Este é o gibi mais bacana que já el na vida! Exagero? Só se você não o conhece. Saiba um pouco sobre FRACASSO DE PÚBLICO no meu texto:
“Fracasso de Público”, badalada HQ publicada no Brasil pela
Gal Editora, é simplesmente uma das maiores surpresas que um leitor pode ter em
sua vida. Exagero? Só pra quem odiar o gênero de hq’s alternativas. Afinal,
todos que leram concordam que a série independente de Alex Robinson é uma das
mais belas e divertidas obras que se tem notícia.
Publicado nos EUA nos a nos 90, pela Antarctic Press,
e mais tarde reunidas pela Top Shelf, “Box Office Poison” é uma daquelas histórias
sobre pessoas comuns levando uma vida normal. Pra maioria dos leitores, que já
ouviram falar de quadrinhos como ”Estranhos no Paraiso”, pode parecer nada mais
que “mais outra HQ no mesmo estilo”. Mas engana-se quem pensar assim. Fracasso
é uma história daquelas com algo a mais. Algo mais sutil, mas ainda assim, algo
que torna a HQ muito mais completa que a maioria do que lemos por aí.
A história começa apresentando os amigos Sherman e Ed.
Sherman está de mudança pra uma nova casa, um quarto alugado por Stephen e
Jane, de quem se torna amigos, e acabam se tornando personagens tão importantes
quanto a dupla principal. Ed é aspirante à quadrinhista, e após ter um trabalho
seu recusado pela fictícia editora “Zoom Comics”, acaba se tornando assistente
de Irving Flavor, um autor da era de outro das hq’s, criador do personagem
Nightstalker, mas que hoje vive na miséria, sem ter os direitos sobre a própria
criação. A princípio, a HQ é sobre os problemas comuns do dia a dia de pessoas
comuns. Namoros, casa, aluguel, vizinhos, empregos chatos, essas coisas. Mas
aos poucos, cada personagem vai desenvolvendo uma trajetória individual, com
pequenos problemas que prendem a atenção do leitor. Alex Robinson cria uma saga
onde mesmo um pequeno problema como um cachorro latindo é transformado em algo
grande, terrível e envolvente, tanto pros personagens quanto pro leitor.
E, como grande conflito, temos o fato de Ed decidir ajudar o
Sr Flavor à retomar os direitos de sua criação, ou ao menos ser financeiramente
compensado. Com isso, o autor consegue fazer uma crítica à indústria dos
quadrinhos ao mesmo tempo em que presta uma homenagem aos artistas da “Era de
Ouro” dos Comics.
Os desenhos de Alex Robinson, nas primeiras edições estão
dentro do padrão de hq’s alternativas, sem grandes inovações estilísticas, mas
já cativam logo nas primeiras páginas, com seu traço limpo, cartunesco, e com
perfeita utilização do contraste com preto. O uso de grandes areas de preto dando
o preenchimento do cenário, da profundidade da cena, ou como efeito dramático
são usados de forma perfeitamente adequada. Mas com o decorrer das edições, o
que é bom fica melhor, pois as linhas do autor adquirem uma certa fluidez mais
limpa. E os recursos gráficos que o autor emprega são dignos de grandes mestres
do meio, como Eisner.
E o roteiro, o principal atrativo, é feito de vários momentos
distintos. Cada capítulo possui seu próprio estilo, ritmo e tom. O autor
passeia do drama à comédia com a maior naturalidade, como na vida. Em uma
momento, Sherman está em seu trabalho em uma livraria, atendendo fregueses com
perguntas idiotas, no outro, lembranças de uma infância triste, e indo à
extremos da forma mais natural, que quase não percebemos o ponto de mudança, e
nos deixamos levar. Nada soa forçado, tudo é feita na mais tranquila
naturalidade. E os diálogos São tão bem feitos, que mostra a vida de cada
personagem, dá pra acreditar que estamos lendo uma biografia, e que tudo ali é
real.
Eu, particularmente, me senti íntimo de cada personagem.
Acompanhar toda a saga durante os anos em que foram publicados no Brasil foi um
grande prazer, e com tristeza, li as últimas histórias. Tristeza por saber que
estou lendo um final de uma ótima história. Mas ao mesmo tempo, com a
satisfação de ter lido algo que vai ter um lugar especial em minha estante, pra
ser relido de tempos em tempos.
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