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domingo, 31 de agosto de 2014

VERTIGO, O FIM DA REVISTA


Lei aqui meu texto sobre o fim da revista VERTIGO, uma revista que vai deixar saudades, apesar de seus títulos continuarem firmes e fortes pela Panini.


O FIM DA VERTIGO
O texto dessa semana é um pouco diferente dos habituais que escrevo. Vou comentar o “fim de uma era”, o cancelamento da revista VERTIGO, da Panini Comics. A revista está com sua última edição chegando às bancas, a de nº 51. Foram quase 5 anos de publicação ininterrupta (salvo algumas ocasiões em que a revista atrasou), que ajudaram a editora a consolidar o selo Vertigo no país. Um selo que sempre enfrentou problemas editoriais, cancelamentos, séries sem o final publicadas, entre outros problemas. Mas parece que, com a Panini, o selo está em um bom caminho.
Digo “está” ao invés de “estava”, pois o cancelamento da revista, ao contrário de editoras anteriores, não significa o fim das publicações do selo. A Panini já prometeu que vai continuar publicando as várias séries, novas e clássicas, na forma de encadernados, sejam para bancas, sejam para livrarias. Formato esse que agradou a maioria dos leitores, por sinal.
Nesses quase cinco anos de publicação,a revista tinha como propósito ser a porta de entrada do leitor desse universo. Infelizmente, ela nunca foi uma unanimidade. Várias das séries que foram publicadas não agradavam à todos os leitores, o que é normal, e as sereis publicadas em forma de encadernados eram sempre elogiadas, pois o leitor compra apenas o que ele quer ler, e não precisava gastar com outras séries que nem sempre o interessavam. Eu mesmo, confesso, sempre odiei “Vikings”, e “Casa dos Mistérios”. Eu só comprei todas as edições pra manter minha coleção de “Hellblazer”, e de “Escalpo”.
ESCALPO foi a série que mais me agradou de todas as publicadas. Uma história densa e cativante, com personagens mais realistas, mesmo para o habitual do selo, e narradas de forma perfeita por Jason Aaron, que sem pré surpreendia a cada edição. Pode-se dizer que foi o “Breaking Bad dos quadrinhos”. A saga de Dashiel Cavalo Ruim como agente do FBI para incriminar Lincoln Corvo Vermelho, o chefão do crime da tribo indígena, sempre como reviravoltas nas vidas dos personagens envolvidos, fazia com que o leitor não pudesse imaginar o que viria em seguida.
HELLBLAZER, apesar de ser meu personagem favorito, não estava em uma fase tão boa, apesar de muitos outros leitores gostarem. Primeiro com Mike Carey, que o fez quase um “Harry Potter adulto”, além de usar ideias já usadas por outros autores do personagem. Ao fim de sua passagem, a editora adiantou para a última fase, do Peter Millighan, que, embora tenha “rejuvenescido” Constantine, não teve, até o momento, grande brilho como escritor.
Entre as séries fracas (em minha opinião), eu destaco VIKINGS, que apelava para os clichês do gênero ( clichês esses que muitos fãs gostam, e elogiam, mas...). Foi a primeira série a ser retirada da revista, devido à polêmica que dividiu os leitores entre fãs e “haters”. Eu, particularmente, estava entre esses últimos. Além dos clichês, era muito chato ver personagens daquela época falando como se vivessem nos dias atuais. Em uma das histórias, por exemplo, um personagem fala sobre “ser um guerreiro até a medula”, mas duvido que a medicina da época estivesse tão avançada para as pessoas comuns saberem o que é isso.
CASA DOS MISTÉRIOS era outra que não agradava mesmo. Alguns arcos eram até bastante interessantes, mas ao começo de outro, parecia que não havia ligação alguma com o anterior. E os autores da revistas mantiveram esse “estilo” até o fim. Tudo se conclui de modo que nem é preciso ter lido tudo pra entender. Vai saber o que se passava na cabeça do roteirista...
HOMEM DO ESPAÇO, outra história que decepcionou, ao menos para mim. Brian Azzarello é um escritor que sempre me decepciona. Como em quase todas as histórias dele que li, começa bem, e acaba sem graça. Tudo muito rápido. O mesmo acontece com JOE, O BÁRBARO, que nem é tão ruim assim, mas o final podia ter sido bem melhor. PUNK ROCK JESUS, apesar do final também tudo se resolvendo rápido, foi uma história bem melhor. Sua proposta polêmica, acabou sendo mais uma crítica às religiões como instituição corporativista do que realmente à fé das pessoas. Sean Murphy fez um ótimo primeiro trabalho como autor.
Nas primeiras edições, as mini séries pareciam prometer mais. Se A TESSALÍADA foi apenas mais um caça-níquel dos fãs de Sandman, foi divertidinha. LUGAR NENHUM teve melhor sorte. Não que fosse um primor. Em vários momentos o ritmo caia bastante, como se Mike Carey não soubesse como desvincular a história de sua obra original (era uma adaptação do livro de Neil Gaiman, que por sua vez, adaptava o seriado de TV criado por ele), por outro lado, não foi pretensiosa, e garantia uma boa leitura.
Não posso esquecer de mencionar VAMPIRO AMERICANO, uma boa criação de Scott Snyder com Stephen king (que colaborou escrevendo o primeiro arco), junto do excelente desenhista brasileiro Rafael Albuquerque. Tirando uma ou outra história, a maioria dos arcos apresentavam uma visão bastante original da já manjada trama de vampiros que vivem à margem da sociedade, sendo perseguidos por caçadores. Alguns personagens criados nessa série conquistam o leitor de imediato. A série continuará sendo publicada em encadernados de luxo.
Mas, apesar de estar sendo cancelada, a revista Vertigo não trás consigo uma sensação de vazio, de um novo fim de publicação, de “mudanças radicais”, como em épocas e editoras diferentes. Ao contrário, é como um recomeço. Sei que, apesar de não mais visitar a banca de jornais mensalmente para comprar a revista, vou continuar comprando alguns títulos do selo em encadernados. Dá uma sensação de continuidade, apenas em um formato diferente.
Adeus, revista Vertigo! Vida longa ao selo Vertigo!

