Uma HQ imperdível para os fãs de "Os Homens que não Amavam as Mulheres", que conta trechos da vida do autor dos livros. Leia minha crítica:
STIEG LARSSON ANTES DE MILLENIUM
STIEG LARSSON, caso você não saiba, é o autor da famosa “Trilogia Millennium”, onde o repórter MIkael Blomkvist e a hacker Lisbet Salander investigam assassinatos
de mulheres em uma trama que envolve o fascismo da extrema direita com o mais
cruel machismo da sociedade atual. Ativista de esquerda, o autor sempre esteve
engajado nas lutas dos direitos civis dos menos afortunados na Europa, principalmente
em seu país natal, a Suécia. Por isso, usou de seus livros de ficção para
denunciar os atuais acontecimentos políticos na região nórdica. Sua morte, em
2004, antes da publicação do primeiro livro da trilogia, o privou de ver o
sucesso de sua obra, que se tornou um dos livros policiais mais vendidos no
mundo todo, além de ter sido adaptado para o cinema em seu país de origem (leia
aqui), e nos EUA (aqui).
Em 2012, anos após seu
falecimento, o documentarista Guillaume
Lebeau, juntamente com o desenhista Frédéric
Rébéna lançaram uma biografia de Larsson em quadrinhos. Essa obra,
publicada aqui no Brasil pela editora VENETA
(a mesma que publicou A ARTE DE VOAR),
foge do padrão tradicional das biografias, tanto em quadrinhos quanto em
qualquer outro meio, por não ser apenas a história do biografado narrada de
forma linear. Talvez por isso, ela pode ser considerada por alguns como
superficial, por não se aprofundar nos fatos da vida do escritor. Mas, ao
procurar por outro foco, e HQ acaba sendo algo mais do que apenas a vida dele.
Ela procura ser uma forma psicológica, e, de certo modo, poética, de mostrar os
acontecimentos aparentemente isolados da vida dele que formaram seu caráter
como ativista político.
Há uma história cerca da criação
dos livros, que diz que, por volta dos 15 anos de idade, ele foi convidado por
amigos à participar de um estupro coletivo. Ele não participou, mas, mesmo
sentindo pela vítima, não interferiu, por lealdade aos colegas. Algumas fontes
dizem que esse fato nunca aconteceu de verdade, mas segundo Joakim Larsson, irmão do autor, foi o
evento que o levou a lutar pelos direitos das mulheres, e a criar a trama dos
livros, anos depois. Mas esta história não está nesta HQ.
Temos nessa HQ três capítulos
distintos, cada qual em um período da vida de Stieg. O primeiro, passado em 1962, mostra Stieg ainda criança,
quando morava com os avós. Em uma tarde caçando raposas com seu avô, um homem
sábio que ensina ao jovem Stieg sobre os males do mundo da política, em uma
bela simbologia, com a raposa representando os poderes fascistas que querem
dominar e oprimir o homem.
A segunda história se situa em 1977, na África, onde Larsson, já
adulto, e com conhecimentos de combate armado, precisa treinar guerrilheiras
amazonas. Entre a paixão e o dever, ele é um homem que vive sob a sobra da
raposa, que tenta dominar cada vez mais a sociedade. E na terceira história, em
1995, temos o autor que está em vias
de criar sua obra prima. Pensando em
casamento, ao mesmo tempo em que não sabe como colocar no papel todas as
suas ideias pra uma história que servirá de pano de fundo para denunciar o
crescente extremismo do fascismo na Suécia.
São, de certo modo, histórias que
não se aprofundam muito nos aspectos gerais da vida de Stieg Larsson, nem dos
detalhes da criação de Trilogia Millennium, mas que servem de guia pra nos
fazer entender as entrelinhas políticas e sociais que a trama dos seus livros
carregam, e que, a primeira vista, não compreendemos. Ao mesmo tempo, vemos
como o autor se confunde com seus personagens. Stieg é, ao mesmo tempo, o
sensível Mikael Blomkvist, e a impetuosa Lisbet Salander.
Ao final da história, a edição
possui uma completa biografia cronológica do autor, que, juntamente com as
HQ’s, servem pra nos fazer entender melhor a mente de Larsson. Quase como um
complemento da HQ, ou vice-versa.
O roteiro de Lebeau é tradicional
na forma como ele conduz a história, mas bastante cinematográfico. E, apesar do
autor ser um documentarista, a HQ não apresenta as características de um file
documental, mas de uma obra de ficção. O que move a história são os diálogos e
as ações, sem os recursos (ruins) dos recordatórios. Os desenhos de Rébéna
parecem saídos de uma HQ antiga de terror, em muitos momentos parecendo mais
rascunhos. Mas, apesar disso, são “rascunhos bem acabados”, com personagens
expressivos, e um belo conjunto de luz e sombra. Talvez o único pecado dessa HQ
seja o excesso de diálogos. Fora isso, é uma obra ideal para quem quer conhecer
mais sobre a vida do autor de uma das melhores histórias policiais feitas nas
últimas décadas.
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