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quinta-feira, 27 de março de 2014

WILSON


WILSON, de Daniel Clowes. Uma ótima hq contada em breves crônicas de uma página, sobre um homem de meia idade muito ranzinza (se bem que eu o achei gentil. rsrsrs).


“Wilson é um adorável malandro, um solteiro solitário, um pai e marido dedicado , um idiota, um sociopata, um fanfarrão desiludido, uma flor delicada, 100% Wilson” é o texto da contra capa da revista.  É difícil definir a história. É mais fácil pra quem conhece o autor, mesmo que tenha lido poucas obras dele.
Bem, Daniel Clowes é um dos mais famosos autores de hq’s alternativas dos EUA. Publica suas histórias principalmente dentro da revista “Eightball”, muitas delas seriadas que depois são relançadas de forma encadernada. Aqui no Brasil, é mais conhecido devido Às adaptações pro cinema de suas histórias, como “Ghost World” e “Art School Confidential”. Até pouco tempo atrás, sua única HQ publicada aqui era “Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro”. Apenas recentemente, tivemos o prazer de conhecer outras obras dele, como “Ghost World”, pela Gal Editora, e agora, Wilson, pela Quadrinhos na Cia, o selo de hq’s da Companhia da Letras.
Bem, Wilson possui uma história de bastidores interessante. Enquanto ficava com seu pai doente no hospital, Clowes desenhava pra passar o tempo. Fazia hq’s de apenas uma página, sempre com o mesmo personagem. Aos poucos, essas páginas foram tomando a forma de uma história serializada, que gerou o álbum.
E o álbum é uma das histórias mais divertidas que se pode esperar de uma HQ alternativa. Wilson começa de modo simples, com o personagem, um cara de meia idade, sarcástico, destilando seu mau humor sobre as filosofias da vida, e da vida cotidiana. Mas aos poucos, as histórias vão ganhando uma sequência, e passam a ter um “fio condutor” que a une, transformando-a quase em uma grande e única história. Primeiro, quando Wilson recebe a notícia de que seu pai está doente, e decide ir visitá-lo no hospital. Depois da morte do pai, ele decide ir arás da ex-mulher e da filha que nem sabia que existia. Mas não está em uma busca do tipo “vou me reconciliar com os meus erros do passado”, nada disso. Wilson vaia trás apenas porquê parece que é o que deu vontade de fazer.
Claro que uma leitura mais atenta, procurando por explicações psicológicas nos atos do personagem podem fazer o leitor encontrar várias razões filosóficas, emocionais, psicológicas, etc, nos atos de Wilson nessa busca, mas não parece ser a preocupação do autor em mostrar uma história que siga por esse caminho. Pelo contrário, é apenas ter assunto pra manter as páginas continuando a “saga” do personagem, sempre recheando cada página com as “gags” sarcásticas dele. Wilson conversa com qualquer um sobre qualquer assunto, e, como na série Seinfeld, ele sempre faz questionamentos e apontamentos sobre a condição humana, e os erros que cometemos enquanto achamos que estamos vivendo.
O personagem, apesar de mau humorado, ranzinza, e tal, parece levar a vida numa boa. Claro que, é como se ele vivesse em uma vida fora dos padrões do resto da humanidade, mas ainda assim, em seu mundinho particular, ele parece feliz.
E a forma que Daniel Clowes usou pra construir a história, fazendo-a toda em capítulos de uma única página, dá um charme especial à história. Dá pra ler cada página, e para pra rir e pensar nela antes de ir pra página seguinte. E o melhor é que ainda assim, as páginas estão ligadas umas às outras de forma perfeita. Mesmo quando se passam meses entre uma página e outra, ainda assim, há uma ligação na trama. E, tudo isso modificando o estilo da arte a cada página. De uma estilo mais “realista” pra um totalmente cartunesco, de uma página colorida pra outra com duas cores, e assim por diante. E sem fazer com que as mudanças alterem o estilo da narrativa.
Eu votaria nessa edição pra melhor história do ano no Brasil em qualquer premiação de hq’s. 


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