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS #45


Quem trabalha em escola sabe como são esses professores...
Curta a minha página no Facebook, e leia todas as minhas tiras e hq's.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

PAGANDO POR SEXO


Uma sincera história autobiográfica sobre o relacionamento de Chester Brown com prostitutas. Leia minha crítica aqui:

PAGANDO POR SEXO
Quando foi lançado aqui no Brasil, em 2012, toda a crítica especializada em quadrinhos elogiou muito este trabalho de Chester Brown. Eu, particularmente, fiquei com “o pé atrás”, pois eu havia lido, anos antes, sua A PLAYBOY, e não havia gostado. Resolvi reler, e acabei gostando. Talvez o tempo, minha idade, e novos conteúdos quadrinhísticos tenham me feito entender melhor a HQ. Assim, fiquei curioso pra ler PAGANDO POR SEXO, oportunidade que só tive muito tempo depois do lançamento.
Mas, independente de quanto tempo levei pra ler, a nova obra de Brown é excelente, tanto como complemento do anterior, quanto como obra independente. Na verdade, as duas hq’s não tem ligação, além do fato de serem obras autobriográficas do autor, e terem o tema de sua vida sexual. Não é necessário ler uma pra entender a outra. Claro que, pra quem leu a primeira, a segunda parece uma continuação. Afinal, em “A Playboy”, Chester conta sobre sua descoberta do sexo através das páginas da revista, em sua adolescência, e acaba em sua vida adulta, com aparentes problemas com as namoradas.
PAGANDO POR SEXO mostra ele em sua vida adulta, quando, após ter problemas com a namorada, decide não ter mais relacionamentos sérios, e, quando precisar de sexo, recorrer apenas à prostitutas. No começo da HQ, ele menciona a mesma namorada com quem termina em “A Playboy”, mas a HQ não é sobre o relacionamento dos dois, mas a história começa bem depois disso.
A princípio, os dois terminam, mas continuam morando juntos. Apesar da situação estranha de ter de dividir o apartamento com a ex e o novo namorado dela, Chester não se mostra nem um pouco preocupado. Seus amigos (que parecem ser, na história, uma espécie de “consciência social”, tentando fazê-lo entender que suas atitudes não são iguais à do resto das pessoas)estão sempre tentando ajudá-lo, dando opiniões, e servem na história de elo de ligação entre “o estranho mundo de Chester” e o nosso modo de ser “tradicional”.
Após mudar para um apartamento sozinho, ele chega a conclusão de que provavelmente nunca mais vai se envolver romanticamente com outras mulheres, e começa a buscar prostitutas para ter sexo. E passa a viver assim, de forma tranquila, sem culpa, nem se prender às amarras da sociedade.
Com uma diagramação bastante tradicional, cerca de 8 quadrinhos por páginas, dispostos de forma quase sempre simétrica, e com um traço simples, meio “linhas claras”, meio cartunesco, Chester narra todos os anos de sua vida desde que abandonou o compromisso de relacionamentos, as várias prostitutas com quem teve relações, as formas de  se encontrar uma garota de programa, e várias conversas com seus amigos, sempre contestando sua opção com das outras pessoas ditas “normais.”
E Chester Brown faz tudo isso com uma sinceridade impressionante. Poucas pessoas narraria as vida sexual de forma tão aberta quando a que vemos nas páginas desta HQ. É como se todo questionamento apresentado nessa HQ fossem nossos, e não do autor. Ele vive tranquilamente sua situação. Talvez por essa sinceridade é que ficamos absortos na leitura da obra, e passamos a entender o que o leva a procurar pelas mulheres da vida. Apesar de poucos de nós terem coragem de fazer o mesmo, dá pra entender os motivos que podem levar alguém a desacreditar dos relacionamentos amorosos. Mesmo que, em parte, isso se deva à apatia dele, que muitas mulheres podem achar desinteressante. Mas ainda assim, suas declarações sobre o amor romântico fazem sentido.
As conversas de Chester com seus amigos cartunistas são um ponto interessante. O autor dá liberdade à certas licenças dos fatos reais (poucas, como ele mesmo diz nos apêndices)para nos fazer questionar os pontos sobre relacionamento e sexo. Essas conversas sempre deixam algo no ar. Ele não usa o fato de ser o autor para dar sua opinião de forma conclusiva, como sendo o certo, mas faz o leitor participar da conversa, ao apresentar os vários pontos de vista para nossa reflexão.
Em contraponto com as cenas de conversa, as cenas com as mulheres na cama são quase “didáticas” (por falta de uma palavra melhor), no sentido de que ele narra como funciona o serviço de cada uma delas, as diferenças entre as que anunciam em revistas, as que vivem em bordéis, os preços, as idades, as novatas e as experientes, as que ficam mais amigas dele, as que nem querem conversa, as com quem ele se identifica a ponto de fazer amizade, etc. E até mesmo as que não o agradam, e as que tentam enganá-lo.
Chester não se intimida nem mesmo em retratar o seu próprio sexo, seja na dificuldade de manter a ereção às vezes, ou quando não está tão a fim de fazê-lo.
A forma como ele retrata essas cenas nos fazem olhar para a prostituição de outra forma. Se não com um olhar de aprovação, mas pelo menos passamos a compreender que são mulheres como qualquer outra.
Ao final da história, Chester Brown mostra que não quis fazer uma obra moralista, no sentido de nos dar alguma lição ou esclarecimento moral sobre o sexo, a prostituição, ou mesmo o amor. Mas apenas representar como funciona a busca pelo sexo, desvencilhado do amor, de forma crua e sincera. Nada mais que isso. Há vários apêndices onde ele comenta sua visão da prostituição, a regulamentação como profissão, e as diferenças entre o que se convém chamar de amor, e as diferenças entre a busca sexual. Esses apêndices são mais diretos no assunto, e podem nos fazer pensar seriamente sobre o tema. Mas, sem eles, a HQ funcionaria da mesma forma, como o relato sincero de um homem que sabe diferenciar amor de prazer sexual. Certo ou errado, é a sua escolha. Essa liberdade é o que importa.


