Conhece BRAT PACK? Uma obra que utiliza super heróis decadentes para criticar a forma como as editora tratam seus personagens e artistas. magistralmente produzida por Rick Veitch (Monstro do Pântano).
BRAT PACK
Rick Veith destila todo seu ódio
ao mercado de hq’s no começo dos anos 80, principalmente À DC Comics.
Rick Veitch, apesar do nome pouco
lembrado atualmente, é um dos principais autores de hq’s adultas dos EUA,
conhecido por dar sequência às histórias do Monstro do Pântano, após a saída de
Alan Moore, brigou com a DC quando esta vetou uma história sua, onde o
Elemental das plantas se encontraria com Jesus Cristo. Com isso, abandonou não
só a revista, como também a editora, e daí vem Brat Pack, sua mini-série que
foca uma crítica nem um pouco velada à industria de quadrinhos de super heróis.
Na época, além de sua história vetada, outro fato que o fez criar esta Brat
Pack foi a morte de Jason Todd, o segundo Robin. Pra quem não sabe, Jason Todd
foi criado em 1983. Na época, Batman havia se separado de Robin, pois a editora
queria acabar com a fama injusta de herói gay do morcego. Mas como o
capitalismo fala mais alto, e Batman e Robin juntos eram uma marca que dava
lucro, a editora transformou Dick Grayson, o Robin original no herói Asa
Noturna, e criou um novo Robin, que seria Jason Todd. Este Robin foi bem aceito
até mais ou menos 1987, quando sua origem foi reformulada, e sua história
passou a ser a de um menino de rua que era adotado por Bruce Wayne. Como menino
de rua, ele passou a ter uma personalidade muito agressiva e rebelde,
desobedecendo o Batman quase sempre. Isso desagradou os fãs, e a editora
resolveu acabar com o personagem, matando-o. Para isso, criou uma linha
telefônica, onde os leitores deveriam decidir se Robin morria ou não. Os votos
pela morte dele venceram, e em 1988, o Coringa o matou. Ah, mas depois foi
criado um novo personagem pra ser Robin, mais agradável aos fãs.
Esse tipo de situação desagradou
e muito Rick Veitch, o que nos leva de volta a Brat Pack. Em sua história,
somos primeiramente apresentados à cidade de Slumburg, onde vivem alguns super
heróis. Eles são idolatrados pela população, mas seus parceiros mirins, não.
Então, um vilão os mata com requintes de crueldade. Mas as mortes deles comovem
a população da cidade, então, os heróis decidem escolher novos jovens pra serem
seus novos parceiros. Aos poucos, Veitch mostra a escolha e treinamento de cada
um dos jovens escolhidos, muitos deles são alienados pelos heróis pra terem
toda uma nova filosofia de vida incorporada em suas atitudes pra servir melhor
como “sidekicks”. O personagem que serve de ligação entre os fatos e o leitor é
Cody, um ex-coroinha que sempre foi fã dos heróis, e sempre quis ser um deles.
Então, com as mortes dos parceiros mirins, ele acaba sendo escolhido pra ser o
novo “Chippy, o menino sensacional”, parceiro do Doninha Noturna.
Como forma de criticar
diretamente a DC, o autor faz com que a história comece com um programa de
rádio, onde o locutor chama os ouvintes à votar em uma enquete, se os parceiros
mirins (ou “bando de pirralhos”, como são chamados pela população da cidade)
deveriam ser mortos ou não. Em seguida, eles são apresentados, cada um com sua
dose de amoralidade, quando o vilão “Doutor Blasfêmia”, aparece e os mata em
uma armadilha.
Os heróis decidem convocar novos
ajudantes, afinal, como as mortes dos antigos causou a comoção nas pessoas,
eles vislumbraram que poderia lucrar com isso. E Rick Veitch escolheu cada
personagem pra usar como símbolo de cada perversão que os heróis da DC poderiam
significar, como se o psiquiatra Fredric Werthan (que publicou um livro chamado
“Sedução do Inocente”, que acusava os quadrinhos de fazer mal aos jovens)
estivesse certo sobre os heróis. Assim, eles são heróis sem pudor algum na hora
de combater seus inimigos, usando e abusando do uso de álcool e drogas,
racismo, pedofilia, sexismo, entre outras coisas. O Doninha, por exemplo, que
representa o Batman, é homossexual assumido, e além de usar do Chippy como
brinquedo sexual, combate o preconceito contra homossexuais estuprando
homofóbicos em público. A senhora da Lua, que representa a Mulher Maravilha,
usa o apelo sexual pra vencer os homens, e depois castrá-los, e ainda guardar
os testículos como troféus.
Cada qual treina um novo
parceiro, sem se esquecer de como isso pode ser lucrativo. Em meio ao combate
ao crime, vemos os heróis se reunindo pra discutir os lucros que os empresários
conseguem com as imagens deles, e como eles podem assinar contratos mais
lucrativos.
E, quanto mais nos aprofundamos
nesse mundo de heróis pervertidos, mais coisas podres ficamos sabendo. Sempre
de forma a satirizar, no pior sentido da palavra, com algum símbolo que os
super heróis dos quadrinhos representam. Mas, como eles mesmos parecem dizer,
eles são representações de combate ao crime, não precisam acreditar em fazer o
bem, apenas suas presenças já trazem uma mensagem à população. E eles acreditam
nos heróis. Como os leitores, que compram seus gibis sem saber como são criadas
as histórias.
Veitch faz tudo isso com um
roteiro enxuto. Nem parece que acontece tanta coisa enquanto estamos lendo, mas
ao mesmo tempo, a história flui com um ritmo diferenciado em cada cena, pra
localizar o leitor no tempo em que ela transcorre, e pra dar o clima exato de
cada momento na vida dos personagens. Outra sacada genial do autor é intercalar
as várias aventuras em uma mesma página. As origens, os treinamentos e algumas
lutas estreladas pelos novos “bando de pirralhos” são mostradas cada qual em
meia página. Assim, a cada quatro páginas, temos a história de cada um deles,
simultaneamente. E, além de cada um ter sua história, os diálogos, e algumas
cenas parecem interligar a cena de um com o outro, em uma técnica narrativa
parecida com a usada por Moore em Watchmen.
E a arte dele está mais limpa no
desenho dos personagens, e mais suja ao retratar os cenários, em um contraste
curioso, mas ideal. Ideal também é a escolha da publicação em tons de cinza.
Não sei se foi tomada pra baratear custos, ou por motivos artísticos, mas os
tons de cinza deixam a história mais depressiva, combinando perfeitamente com o
clima de crítica à situação que os super heróis enfrentavam na época, onde
parecia que atrações chamativas pra aumentar as vendas eram mais importantes
que criar boas histórias que entretecem os leitores.
Pensando bem, as coisas não
mudaram tanto assim.
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