Robin que voltou. Para ele, talvez
ela tenha sofrido lavagem cerebral por algum vilão. E, ao encontrar ela com um
marginal, ele acha que este é o Coringa, e tenta salvá-la. Mas uma pessoa como
Charlie não sabe com lidar com marginais violentos e viciados em drogas, por
isso, ele acaba se dando mal em alguns momentos.
Esta história é uma das mais
tocantes hq’s que já tive o prazer de ler. Personagens com algum distúrbio
mental sempre me agradaram, como Forrest Gump, Rain Man, etc. Esta hq segue o
mesmo estilo, de ser uma história singela, emotiva, com aquele gosto do olhar
inocente que uma pessoa nessa condição tem sobre o mundo . Há momentos em que
você ri das situações. É engraçada a forma como Charlie age, acreditando que é
o Batman. Mas ao mesmo tempo, quando as mazelas do mundo real se chocam com
ele, na forma da Clarissa adulta e envolvida com o crime, chega a ser triste.
Os autores conseguem trazer uma
história perfeita em sua proposta, sem ser piegas, nem tocar na deficiência de
Charlie de forma “didática” (por falta de uma palavra melhor), com personagens
muito bem construídos, com diálogos e motivações bastante realistas. São
pessoas que agem como gente do mundo real, coisa rara de ser ver em quadrinhos.
E o desenho de Marshal Rogers, bem diferente do traço estilizado que ele usou
quando de sua passagem pelas revistas do Morcego nos anos 70 (uma fase muito
elogiada pelos fãs). Aqui, ele usa de um estilo realista, com enquadramentos
tradicionais. Tanto que, em algumas páginas, o uso de recursos mais ousados não
funcionou bem. Mas nada que atrapalhe o andamento da trama.
E, de “brinde”, esta HQ tem uma
bela homenagem ao lançamento do filme do Batman, em 1989. Curioso ver a
“batmania” da época pelos olhos de Charlie. E forma como ele demonstra sua
devoção para o Batman que se conhecia popularmente até então, o do seriado,
para o “Batman Cruel” (palavras dele), depois do lançamento do filme.
Por isso, além de recomendar esta
excelente história, eu a indico como tributo dos 25 anos da estreia do filme,
em 23 de junho de 1989.
terça-feira, 9 de setembro de 2014
ANTIGAMENTE E HOJE
Quem lembra dessa zoeira? Tá ficando velho, então.
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segunda-feira, 8 de setembro de 2014
O SOMBRA - O FOGO DA CRIAÇÃO
"Quem sabe o mal que se esconde no coração dos homens?"
Leia minha crítica desta HQ, e descubra!
O SOMBRA
O Sombra é um dos personagens mais interessantes criados na época
dos pulps. Com sua capa e chapéu, o rosto coberto por um cachecol vermelho, e
seu par de colts, ele executa os bandidos de forma implacável, e também usando um certo poder místico para acabar com o crime
da Nova Iorque dos anos 30, além de seu bordão “ Quem sabe o mal que se esconde
no coração dos homens? O Sombra sabe!”
Na verdade, o personagem surgiu
como apresentador de um programa de rádio, em1930. Mas o sucesso o fez virar
protagonista, tendo mais tarde migrado para os pulps e para os quadrinhos. Sua
mais recente encarnação nos quadrinhos saiu nos EUA pela Dinamite, cujo
primeiro arco, escrito por Garth Ennis,
foi publicado aqui no final do ano passado, pela Mythos. Entitulado “O Fogo da
Criação”, o encadernado contém os primeiros seis números da revista, e mostra o
Sombra enfrentando um perigo para o mundo durante a Segunda Guerra Mundial.
Pra quem não está familiarizado
com o Sombra, basta saber que ele é a identidade secreta do milionário Lamont
Cranston, embora ele também seja conhecido por ter outras identidades secretas,
e aparentemente, ele assume várias identidades para poder agir pelo mundo todo,
em seu combate ao crime. Quando ele veste as roupas do “herói”, se torna um
vigilante dos mais violentos já visos nas histórias policiais.
Na trama, Cranston é “contratado”
pelo serviço secreto americano para investigar e impedir os planos de um
criminoso japonês, e seu comparsa chinês, que podem mudar os rumos da Segunda
Guerra. Um enredo, que, apesar de se passar durante a Guerra, aqui é mostrado
mais o lado de espionagem da época. Ennis já declarou ser fãs de histórias de
guerra, e aqui se mostra não apenas um apreciador do gênero, mas um grande
conhecedor de história.
Apesar de fugir bastante do
universo tradicional do personagem, cuja maioria das histórias clássicas sempre
foram mais urbanas, mostrando o vigilante caçando gângsteres, Ennis criou uma
boa história de espionagem, no melhor estilo dos grandes filmes atuais do gênero.
A trama segue os parâmetros do estilo, com os vilões desenvolvendo um plano
secreto, que é investigado pelo herói ao mesmo tempo em que está sendo tramada,
levando todos até um confronto no final, salvando o mundo no “último momento”.