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

AS COISAS QUE CECÍLIA FEZ


Uma HQ nacional e independente muito boa. Recomendo!


AS COISAS QUE CECILIA FEZ

Uma grande HQ não precisa necessariamente ser uma HQ grande. AS COISA QUE CECILIA FEZ  é uma prova disso. Uma história das mais simples, contada de forma enxuta, mas que, talvez por isso mesmo, seja um exemplo de competência no ato contar uma história usando os recursos da nona arte.
Apesar do formato grande, digno de uma graphic novel, a edição independente escrita e desenhada por Liber Paz é uma história que dá pra ler me poucos minutos. Mas o encanto que fica com o leitor dura muito mais.
A trama mostra a Cecília do título, uma mulher de meia idade, que, em um dia comum quando levava seu filho pra escola, é abordada por Letícia, uma mulher que ela não via à anos. Ela entrega um envelope para Cecília, contendo seu telefone e fotos de uma festa em que as duas participaram. Esse presente deixa Cecília um pouco abalada. E com dúvidas de telefona ou não para a Letícia. Mas esse não é o foco da história. O que contei aqui é apenas o prólogo, e parte do final da HQ. A história em si, é o que é mostrado em um flashback de Cecília, onde ficamos sabendo toda a história por trás das tais fotos.
Cecília se lembra de um dia em que conheceu um rapaz no cinema, e os dois acabaram se tornando bons amigos, com o que ela achou que seria potencial pra se tornarem namorados. Mas o rapaz havia saído a pouco de um relacionamento, e, durante uma festa na casa dele, a ex-namorada aparece, e os dois reatam. Sentindo-se rejeitada, Cecília fica bêbada, causa um escândalo na festa, mas acaba amparada por Letícia, uma ex-namorada de seu irmão.
As duas se tornam grandes amigas a partir de então (AGORA, SPOILER. Se não quiser saber, pule para o próximo parágrafo), uma amizade que acaba em um relacionamento lésbico.
Após cada uma seguir seu rumo na vida, a história volta para o presente, com Cecília na dúvida entre retornar o contato com Letícia, ou não.
Liber Paz Com uma história muito bem escrita, que utiliza os recursos dos quadrinhos de uma forma tão natural, mas que percebe-se um apuro técnico na utilização deles. Logo na primeira pagina, que parece uma apresentação com um poema, mas na verdade, estamos sendo “jogados” dentro da história de uma forma quase abrupta. Aliás, ser direto é o grande trunfo do autor. Ele não fica enrolando com o texto explicativo, mas deixa a história fluir conforme os personagens agem. Personagens que se explicam durante a história. Não é preciso saber os detalhes do antigo namoro de Rodrigo, porquê ele terminou com a namorada, e o que os faz voltar. Mas apenas os fatos ali mostrados é que importam, e o autor sabe muito bem disso, e não deixa o leitor perdido com informações sem utilidade para a trama.
Com um traço simples, de poucos cenários bem distribuídos pelas páginas, uma diagramação tradicional, mas um domínio de narrativa e perspectiva, Liber Paz trabalha as cenas de um jeito que nos faz ficar o tempo todo esperando pelo final. A leitura dessa HQ é como montar um quebra cabeça, onde ficamos ansiosos pra ver como tudo vai se encaixando até formar uma imagem. Dá até pra se perder na história do Flashback, e quando voltamos para o presente, por um segundo havíamos esquecido do que nos levou até essa história. Como acontece quando nos perdemos em nossa lembranças.
Mas, ainda assim, apesar de a história ser sobre o passado de Cecília e Letícia, o presente nos reserva ainda uma ótima forma de terminar uma história. Há uma conclusão que liga toda a trama, e que o faz de forma tão simples, que nos cativa justamente por isso. O epílogo após os créditos finais é genial!
Pra quem gosta de boas HQ’s que fogem do escapismo, com tramas ambientadas no mundo real, essa história é uma excelente pedida. Além de ter um ótimo preço. Custa apenas R$ 20,00, e pode ser encontrada nas comic shops.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A ARTE DE VOAR


