Uma coleção com ótimas histórias produzidas pelos maiores autores de quadrinhos adultos dos EUA. Leia minha resenha crítica aqui:
VERTIGO ESPECIAL
Prometido para o final do ano
passado, a revista VERTIGO ESPECIAL
chegou às bancas no começo do mês de junho, sem uma explicação satisfatória
sobre o motivo do atraso. Mas a espera valeu a pena, pois esta é uma das
melhores edições da revista já lançadas no Brasil.
A edição, um verdadeiro
almanaque, contém três edições originais americanas: VERTIGO RESSUCITADA: ATIRE
E OUTRAS HISTÓRIAS, MATE SEU NAMORADO, e ESTRANHAS AVENTURAS. Por isso mesmo, é
difícil desassociar as edições, e avaliá-la como um único especial. Mas uma
coisa pode ser dita sobre o “volumão”: alguns autores parecem se sair melhor
quando fazem hq’s curtas e fora de cronologias, do que quando estão
responsáveis por longas séries.
VERTIGO RESSUCITADA.
Lançada nos EUA no final de 2010,
“Vertigo Resurrected” é pra ser uma série de publicações com hq’s que, por um
motivo ou outro, não foram aprovadas para publicação, mesmo estando já em
estágio avançado de produção. A HQ que abre a revista, “Atire”, estrelada por
John Constantine, é de 1999, época em que a revista Hellblazer era escrita por
Warren Ellis. Em uma fase elogiadíssima pelos fãs, ele resolveu contar uma
história sobre adolescentes que vão pra escola armados, e matam colegas. Pouco
antes da revista ir pra gráfica, aconteceu o “Massacre de Columbine” nos EUA,
que tomou os noticiários do mundo todo com um acontecimento idêntico, e por
isso, a revista foi proibida. Ellis resolveu deixar a revista depois disso,e a
HQ se perderia pra sempre... Se não fosse a internet, onde ela pôde ser lida
por qualquer fã de Hellblazer que a procurasse. E agora, anos depois, a
história foi colorizada, e publicada. Junto à ela, várias outras hq’s, a
maioria bastante curta, de grandes autores, mas que já foram publicadas antes,
apesar de difíceis de serem encontradas.
A qualidade é irregular, mas elas
mostram como os autores são mais criativos quando estão mais “soltos” para
fazer o que quiserem. Mesmo assim, há alguns casos que chamam bastante atenção
pelos seus temas. Como por exemplo, Grant Morrison, com uma história onde
brinquedos são usados para mostrar um paralelo de como a sociedade é controlada
sem saber que o estão; e Garth Ennis, falando sobre experiências com soldados.
Mas, como toda coletânea, claro que o resultado final varia bastante. Em meio a
essas ótimas hq’s, há algumas que parecem que estão ali por engano. Foram
publicadas pelo nome do autor, não pela qualidade (como uma do Brian Azzarello,
por exemplo). Uma do Brian Bolland, interessantíssima por sinal, acaba como se
na verdade fosse uma história longa que não foi terminada.
MATE SEU NAMORADO
Eu já havia lido essa história
quando da sua primeira publicação no Brasil, em 1999, quando ela foi publicada
com o nome “Como Matar Seu Namorado”. Na época, odiei. Achei uma história gratuita,
e que tentava mostrar violência apenas por mostrar, pra parecer uma hq adulta.
A nova foi alardeada com tendo uma nova tradução. Será que isso faz muita
diferença neste caso? Afinal, agora, gostei da HQ. Bem,também tem os anos entre
as leituras, onde eu adquiri nova bagagem cultural...
A HQ mostra uma adolescente
inconformada com a vida de classe média sem grandes perspectivas senão repetir
uma espécie de “Darwinismo Social” de sempre. Tudo em sua vida é bem comum,
monótono. Um dia, passa a notar um rapaz que é um rebelde incurável. Ela fica
impressionada, e os dois começam a sair juntos, e ele a torna uma rebelde com
ele.
Ele a ensina a beber, fumar,
praticar sexo das mais variadas formas, viver como em uma mistura de “Carpe
Dien” com “Laranja Mecânica”. Pra começar a vida nova, é preciso matar o
namorado dela, e após isso, eles saem pelo país, roubando, vandalizando, mas
tudo com um certo “glamour”, como se
fossem artistas em busca de novas experiências.
Quem conhece as obras malucas do
Morrison pode notar que o tema principal é quase o mesmo de “Os Invisíveis”,
mas tratado aqui de forma diferente. Mais “realista”, se isso for possível. Mas
o resultado final é quase como se essa HQ fosse um libelo sobre a condição do
adolescente na sociedade. Os jovens da trama não tem controle sobre seus atos,
como na vida real, mas aqui, eles levam seus impulsos a níveis extremos. A
conclusão é quase como se o autor estivesse dizendo “com uma sociedade assim, é
impressionante como não há mais jovens saindo por aí cometendo os mesmos atos
criminosos que os personagens desta HQ.”
Mas o mais interessante dessa
história é que a personagem principal está sempre conversando com o leitor, em
um perfeito exercício de quebra da “quarta parede”, já bem usado no cinema e
teatro, mas raramente em HQ’s.
ESTRANHAS AVENTURAS
Uma coletânea de HQ’s curtas de
Ficção Científica, é disso que se trata esta última revista que fecha a edição
especial da Vertigo. Eu adoro hq’s curtas, e de Ficção Científica, então... Mas
pena que este é um gênero pouco explorado nas hq’s. E principalmente nas hq’s
dos EUA. Na Europa, isso é bastante comum.
As hq’s dessa edição não
apresentam muita originalidade, é verdade. Os temas são os mesmos que qualquer
fã do gênero já conhece de inúmeros filmes e séries, como realidade virtual,
sociedades que vivem separadas pela classe social, sob um estado policial, etc.
Mas apesar disso, as histórias são muito bem feitas. E a maioria são de autores que não são muito
vistos nas páginas e na mídia especializada. Se não forem autores novos, são,
ao menos, autores que não trabalham muito para o Selo. Ao menos, a maioria eu
nunca ouvi falar.
Novamente, essas histórias me
evocam o que eu disse no começo do texto, que alguns autores parecem trabalhar
melhor em hq’s curtas do que em grandes sagas. Nem todos eles parecem que não
tem muita capacidade de fazer ótimas hq’s em poucas páginas, e algumas
histórias parecem mais como prólogos de histórias maiores, devido a forma como
a subtrama é apresentada dentro do contexto das mesmas.
Eu destaco as minhas favoritas:
“O PROMETEU PÓS-MODERNO”, talvez uma das mais humanas de toda a revista, além
da excelente condução da trama,cheia de reviravoltas e mudanças climáticas, e
ULTRA, O MULTIALIEN, esta escrita e desenhada por Jeff Lemire, e talvez a mais
depressiva história da edição.
É uma pena que Ficção Científica
não seja um gênero mais explorado nas hq’s americanas. Seria uma boa se a
Vertigo começasse a produzir mais histórias assim. Se bem que ás vezes me
parece que os leitores veem o selo Vertigo apenas como “contos de fadas pra
adultos”, e “derivados de Sandman.” Uma pena, pois essa revista mostra que há
potencial melhor em buscar novos rumos do que ficar no mesmo estilo...
Conclusão: Esta edição especial
pode não ser atrativa para o leitor comum,que costuma comprar apenas o que ele
já conhece pra manter a coleção. Mas se alguém resolver arriscar conhecer algo
diferente, vai ter uma ótima surpresa.
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