Talvez o que possa causar maior estranheza nos fãs do Sombra seja o fato de que
o vigilante aparece pouco, enquanto Lamont Cranston protagoniza a saga a maior
parte do tempo.
Claro que, em se tratando de um
escritor de qualidade como Ennis, a história procura fugir dos clichês fáceis
do gênero, se mostrando uma história com uma boa dose de originalidade. E, para
quem conhece Garth Ennis como amalucado escritor de Preacher e outras sagas cheias de violência e humor negro, aqui ele
se mostra bastante contido. Quase como em sua fase inicial em Hellblazer. Infelizmente, há um pouco
do “Ennis de sempre” na forma de Pat Finnegan, um personagem irritante, que
parece estar ali apenas como o alívio cômico que o escrito sempre gosta de
colocar. Infelizmente, uma cópia de todos os outros personagens do tipo que ele
costuma colocar em suas histórias (já vi vários assim em Hitman, por exemplo).
O traço de Aaron Campbell é belo e realista, com um ótimo “feelling” para o
ritmo narrativo, e não cansa em momento algum, como acontece com alguns
desenhistas de traço realista. Pelo contrário, seu desenho é ideal para
acentuar o clima “retrô” que a história pede. Outra boa característica do
artista são as cenas de ação, sem modificar seu estilo de enquadramento, ele
cria as imagens com a mesma competência com que faz as cenas “paradas” da
história.
A edição da Mythos é luxuosa, com preço a altura. Poderia ter sido publicada em
uma versão mais simples, por não se tratar de um material tão “top de linha”,
mas, apesar disso, a qualidade da edição é competente, e agradável. Talvez o
chamariz seja o nome de Ennis na capa. Mas, pra quem é fã do personagem, é
imperdível. E, pra novos fãs, uma boa leitura, que pode servir de introdução ao
universo deste maravilhoso personagem.
sábado, 6 de setembro de 2014
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
HOMEM GRILO & SIDERALMAN
Um inusitado encontro de dois super heróis nacionais! leitura divertidíssima! Leia minha resenha aqui:
HOMEM GRILO & SIDERALMAN
Quem disse que os super heróis
nacionais não se encontram em crossovers?
Foi lançada recentemente, a
revista HOMEM GRILO & SIDERALMAN,
revista independente que une os dois personagens em uma mesma aventura.
Pra quem não os conhece, os dois
heróis são criações nacionais que figuram no meio independente, em revistas e
sites. E são personagens que fogem dos padrões
americanos, com histórias focadas no bom humor brasileiro, mas sem
deixar a aventura de lado. Vale a pena ir atrás de cada um deles, pra ler
ótimas histórias. O Homem-Grilo é uma criação de Cadu Simões, e Sideralman, de Will.
Ambos integrantes do Coletivo Petisco.
Esta HQ já começa bem pela capa,
que presta uma homenagem ao clássico primeiro encontro de Super Homem e Homem
Aranha, que foi o primeiro crossover DC/Marvel, ainda nos anos 70. E, o que é
ainda melhor: a história não segue os clichês, mas brinca com eles. O roteiro
de Cadu Simões é enxuto, e com um timing perfeito para as piadas. Ele não faz
como muitos humoristas de quadrinhos, que procuram encher cada página com
diálogos engraçadinhos. Ao contrário, ele transforma a história inteira em uma
grande piada. E sem perder o ritmo em momento algum.
Eu fico tentado a contar detalhes
da história, mas tenho receio de que qualquer coisa que escrever possa estragar
a surpresa do leitor. Acho que o melhor mesmo é ler sem ao menos folhear antes.
E ir apreciando a trama aos poucos, como ela própria se apresenta. Digamos
apenas que o Sideralman aparece em
Osasco City, o lar do Homem-Grilo,
atrás do PROF. CÉREBRO, que se uniu
ao DR. LOUVA-A-DEUS, em um plano
conjunto. Os dois heróis se encontram, e daí... Leia e descubra! O final da
história usa um recurso que pode parecer um anti-clímax, mas que pega o leitor
de surpresa. Genial!
Além desta, há outra história,
também com roteiro do Cadu, mas com arte de Alexandre Coelho, que mostra o
herói “Cricket Rider”, que seria a
versão “tokusatsu” do Homem-Grilo. Tão divertida quanto a história título, ela
mostra um jovem entregador de pizza que se transforma no herói, e precisa
enfrentar um monstro bem no meio de uma entrega.
E, completando a revista, jogos,
tiras com os vilões do Homem-Grilo, e pin-ups com artistas conhecidos do meio
independente homenageando os heróis da revista.
Com 36 páginas, formato americano
e custando apenas R$ 10.00, é uma ótima aquisição pra quem gosta (ou quer
conhecer) os quadrinhos independentes nacionais!