Uma hq biográfica, sujo personagem se confunde com a história da Espanha do séc XX. Suas guerras, suas vitórias, e suas tragédias. leia minha crítica aqui: 

A ARTE DE VOAR
Se eu tivesse lido esta HQ a tempo, ela entraria na minha lista das melhores do ano passado, talvez em primeiro lugar. Muito bom descobrir uma bela história, meio que por acaso, e ser fisgado por uma leitura cativante, com uma história que nos toca fundo na alma.
A ARTE DE VOAR é uma HQ espanhola, escrita por Antonio Altarriba, e desenhada por Kim. Em cerca de 200 páginas, ela conta a história da vida do pai de Altarriba, que se suicidou no dia 04 de maio de 2001, se jogando da janela da casa de repouso onde vivia. Se filho, sentindo ao mesmo tempo a dor da perda, mas sentindo mais ainda a dor que seu pai sentia, e suas motivações para o suicídio, decidiu contar toda a história de sua vida, suas aventuras, e como elas o levaram à uma vida de velhice cheia de tristeza. Mas longe de ser uma história depressiva sobre a morte, a história da vida dele é das mais fascinantes que uma pessoa comum pode aspirar.
Antonio, o pai, nasceu em uma vila rural da Espanha, onde “lutava” diariamente pra mudar de vida, cansado do marasmo e niilismo da vida no campo. Ele queria uma vida ambiciosa, como a maioria dos jovens, queria aventura. E, ao sair da vila, acabou tendo participação, direta e indireta, nos grandes eventos que moldaram a história da Espanha do século XX, como a Guerra Civil, e a ditadura do General Franco.
Contada em capítulos, cada qual representado por um andar que seu pai teria passado na queda para a morte, as histórias mostram algum momento da vida de Antonio enquanto mostra como era a vida na Espanha durante esses anos difíceis. Vemos a ambição juvenil, as durezas da vida adulta, e até mesmo a alienação da sociedade, que parece ter esquecido da luta armada, aceitando a ditadura como algo comum em suas vidas.
No primeiro capítulo, o da juventude, vemos Antonio como qualquer outro jovem, tentando levar uma vida melhor, a busca de aventuras na cidade grande, empregos, garotas, e as amizades. Mas, longe de ter algo comum, o autor foca nos eventos “extraordinários” da vida dele, que moldaram sua personalidade inquieta, o que o levaram para uma vida adulta como parte da resistência contra as forças do ditador direitista Franco, no capítulo seguinte.
Enquanto enfrentavam os problemas da Segunda Guerra, a Espanha também tinha seus problemas internos, com as forças de Franco cada vez mais dominando o país, impondo uma ditadura que tentava liquidar com a cultura local, acusando todos de comunistas, e tomando as terras das famílias rurais, e obrigando os jovens a se alistarem no exército. Nesse cenário, Antonio só quer tentar sobreviver, de todas as formas. Ele vive em fuga, morando de favor em casas de amigos. Até entra para o exército, mas acaba desertando, devido às explorações sociais que presencia.
Ele se junta à resistência, combatendo os soldados de Franco, indo preso, fugindo, etc. Nesse capítulo, chama atenção todo o calor humano entre os soldados da resistência. As histórias de amizade, as descobertas. Parece que Antonio nunca teve uma vida, onde pudesse descobrir o mundo, e sua vida nas lutas acaba sendo sua forma de fazer essas descobertas, em grande parte “de segunda mão”, ouvido histórias de seus amigos. Mesmo assim, Antonio é o protagonista de sua vida, vivendo as aventuras da luta, entre outras, como poucos homens vivem.
É até triste quando o país muda, após a consolidação do poder de Franco. Muitas pessoas, incluindo aí alguns que lutavam contra o regime, se alienam , tentando viver como burgueses, praticando as pequenas explorações capitalistas, e até mesmo negócios ilegais. Parece que toda aquela luta foi em vão. Antonio tenta se adaptar á essa nova vida, se casando tendo filhos, trabalhando em uma empresa. Mas, no fundo, ele começa a se sentir como uma alma presa.
Esse é o foco do terceiro capítulo. Depois de uma vida sem raízes, sempre indo de um lugar ao outro, correndo, voando, lutando, a vida comum parece entediá-lo. Além dos motivos óbvios, aprece que toda a alienação social o sufoca ainda mais.
E nada do que ele tenta fazer parece aliviá-lo desse sofrimento. Acompanhamos Antonio começando a sofrer as depressões da vida de meia idade.
O quarto capítulo mostra os últimos anos de vida dele, em um asilo para idosos. Ele tenta se entregar à velhice como todos os outros, mas algo dentro de si parece não querer se entregar. Mas, infelizmente, o calor daquela vida cheia de aventuras não consegue suportar a vida em clausura.
Antonio, o filho, conta a história do pai se entregar a piedade que os anos derradeiros de seu pai o influenciem a contar a história com tristeza e pesar. Pelo contrário, a vida de seu pai é para o leitor das mais empolgantes. Chega a surpreender mesmo como uma pessoa comum passa pela história sem ser lembrada nos livros juntamente com os heróis conhecidos. Antonio Altarriba viveu e lutou de forma digna dos grandes personagens históricos, e sua vida poderia passar despercebida se seu filho não a contasse em essa bela Graphic Novel.
Kim, o desenhista, possui um traço simples, leve, mas realista na medida para que as cenas e locais retratados situe o leitor pela trama, ao mesmo tempo, utilizando de recursos gráficos lúdicos para mostrar o simbolismo de passagens chave da história.
Uma leitura tocante, mas não no sentido sentimental. Ela nos toca por seu ímpeto de bravura e aventura! A ARTE DE VOAR foi publicada aqui pela Editora Veneta, e é sua primeira publicação em quadrinhos no mercado. Esperemos que mais ótimos títulos sejam lançados.


