Um homem descobre que está com
câncer terminal no pulmão. Mas decideo que não vai se entregar tão facilmente.
Não, eu não estou falando do Wlater White, mas de John Constantine, o maior e
mais famoso mago dos quadrinhos adultos, criado por Alan Moore em 1985, durante
sua passagem pela revista do Monstro do Pântano. Em um encadernado que acaba de
ser lançado pela Panini, ele enfrenta um mal que talvez nenhum de seus
“poderes” e conhecimento de magia poderão ajudar a vencer.
Publicado Nos EUA em 1991 na
revista mensal do mago, HELLBLAZER,
a saga começa quando John descobre que está com câncer terminal, devido ao uso
abusivo de cigarro. Quem conhece o personagem sabe que um dos seus charmes é
justamente esse vício. O cigarro dá ao personagem um ar de malandro, que só
ajuda a acentuar sua canalhice. Assim, Garth
Ennis, na época estreante no mercado americano, teve a brilhante ideia de
começar sua fase na revista com a descoberta de que o protagonista está às
portas da morte devido à isso. “O que eu poderia fazer com ele que ainda não
havia sido feito? Matá-lo, talvez.”, diria o autor mais tarde.
Quem conhece o trabalho atual de
Ennis pode achar bem estranho este arco inicial de Hallblazer, pois o humor
negro e violência “tarantinesca” que se tornou marca registrada dele não se
encontra nesta HQ. Talvez por ainda estar amadurecendo como escritor, por
Constantine ser um personagem mais sério, ou devido a temática da trama, o
humor não se encontra. De certo modo, ainda bem, pois um pouco do humor dele
hoje em dia é muito exagerado. A seriedade em Hellblazer faz parte da essência
da revista, mesmo que alguns poucos momentos sejam leves, devido ao humor do
próprio Constantine.
A primeira parte da história é a
mais verborrágica. Praticamente toda contada a través de recordatórios, começa
com John em um café, pensando sobre a vida, e os acontecimentos após a
descoberta da doença, e os estágios pelos quais a pessoa passa nessa situação. Poucos
diálogos, mas sem deixar a história chata. Um recurso pra aproximar o leitor do
drama que deve ser a situação de se descobrir com câncer.
A partir da segunda parte, a
história já ganha mais movimento, com John primeiramente procurando um velho
amigo também mago, com a intenção de encontrar uma cura mágica. O amigo,
Brendan Finn, também está morrendo, e cabe a John salvar sua alma do Diabo, que
vai em pessoa recolhe-la. A forma como John ludibria o tinhoso é digna dos
melhores momentos deste personagem tão sacana, e faz com o Demônio (mais tarde
chamado de “Primeiro dos Caídos”) passe a perseguir Constantine durante toda a
passagem de Ennis pela revista (que durou mais de 40 edições, entre 1991 até
1993, quando Ennis passou a escrever sua obra prima, PREACHER).
Nas histórias seguintes da saga,
John se despede dos familiares, até que uma inusitada ideia lhe surge à mente:
vender a alma para três demônios, em seguida, tentar o suicídio. Como isso
poderá ajudá-lo a vencer o câncer? Melhor deixar o leitor ler, pois é um planos
mais geniais que já vi em histórias de terror. E ainda há espaço para o drama,
na forma de um novo amigo que John faz, um idoso interno do hospital, também
com câncer terminal.
Considerada como uma das melhores
histórias do personagem (se não for A melhor), este arco serviu até mesmo de
inspiração para o filme do personagem, de 2005, com Keanu Reeves. Apesar de
pouco fiel às hq’s, o fato de John estar com câncer serviu de base do roteiro,
assim como a participação do anjo Gabriel na trama. E não duvido nada se esta
saga servir de trama para o vindouro seriado Constantine (Com o câncer durando
toda uma temporada, talvez?).
A revista possui apenas um
defeito: os desenhos. O traço de Will Simpson são um tanto feios, com uma falta
de coerências nas feições de todos os personagens durante toda a história, mas
pelo menos o desenhista domina o ritmo narrativo, e a leitura é ótima assim
mesmo. A mudança de arte finalista em cada edição também contribui para a essa
inconstância das feições dos personagens.
Após a conclusão da fase inicial
do personagem, em “Hellblazer Origens”, a fase seguinte começa com o título
“Hellblazer Infernal”, e, para o leitor que ainda não teve o prazer de ler a
fase Garth Ennis, é uma das melhores do personagem. Ennis escreveu um
Constantine mais humano, no sentido de ser mais próximo de uma pessoa real. Um
cara comum que só quer beber com os amigos, e que sabe que seu principal poder
mágico é a esperteza. Claro que, sem deixar de lado os monstros e demônios do
dia a dia dele.
A edição inicial tem 212 páginas,
possui 8 histórias da saga “Hábitos perigosos” e seu epílogo, e já está nas
bancas. Essas histórias já haviam sido lançadas no Brasil, primeiramente pela
editora Abril, em 1995, nos primeiros números da revista VERTIGO. Anos depois,
a Pixel publicou Hábitos Perigosos como encadernado, mas sem o epílogo. Agora,
teremos a história completa, além da promessa da Panini de publicar toda a fase
Ennis. Acredito que, se o leitor nunca leu nada do personagem, pode acontecer o
mesmo que aconteceu comigo quando li a edição da editora Abril: ficar fã do
personagem, e começar a colecioná-lo. Garanto que você não vai se decepcionar.
Publicado originalmente em http://artecompipoca.net/index.php/hellblazer-infernal-habitos-perigosos/
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