FUN HOME é uma autobiografia, onde a autora parece tentar descobrir os motivos de sua homossexualidade, ao mesmo tempo em que descobre que seu pai também era gay. Leia minha crítica aqui:
FUN HOME é, a princípio, mais uma
HQ autobiográfica que inunda o mercado de quadrinhos da atualidade. Mas neste
caso, ela vai mais além. A autora, Alison Bechdel conta um caso de sua adolescência que deixou marcar em toda a
sua vida: a descoberta de que seu falecido pai era um homossexual. Alison, que
também é lésbica, conta através desta história todas as suas dúvidas no
relacionamento que tinha com o pai. Dúvidas e dificuldades. Ambos, ela e o pai,
possuíam um temperamento difícil, e os dois não se davam muito bem, sempre
“encrencando” um com o outro. Nas páginas da revista, é como se ela tentasse
compreender o que se passava na cabeça dele. E porquê ele a tratava daquele
jeito. Muitos anos após a morte dele, sua mãe lhe conta que ele era
homossexual, mas que escondia seus relacionamentos. Alison, que nunca
desconfiou de nada, passa a se questionar, se sua também homossexualidade não
seria uma “herança” do pai, ou uma forma de se rebelar contra ele, ou tantas
outras questão que nem dá pra explicar aqui, mas que ao ler a história
conseguimos compreender toda a tensão e confusão que se passa pela cabeça de
uma pessoa que começa a se fazer esse tipo de questionamento.
E a autora o faz de uma forma
simples e direta. Talvez um pouco pedante em certos momentos, afinal, o tempo
todo parece que ela está tentando nos dizer que a culpa de ela ser lésbica é do
pai. Mas apesar de ficar o tempo todo teclando nessa mesma ideia, a história
não fica repetitiva. Afinal, fica claro que o que ela pensa de si não é uma
resposta definitiva, apenas questionamentos, que ela compartilha com o leitor.
Mas a HQ tem um pequeno
“problema” que pode desagradar alguns leitores: Alison, como pessoa, parece ser alguém bem desagradável.
Sim, sua “rebeldia” que aprece dizer que ela se tornou lésbica pra transgredir
sua relação com o pai soa como desculpa esfarrapada, que ela tenta convencer o
leitor à acreditar junto dela. Pode até
parecer que ela não é segura de que ser homossexual é apenas a sua natureza, e
precisa justificar. Mas isso não atrapalha a leitura, pelo contrário, para o
leitor, é como se fosse a busca da trama.
Agora, por outro lado, um
personagem propositalmente retratado como pessoa desagradável, mas que acaba
sendo o mais interessante, é o pai dela. Ele é desagradável na visão dela.
Talvez ele seja duro e cruel como qualquer pai. E é na ligação entre os dois
que reside o maior conflito da HQ. De certo modo, Alison começa a história
tentando justificar pra si mesmo porquê se tornou lésbica, mas acaba tendo que
buscar a compreensão de porquê seu pai se tornou gay. Ou então, seria ela
lésbica porque seu pai queria ser uma garota? As brigas com ele seriam pelo
fato de sua filha, ao invés de ser feminina, possuía tendências masculinizadas?
Ao não encontrar respostas, como
na vida real (afinal, é uma autobiografia, né?), a história fica mais
interessante. E pelo fato de mostrar os fatos e conflitos de uma jovem Alison,
mas numa obra produzida pela velha Alison, em cada página há os pensamentos
dela da época, e de hoje. E quase sempre ainda possuem as mesmas dúvidas.
Alison Bechdel faz um ótimo trabalho, pois ela se mostra como realmente é, sem
máscaras, com todos os seus medos e dúvida expostos.
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