domingo, 17 de agosto de 2014

ANTES DE WATCHMEN


Minha resenha sobre as únicas hq's do ANTES DE WATHCMEN que li. Uma adorei, outra odiei!


ANTES DE WATCHMEN
Acabei de ler meus primeiros (e únicos que pretendo ler) ANTES DE WATCHMEN: “Dollar Bill & Moloch”, e “Minutemen.” Com este texto, não quero fazer parecer que estou ordenando regras, nem que todo leitor deveria pensar o mesmo que eu, mas apenas explico o motivo de porque não pretendo ler nenhuma das outras edições dessa coleção, enquanto faço uma resenha crítica dessas duas que li.
Primeiramente, DOLLAR BILL & MOLOCH. A edição, que coincidentemente li muitas críticas negativas de leitores pelo Facebook, realmente foi uma decepção. A revista possui duas histórias, a primeira é sobre o vilão Molloch, que agiu desde os anos 40, e mais tarde se aposenta, quando chega à sua velhice e sofrendo de câncer. Pouco sobre ele é mencionado na mini série original, o que deixaria o autor livre para criar a vontade sobre a vida do personagem. Mas infelizmente, o roteirista J. Michael Straczynski não se mostra muito criativo, seguindo a linha fácil de recontar a mesma história já conhecida, mudando apenas o ponto de vista.
A história de Moloch é dividida em duas partes. A primeira, uma ótima leitura, diga-se, mostra todo o passado de Moloch desde o nascimento. Sua infância em um circo até se tornar um chefão do submundo, que usa suas habilidades de mágico para seus crimes. Bem redigida, a história termina nos anos 60, quando o vilão de certo modo se arrepende de sua vida criminosa, e, em parte por achar que a existência de um super herói onipotente, o Dr. Manhatan, pode “tirar a graça” dessa vida de mocinho e bandido. Também é mostrado as motivações dele, de uma forma bastante sutil, e competente.
Mas na segunda parte, tudo o que havia de bom na história desaba. Ele é contratado por Adrian Veidt (o herói milionário Ozzymandias), e tudo o que acontece então são apenas a participação de Moloch nos planos de Veidt. Planos esses que o leitor da mini série original conhece, e que cada detalhe nos faz “juntar os pontos” da execução desse plano, sob um ponto de vista diferente do que havíamos lido antes. Pra piorar, a história muda de ritmo, sendo contada de forma bastante “atropelada”, com os fatos acontecendo muito rápidos, e sem grande atrativo. Uma pena.
Já a história de DOLLAR BILL segue um pouco melhor (mas não muito). Afinal, o personagem pouco aparece na história original, então, ficamos conhecendo sua vida em acontecimentos nunca antes revelados. Apenas sua morte já era conhecida, o que deixa o final sem surpresa. E também pelo fato de ser uma história em edição única, não havia espaço para contar muito. Apesar de boa, não trás nada demais, justamente por isso. Len Wein é um grande autor do passado, mas essa história é apenas pra “tapar buraco”.
MINUTEMEN
Agora, enquanto DOLLAR BILL & MOLOCH apresenta a história clássica requentada, MINUTEMEN segue um caminho oposto. Preciso ressaltar que é justamente por esse motivo que ela é excelente! Conhecemos pouco do primeiro grupo de super heróis do universo de Watchmen. Há alguns poucos flashbacks, e trechos do livro “Sob a Máscara”, de Hollis Mason, o Coruja original (que, aliás, na época do filme dirigido por Zack Snyder, virou um bom documentário. Se tiver acesso, assista). Por esse motivo, Darwym Cooke pode criar a vontade com o grupo. E, por ser é um autor competente como poucos, foi o caminho que ele seguiu.