A revista pode ser encontrada em
lojas especializadas em quadrinhos, algumas bancas, ou pela internet.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS # 46
Quer ler mais de minhas tiras? Curta LEXY COMICS no Facebook: https://www.facebook.com/LexyQuadrinhos
terça-feira, 2 de setembro de 2014
STIEG LARSSON ANTES DE MILLENIUM
Uma HQ imperdível para os fãs de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", que conta trechos da vida do autor dos livros. Leia minha crítica:
STIEG LARSSON ANTES DE MILLENIUM
STIEG LARSSON, caso você não saiba, é o autor da famosa “Trilogia Millennium”, onde o repórter MIkael Blomkvist e a hacker Lisbet Salander investigam assassinatos
de mulheres em uma trama que envolve o fascismo da extrema direita com o mais
cruel machismo da sociedade atual. Ativista de esquerda, o autor sempre esteve
engajado nas lutas dos direitos civis dos menos afortunados na Europa, principalmente
em seu país natal, a Suécia. Por isso, usou de seus livros de ficção para
denunciar os atuais acontecimentos políticos na região nórdica. Sua morte, em
2004, antes da publicação do primeiro livro da trilogia, o privou de ver o
sucesso de sua obra, que se tornou um dos livros policiais mais vendidos no
mundo todo, além de ter sido adaptado para o cinema em seu país de origem (leia
aqui), e nos EUA (aqui).
Em 2012, anos após seu
falecimento, o documentarista Guillaume
Lebeau, juntamente com o desenhista Frédéric
Rébéna lançaram uma biografia de Larsson em quadrinhos. Essa obra,
publicada aqui no Brasil pela editora VENETA
(a mesma que publicou A ARTE DE VOAR),
foge do padrão tradicional das biografias, tanto em quadrinhos quanto em
qualquer outro meio, por não ser apenas a história do biografado narrada de
forma linear. Talvez por isso, ela pode ser considerada por alguns como
superficial, por não se aprofundar nos fatos da vida do escritor. Mas, ao
procurar por outro foco, e HQ acaba sendo algo mais do que apenas a vida dele.
Ela procura ser uma forma psicológica, e, de certo modo, poética, de mostrar os
acontecimentos aparentemente isolados da vida dele que formaram seu caráter
como ativista político.
Há uma história cerca da criação
dos livros, que diz que, por volta dos 15 anos de idade, ele foi convidado por
amigos à participar de um estupro coletivo. Ele não participou, mas, mesmo
sentindo pela vítima, não interferiu, por lealdade aos colegas. Algumas fontes
dizem que esse fato nunca aconteceu de verdade, mas segundo Joakim Larsson, irmão do autor, foi o
evento que o levou a lutar pelos direitos das mulheres, e a criar a trama dos
livros, anos depois. Mas esta história não está nesta HQ.
Temos nessa HQ três capítulos
distintos, cada qual em um período da vida de Stieg. O primeiro, passado em 1962, mostra Stieg ainda criança,
quando morava com os avós. Em uma tarde caçando raposas com seu avô, um homem
sábio que ensina ao jovem Stieg sobre os males do mundo da política, em uma
bela simbologia, com a raposa representando os poderes fascistas que querem
dominar e oprimir o homem.
A segunda história se situa em 1977, na África, onde Larsson, já
adulto, e com conhecimentos de combate armado, precisa treinar guerrilheiras
amazonas. Entre a paixão e o dever, ele é um homem que vive sob a sobra da
raposa, que tenta dominar cada vez mais a sociedade. E na terceira história, em
1995, temos o autor que está em vias
de criar sua obra prima. Pensando em
casamento, ao mesmo tempo em que não sabe como colocar no papel todas as
suas ideias pra uma história que servirá de pano de fundo para denunciar o
crescente extremismo do fascismo na Suécia.
São, de certo modo, histórias que
não se aprofundam muito nos aspectos gerais da vida de Stieg Larsson, nem dos
detalhes da criação de Trilogia Millennium, mas que servem de guia pra nos
fazer entender as entrelinhas políticas e sociais que a trama dos seus livros
carregam, e que, a primeira vista, não compreendemos. Ao mesmo tempo, vemos
como o autor se confunde com seus personagens. Stieg é, ao mesmo tempo, o
sensível Mikael Blomkvist, e a impetuosa Lisbet Salander.
Ao final da história, a edição
possui uma completa biografia cronológica do autor, que, juntamente com as
HQ’s, servem pra nos fazer entender melhor a mente de Larsson. Quase como um
complemento da HQ, ou vice-versa.
O roteiro de Lebeau é tradicional
na forma como ele conduz a história, mas bastante cinematográfico. E, apesar do
autor ser um documentarista, a HQ não apresenta as características de um file
documental, mas de uma obra de ficção. O que move a história são os diálogos e
as ações, sem os recursos (ruins) dos recordatórios. Os desenhos de Rébéna
parecem saídos de uma HQ antiga de terror, em muitos momentos parecendo mais
rascunhos. Mas, apesar disso, são “rascunhos bem acabados”, com personagens
expressivos, e um belo conjunto de luz e sombra. Talvez o único pecado dessa HQ
seja o excesso de diálogos. Fora isso, é uma obra ideal para quem quer conhecer
mais sobre a vida do autor de uma das melhores histórias policiais feitas nas
últimas décadas.
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
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