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terça-feira, 25 de março de 2014

BRAT PACK


Conhece BRAT PACK? Uma obra que utiliza super heróis decadentes para criticar a forma como as editora tratam seus personagens e artistas. magistralmente produzida por Rick Veitch (Monstro do Pântano).

BRAT PACK

Rick Veith destila todo seu ódio ao mercado de hq’s no começo dos anos 80, principalmente À DC Comics.

Rick Veitch, apesar do nome pouco lembrado atualmente, é um dos principais autores de hq’s adultas dos EUA, conhecido por dar sequência às histórias do Monstro do Pântano, após a saída de Alan Moore, brigou com a DC quando esta vetou uma história sua, onde o Elemental das plantas se encontraria com Jesus Cristo. Com isso, abandonou não só a revista, como também a editora, e daí vem Brat Pack, sua mini-série que foca uma crítica nem um pouco velada à industria de quadrinhos de super heróis. Na época, além de sua história vetada, outro fato que o fez criar esta Brat Pack foi a morte de Jason Todd, o segundo Robin. Pra quem não sabe, Jason Todd foi criado em 1983. Na época, Batman havia se separado de Robin, pois a editora queria acabar com a fama injusta de herói gay do morcego. Mas como o capitalismo fala mais alto, e Batman e Robin juntos eram uma marca que dava lucro, a editora transformou Dick Grayson, o Robin original no herói Asa Noturna, e criou um novo Robin, que seria Jason Todd. Este Robin foi bem aceito até mais ou menos 1987, quando sua origem foi reformulada, e sua história passou a ser a de um menino de rua que era adotado por Bruce Wayne. Como menino de rua, ele passou a ter uma personalidade muito agressiva e rebelde, desobedecendo o Batman quase sempre. Isso desagradou os fãs, e a editora resolveu acabar com o personagem, matando-o. Para isso, criou uma linha telefônica, onde os leitores deveriam decidir se Robin morria ou não. Os votos pela morte dele venceram, e em 1988, o Coringa o matou. Ah, mas depois foi criado um novo personagem pra ser Robin, mais agradável aos fãs.
Esse tipo de situação desagradou e muito Rick Veitch, o que nos leva de volta a Brat Pack. Em sua história, somos primeiramente apresentados à cidade de Slumburg, onde vivem alguns super heróis. Eles são idolatrados pela população, mas seus parceiros mirins, não. Então, um vilão os mata com requintes de crueldade. Mas as mortes deles comovem a população da cidade, então, os heróis decidem escolher novos jovens pra serem seus novos parceiros. Aos poucos, Veitch mostra a escolha e treinamento de cada um dos jovens escolhidos, muitos deles são alienados pelos heróis pra terem toda uma nova filosofia de vida incorporada em suas atitudes pra servir melhor como “sidekicks”. O personagem que serve de ligação entre os fatos e o leitor é Cody, um ex-coroinha que sempre foi fã dos heróis, e sempre quis ser um deles. Então, com as mortes dos parceiros mirins, ele acaba sendo escolhido pra ser o novo “Chippy, o menino sensacional”, parceiro do Doninha Noturna.
Como forma de criticar diretamente a DC, o autor faz com que a história comece com um programa de rádio, onde o locutor chama os ouvintes à votar em uma enquete, se os parceiros mirins (ou “bando de pirralhos”, como são chamados pela população da cidade) deveriam ser mortos ou não. Em seguida, eles são apresentados, cada um com sua dose de amoralidade, quando o vilão “Doutor Blasfêmia”, aparece e os mata em uma armadilha.
Os heróis decidem convocar novos ajudantes, afinal, como as mortes dos antigos causou a comoção nas pessoas, eles vislumbraram que poderia lucrar com isso. E Rick Veitch escolheu cada personagem pra usar como símbolo de cada perversão que os heróis da DC poderiam significar, como se o psiquiatra Fredric Werthan (que publicou um livro chamado “Sedução do Inocente”, que acusava os quadrinhos de fazer mal aos jovens) estivesse certo sobre os heróis. Assim, eles são heróis sem pudor algum na hora de combater seus inimigos, usando e abusando do uso de álcool e drogas, racismo, pedofilia, sexismo, entre outras coisas. O Doninha, por exemplo, que representa o Batman, é homossexual assumido, e além de usar do Chippy como brinquedo sexual, combate o preconceito contra homossexuais estuprando homofóbicos em público. A senhora da Lua, que representa a Mulher Maravilha, usa o apelo sexual pra vencer os homens, e depois castrá-los, e ainda guardar os testículos como troféus.
Cada qual treina um novo parceiro, sem se esquecer de como isso pode ser lucrativo. Em meio ao combate ao crime, vemos os heróis se reunindo pra discutir os lucros que os empresários conseguem com as imagens deles, e como eles podem assinar contratos mais lucrativos.
E, quanto mais nos aprofundamos nesse mundo de heróis pervertidos, mais coisas podres ficamos sabendo. Sempre de forma a satirizar, no pior sentido da palavra, com algum símbolo que os super heróis dos quadrinhos representam. Mas, como eles mesmos parecem dizer, eles são representações de combate ao crime, não precisam acreditar em fazer o bem, apenas suas presenças já trazem uma mensagem à população. E eles acreditam nos heróis. Como os leitores, que compram seus gibis sem saber como são criadas as histórias.
Veitch faz tudo isso com um roteiro enxuto. Nem parece que acontece tanta coisa enquanto estamos lendo, mas ao mesmo tempo, a história flui com um ritmo diferenciado em cada cena, pra localizar o leitor no tempo em que ela transcorre, e pra dar o clima exato de cada momento na vida dos personagens. Outra sacada genial do autor é intercalar as várias aventuras em uma mesma página. As origens, os treinamentos e algumas lutas estreladas pelos novos “bando de pirralhos” são mostradas cada qual em meia página. Assim, a cada quatro páginas, temos a história de cada um deles, simultaneamente. E, além de cada um ter sua história, os diálogos, e algumas cenas parecem interligar a cena de um com o outro, em uma técnica narrativa parecida com a usada por Moore em Watchmen.
E a arte dele está mais limpa no desenho dos personagens, e mais suja ao retratar os cenários, em um contraste curioso, mas ideal. Ideal também é a escolha da publicação em tons de cinza. Não sei se foi tomada pra baratear custos, ou por motivos artísticos, mas os tons de cinza deixam a história mais depressiva, combinando perfeitamente com o clima de crítica à situação que os super heróis enfrentavam na época, onde parecia que atrações chamativas pra aumentar as vendas eram mais importantes que criar boas histórias que entretecem os leitores.
Pensando bem, as coisas não mudaram tanto assim.


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