Em MINUTEMEN, Cooke ainda usou o recurso de contar a história do grupo pelos olhos de Mason, mas a história mostrada nessa edição é diferente da que lemos anteriormente. Ela a complementa. O que já sabemos da HQ original, Cooke apenas sugere. O estupro da Espectral pelo Comediante, por exemplo, acontece entre os capítulos. Em um capítulo, o grupo está unido, no seguinte, eles mencionam que votaram pela expulsão do Comediante por causa disso. Um recurso bastante sábio dele, e que preserva o tempo da trama para criar a história que ele realmente quer contar. E que história.
O aposentado Hollis Mason anuncia aos seus amigos de grupo que pretende escrever um livro de memórias sobre as vidas dos MINUTEMEN. Todos eles se mostram insatisfeitos com as histórias que o ex-Coruja pretende publicar. Em cada capítulo é mostrado um dos ex-heróis encontrando Mason, e, enquanto comenta que não está satisfeito com o livro, Mason, através de narrativa em primeira pessoa, relembra os fatos desde a formação do grupo até o misterioso desaparecimento do Justiça Encapuzada, quando começou a “Caça às Bruxas” nos primórdios da guerra fria.
Ele mostra outro lado das personalidades do grupo. Dá pra ler mesmo sem lembrar da mini original, pois MINUTEMEN possui uma alma própria. Informações sobre os heróis e vilões que não haviam sido contadas antes, características pessoais deles que aparentemente diferem das que conhecíamos (ou imaginávamos) dão mais vida á todos eles. Impossível não se surpreender com a revelação sobre a sexualidade do Capitão Metrópolis (eu juro que não lembro de nenhuma insinuação sobre isso na história clássica...), ou o lado egocêntrico de  Espectral, que, se na história original parecia manipulada por seu agente, aqui se mostra com tanta vontade de se aparecer quanto ele.
E, pra terminar (não vou entregar nenhum spoiler), a história ainda modifica um fato que havia sido sugerido na HQ original, mas o faz de forma tão brilhante que não desvirtua  a criação de Alan Moore. Esta HQ é uma ótima história sobre o lado obscuro das lendas, a desmistificação da imagem heroica que temos da era de ouro, e acrescenta mais profundidade aos personagens. Acredito que Alan Moore iria gostar dessa edição caso lesse.
CONCLUSÃO:
Ao meu ver, e pelas crítica que li, e quando digo críticas, estou falando de jornalistas especializados, não de leitores que criam um blog e pensam que entendem de criticas, me parece que o grande mal de Antes de Watchmen é justamente esse: não ter nada realmente novo pra contar, mas apenas ficar mostrando os fatos conhecidos sobre outro ponto de vista. Alguns leitores não se importam com isso, e acham legal, mas pense bem: é como ler várias versões da origem do Homem Aranha (coisa que a Marvel vive fazendo...), não tem a mesma graça se você já sabe o final. Não há nada que os novos autores podem acrescentar.
Agora, é reler a mini série dos anos 80. Essa, sim, um clássico!
Relembrando, esta minha crítica é apenas a minha opinião pessoal, não estou querendo impor a minha opinião nas cabeças de outros leitores. Mas, caso você tenha um argumento inteligente, e saiba fazê-lo de forma educada, fique à vontade para deixar um comentário.



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

TATUAGEM


Engraçado como as pessoas aceitam algumas maluquices, e outras não.
Leia minhas outras tiras curtindo a minha fanpage no Facebbook:

(Eu realmente tenho uma tatuagem do brasão Klingon, mas essa tira nunca aconteceu)


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

PITECO INGÁ


Com um novo lançamento anunciado pra breve, leia aqui minha crítica do melhor álbum da coleção lançado até agora!


