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segunda-feira, 31 de março de 2014

LOCAL


LOCAL é a minha HQ favorita do Brian Wood (o criador de GTA). Uma história tocante sobre as viagem de descobertas, e como os locais em que vivemos nos marca. Leia minha resenha aqui:


LOCAL
Brian Wood, desenvolvidor do game GTA e escritor de hq’s produziu uma de suas melhores obras nesta história.

Brian Wood é um escritor que. Na minha opinião, tem (poucos)altos e (muitos) baixos. Algumas das histórias dele me decepcionaram bastante. Mas Local não é uma delas. Foi meu primeiro contato com ele, e ainda acho insuperável!
Publicada nos EUA pela editora ONI PRESS, a revista possuiu 12 edições, cada qual com uma história fechada, passada em uma cidade diferente, e em uma época diferente. Como o autor conta em seus textos ao final de cada edição, à princípio, a ideia era apenas fazer uma história sobre as cidades, tendo uma personagem que apareceria meio sem propósito em todas elas, Megan McKeenan. Mas ela acabou tendo tanta importância, que em poucas edições, Local virou uma história sobre ela. Claro que ainda continuou sobre cada cidade diferente, mas agora, havia uma personagem como “leitmotiv” da história. Em cada edição, Megan passa um tempo em uma cidade diferente, em busca de algum lugar onde possa se sentir em casa. Ou talvez ela apenas gostasse de mudar de cidade de tempos em tempos. Essa é a primeira grande sacada da HQ, não ter essa definição explícita.
Na primeira história, Megan tem 17 anos, em Portland, e a história é sobre ela tendo que comprar remédios pro namorado. Ela repassa mentalmente várias vezes o que pode dar errado, até que decide não fazê-lo, e sair da cidade. No capítulo seguinte,cerca de 1 ano já se passou, e ela está em oura cidade, morando sozinha, trabalhando, e passando por outra história sem ligação com a primeira. Neste segundo capítulo, ela possui um amigo com quem troca bilhetes escritos em fotos Polaroid. 
O terceiro capítulo já não tem Megan como protagonista. Ela aparece apenas em poucos quadros, como fã de uma banda de rock, os verdadeiros protagonistas da história. O vocalista conta  a história do fim da banda em uma entrevista por telefone, enquanto os outros integrantes são mostrados levando suas vidas.
E assim, a história segue. Cada capítulo se passa em uma época da vida diferente de Megan, em um lugar diferente. Por várias vezes, ela é deixada de lado pra dar lugar á outro  personagem se tornar o protagonista do capítulo, com Megan aparecendo com coadjuvante. Assim, no capítulo 7, por exemplo, quando o foco é um primo dela, ainda assim somos informados sobre como ele faz parte e influencia a vida dela, através de cartões postais que ela o envia.
Antes disso, no capítulo 4, Brian nos dá uma ideia de continuidade, ao mostrar Megan dirigindo por Missoula, Montana, e ao dar carona para um homem armado, acaba sendo transformada em vítima dele, que a sequestra, e a leva até seu irmão, onde os dois tem uma discussão sobre família e escolhas de vida. Uma história densa e violenta, que nos capítulos seguintes fazem com que Megan se torne uma pessoa diferente, um pouco atormentada. Teria sido um efeito de presenciar a tragédia do capítulo anterior? Talvez.
Para dar mais razão à esse fato de que as coisas não saíram como planejado, mas que naturalmente foram ficando melhores, todas as edições vem com textos dos autores contando um pouco sobre os bastidores. Eles não possuem nenhum estilo padrão nos textos, e falam sobre qualquer coisa que aconteceu durante a produção de cada capítulo, o que insere o leitor ainda mais profundamente dentro do mundo de Megan e dos dois artistas, e como foram os percalços da produção. Para amantes das hq’s que também gostam de saber mais sobre o que pensam seus artistas, e como eles trabalham suas ideias, esses textos são um belo aperitivo.
Agora, sobe a arte. Ryan Kelly é bem competente. Já pude com ferir o trabalho dele em um arco de Vikings, também escrito pelo Wood, e que foi produzido bem depois do término de Local, e a arte era bem ruinzinha, parecia coisa de “amador fã de desenhistas de super heróis que gostam de fazer só cenas de impacto”, mas em Local, ele provavelmente fez o melhor desenho de sua carreira (bem, na verdade, nem conheço nada dele além desses dois trabalhos, estou apenas supondo). O traço em preto e branco realça os dramas e as emoções que ele coloca em cada personagem, e insere o leitor dentro do cenário. Ele também procurou variar no estilo de cada edição. Parece estranho, pois em uma arte preto e branco aparentemente deve ser muito difícil variar no estilo, mas ele conseguiu. Nuances de cinza, retículas, modificações na arte final, photoshop, qualquer recurso disponível, ele usou. E dá pra perceber as diferenças. E em como cada uma dessas pequenas modificações influenciam na leitura da historia, ou melhor, em como nós leitores somos colocados dentro da vida e Megan.
No Brasil, a editora Devir lançou LOCAL em dois volumes, cada qual compilando 6 edições originais. As revistas ainda podem ser adquiridas em livrarias e comic shops. E vale cada centavo! Uma obra que muitos leitores vão querer guardar e reler de tempos em tempos. Tenho certeza que, assim como cada capítulo mostra uma fase diferente na vida de Megan, cada leitura vai fazer o leitor se identificar com uma fase de sua própria vida.

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