WILSON, de Daniel Clowes. Uma ótima hq contada em breves crônicas de uma página, sobre um homem de meia idade muito ranzinza (se bem que eu o achei gentil. rsrsrs).
“Wilson é um adorável malandro,
um solteiro solitário, um pai e marido dedicado , um idiota, um sociopata, um
fanfarrão desiludido, uma flor delicada, 100% Wilson” é o texto da contra capa
da revista. É difícil definir a
história. É mais fácil pra quem conhece o autor, mesmo que tenha lido poucas
obras dele.
Bem, Daniel Clowes é um dos mais
famosos autores de hq’s alternativas dos EUA. Publica suas histórias principalmente
dentro da revista “Eightball”, muitas delas seriadas que depois são relançadas
de forma encadernada. Aqui no Brasil, é mais conhecido devido Às adaptações pro
cinema de suas histórias, como “Ghost World” e “Art School Confidential”. Até
pouco tempo atrás, sua única HQ publicada aqui era “Como uma Luva de Veludo
Moldada em Ferro”. Apenas recentemente, tivemos o prazer de conhecer outras
obras dele, como “Ghost World”, pela Gal Editora, e agora, Wilson, pela
Quadrinhos na Cia, o selo de hq’s da Companhia da Letras.
Bem, Wilson possui uma história
de bastidores interessante. Enquanto ficava com seu pai doente no hospital,
Clowes desenhava pra passar o tempo. Fazia hq’s de apenas uma página, sempre
com o mesmo personagem. Aos poucos, essas páginas foram tomando a forma de uma
história serializada, que gerou o álbum.
E o álbum é uma das histórias
mais divertidas que se pode esperar de uma HQ alternativa. Wilson começa de
modo simples, com o personagem, um cara de meia idade, sarcástico, destilando seu
mau humor sobre as filosofias da vida, e da vida cotidiana. Mas aos poucos, as
histórias vão ganhando uma sequência, e passam a ter um “fio condutor” que a
une, transformando-a quase em uma grande e única história. Primeiro, quando
Wilson recebe a notícia de que seu pai está doente, e decide ir visitá-lo no
hospital. Depois da morte do pai, ele decide ir arás da ex-mulher e da filha
que nem sabia que existia. Mas não está em uma busca do tipo “vou me
reconciliar com os meus erros do passado”, nada disso. Wilson vaia trás apenas
porquê parece que é o que deu vontade de fazer.
Claro que uma leitura mais
atenta, procurando por explicações psicológicas nos atos do personagem podem
fazer o leitor encontrar várias razões filosóficas, emocionais, psicológicas,
etc, nos atos de Wilson nessa busca, mas não parece ser a preocupação do autor
em mostrar uma história que siga por esse caminho. Pelo contrário, é apenas ter
assunto pra manter as páginas continuando a “saga” do personagem, sempre
recheando cada página com as “gags” sarcásticas dele. Wilson conversa com
qualquer um sobre qualquer assunto, e, como na série Seinfeld, ele sempre faz
questionamentos e apontamentos sobre a condição humana, e os erros que
cometemos enquanto achamos que estamos vivendo.
O personagem, apesar de mau
humorado, ranzinza, e tal, parece levar a vida numa boa. Claro que, é como se
ele vivesse em uma vida fora dos padrões do resto da humanidade, mas ainda
assim, em seu mundinho particular, ele parece feliz.
E a forma que Daniel Clowes usou
pra construir a história, fazendo-a toda em capítulos de uma única página, dá
um charme especial à história. Dá pra ler cada página, e para pra rir e pensar
nela antes de ir pra página seguinte. E o melhor é que ainda assim, as páginas
estão ligadas umas às outras de forma perfeita. Mesmo quando se passam meses
entre uma página e outra, ainda assim, há uma ligação na trama. E, tudo isso
modificando o estilo da arte a cada página. De uma estilo mais “realista” pra
um totalmente cartunesco, de uma página colorida pra outra com duas cores, e
assim por diante. E sem fazer com que as mudanças alterem o estilo da
narrativa.
Eu votaria nessa edição pra
melhor história do ano no Brasil em qualquer premiação de hq’s.
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