PITECO – INGÁ
Se o projeto “Graphic MSP” tivesse se encerrado aqui, sem o anúncio de mais obras para o ano que vem, poderia se dizer que o projeto fechou com chave de ouro. PITECO INGÁ é, talvez, o melhor das quatro graphics lançadas até o momento.
O quarto livro da série, escrito, desenhado, e magistralmente pintado por Shiko é de uma beleza ímpar, do tipo que encontramos em álbuns europeus. Aliás, o grande chamativo dessa edição é justamente esse, se parecer com um álbum europeu. A história mostra o povo de Lem, a tribo da qual Piteco faz parte, tendo que partir em busca de outro local para habitarem, pois onde estão, o rio está secando. Thuga, a xamã da tribo, profetiza a partida, e que ela será raptada antes desse dia, mas que a tribo deve seguir sem ela. Quando o rapto acontece, Piteco decide ir atrás dela. No meio do caminho, várias ameaças, naturais e mitológicas se interpõe em seu caminho até os “Homens Tigre”, que levaram Thuga.
A semelhança com as hq’s do velho continente ficam bem claras já pela arte. Quem leu alguma edição da Heavy Metal vai ser imediatamente cativado por essa belíssima arte, pintada em aquarela. O estilo da trama também pode lembrar as sagas de aventura que os europeus tanto admiram, e que vários autores já se arriscaram a produzir. Mas Shiko vai além. Como se trata de uma HQ nacional, é claro que o “tempero” nacional não poderia faltar. Várias das criaturas que cruzam o caminho de nossos heróis fazem parte da mitologia popular brasileira. Algumas das quais podem não ser facilmente reconhecidas pela geração mais nova, mas quem já leu um pouco do nosso folclore vai adorar as versões que Shiko recriou desses mitos. Nada agradável como Monteiro Lobato retratou, pelo contrário. Os seres aparecem de forma assustadora na história. Mais um ponto positivo aqui, pois essa mistura entre uma aventura “realista” e fantasiosa casa perfeitamente.
 Além de PIteco, Beleléu e Ogra o acompanham na jornada, e cada qual possui  uma ótima construção de personalidade. Não são apenas personagens ilustrativos. São pessoas de carne e osso. Ogra lembra muito as mulheres guerreiras indígenas que ainda existem em algumas tribos atualmente. E mesmo PIteco não é retratado como um herói tradicional, pois como é mencionado logo no começo da trama, ele é apenas um caçador, não um guerreiro.
Os atos da trama estão bem definidos, mas sem fazer parecer que a história se divide em capítulos. Ela flui de forma orgânica, com a naturalidade exata para dar credibilidade e ritmo para uma história do tipo. E, no último ato, quando os heróis chegam ao território dos Homens Tigre, há a revelação de outra trama, onde se descobre os motivos que levaram ao rapto de Thuga. Tudo muito bem amarrado.
E, talvez o que seja mais fascinante nessa HQ é o fato de ser uma trama feminina, e não masculina. Sim, Piteco é o herói, mas ele não o faz por um “motivo de macho”, como demonstrar bravura, ou qualquer outro motivo masculino como estamos acostumados a ver nos filmes. Ele o faz por amor. Logo no começo da história, quando é mencionado que ele ama Thuga, ele nega. Mas parte em busca dela assim mesmo. O que o move é um sentimento que faz parte do universo feminino. Ele é um “herói romântico”, não um “herói guerreiro”, e que acaba se descobrindo como tal durante essa aventura.
Um tipo de sensibilidade que muitos autores deviam aprender a ter ao contar suas histórias. Com certeza, essa ótima HQ vai se tornar mais um clássico nacional. Agora, é reler todas a quatro obras, aguardando pela próxima fase.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS # 42


Pra quem trabalha em escola: eu, particularmente, prefiro ficar no pátio. É mais divertido do que lidar com a burocracia, papelada, e pais retardados de alunos. Se secretaria fosse uma promoção, o salário não seria o mesmo.

E, pra quem quer ler mais de minhas tiras, basta curtir minha fanpage no Facebook. E também a página "AOE da Depressão", com as tiras da Vida de Inspetor, e outros memes dessa divertida profissão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O FANTASMA DE ANYA


Não sou muito de gibis juvenis, mas este aqui é muito bom! Além de agradar os adultos, ele possui personagens realmente críveis. Leia minha crítica:

O FANTASMA DE ANYA
É quase uma unanimidade que os quadrinhos não atraem mais os jovens leitores como atraia antigamente. Acredito que se mais obras como O FANTASMA DE ANYA fossem produzidas, talvez esse quadro se revertesse. Esta grata surpresa é de uma simplicidade e competência impressionantes para sua proposta.
Escrito e desenhado por Vera Brosgol, uma jovem russa de menos de 30 anos, que vive nos EUA, e trabalha com animação. Ela já trabalhou como artista conceitual, e fazendo stortboards para filmes como “Coraline” e “Paranorman”. O fantasma de Anya não é sua primeira HQ (ela faz hq’s desde 2001), mas é o primeiro a sair aqui no Brasil. E merece ser lido e apreciado por todos os amantes da nona arte, independente da idade.
A história mostra Anya, uma adolescente russa que tenta se adaptar aos EUA. Ela se dedicoou a perder o sotaque, e a viver o mais próximo da cultura americana, até mesmo evitando outros imigrantes russos da sua região. Como toda adolescente, ela tem como grandes problemas a balança e os garotos. Enquanto tenta ser notada por um jovem (que, infelizmente pra ela, já tem namorada), ela segue tentando encontrar sua identidade.
Um dia, a caminho da escola, ela passa por um parque, e cai em um buraco. E descobre que naquele buraco há um fantasma. Emily, uma garota que foi assassinada cerca de um século atrás. Emily estava presa no buraco onde morreu, mas Anya consegue, sem querer, trazê-la pra fora. Agora, sua nova amiga tenta ajudá-la em seus afazeres, como as lições de casa, e até mesmo a conquistar Sean, o garoto por quem Anya é apaixonada.
No começo, Anya fica assustada com a ideia, e incomodada por ser seguida por essa fantasma, mas as duas acabam se tornando amigas rapidamente. Mas, claro, há algo mais nessa história, que o leitor descobre com o desenrolar da trama. Vera Brosgol coloca muito de sua história pessoal na trama, o que ajuda a aproximar o leitor dos personagens. Mesmo vivendo em um país culturalmente diferente, é impossível não compreender Anya e suas ansiedades. E mesmo os leitores homens irão se identificar com ela. Afinal, quem nunca teve problemas na adolescência?
O FANTASMA DE ANYA é uma HQ que me cativou logo de cara. O estilo da trama, talvez pelo fato de sua autora ter trabalhado com animações, faz com que a flluência da história seja bem no estilo dos longas animados atuais, com personagens simples, simpáticos, em uma trama que, apesar de ser voltada para o público juvenil, com certeza agrada qualquer adulto que se propor à lê-la. O ritmo da trama é muito bem executada. Parece mesmo que estamos vendo um filme de animação. E o traço de Brosgol, limpo, mas detalhado, lembra bastante uma mistura de “Meninas Superpoderosas” com “Persépolis”.
Os diálogos e situações são uma atração à parte. A naturalidade com que os personagens falam sobre sexo, cigarros, menstruação dá um teor bastante realista á HQ. Não estamos lendo algo datado, do tempo em que a autora era jovem. Ao contrário, ela se comunica com os jovens de hoje.
Ler esta HQ foi uma grata surpresa. Pelas sinopses de divulgação, já dava pra esperar algo bom, mas mesmo assim, me surpreendi ao ver devorando as paginas de uma vez, com a forma simples com que a autora nos prende à sua HQ. Mesmo os defeitos da edição nacional não tiram o brilho da história.
Mas, já que falei dos defeitos, é bom mencioná-los. Espero que a editora resolva os problemas gráficos em uma próxima edição, para que isso não manche sua imagem caso ela resolva investir com peso no mercado de hq’s (este é o primeiro lançamento de HQ da editora). Muitas páginas estão com as cores desbotadas, parecendo Xerox de má qualidade. E outras páginas apresentam linhas duplas. Apesar de não atrapalhar a leitura, incomoda um pouco. Uma pena mesmo, pois além de ser uma das grandes hq’s lançadas este ano (se não figurar nas listas de 10 mais, é porque esqueceram de lê-la), o preço praticado pela Editora é mais do que convidativo, em tempos de “álbuns de ultra luxo”
Se eu tivesse que escolher uma HQ pra fazer um adolescente aprender a gostar dessa mídia, já teria minha escolha. Mas, como já disse antes, que também vai agradar os adultos que a lerem.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PLANETARY


Leia aqui meu texto sobre PLANETARY, os Arqueólogos do Impossível!


Warren Ellis é um dos mais geniais escritores de hq’s da atualidade. Com uma habilidade de passear tanto pelos universos de super heróis (onde trabalhou principalmente na Marvel, e Wildstorm), quanto por suas criações autorais. Estas, ele costuma brincar sem se apegar à regras comerciais, e usa e abusa dos seus personagens, das tramas complexas, e conceitos nada fáceis para leigos entenderem.
PLANTARY, que a Panini está relançando, é um ótimo exemplo de como o autor brinca com conceitos. A série é pouco falada pela grande mídia do quadrinhos, talvez pela forma que foi publicada, passando por várias editoras e formatos, mas quem leu considera uma das melhores séries do começo deste século. E não é pra menos!
A HQ, maravilhosamente desenhada por John Cassaday, mostra o “Grupo Planetary”, os “Arqueólogos do Impossível”, subtítulo que, por si, já é uma mostra de como a HQ trata de seus temas. O grupo, composto por Elijah Snow, Jacita Wagner, e o Baterista, viaja o mundo investigando a história do século XX.  Mas não a história que todos conhecemos, mas a história secreta do mundo. Como Snow e Jackita dizem na primeira edição: “É um mundo estranho. Vamos mantê-lo assim.”
Snow, que possui o poder de congelamento, é uma “criança do século”, nascido em 1º de janeiro de 1900, ele viveu por todo o século XX sem envelhecer. Ele é o líder do grupo, e o personagem principal da série. No decorrer da série, a HQ parece deixar de lado o conceito de grupo, e Snow se torna o verdadeiro protagonista, cuja trajetória trata a série. Mesmo assim, Jackita e o Baterista também possuem seus momentos de destaque na trama.
Entre as investigações deles, vemos a grande atração dessa obra, que é o fato de eles revisitarem grandes conceitos e invenções criadas por nossa ficção, como se tudo na verdade tivesse realmente acontecido, mas em um plano de consciência diferente do resto do mundo. Assim, as viagens à Lua escritas por Jules Verne realmente existiram, assim como os heróis dos pulps nos anos 30, e computadores que acessam outras dimensões, criados na Segunda Guerra Mundial.
Todas essas descobertas são o que mais chama atenção na leitura. Ellis costura o uso de drogas, com os universos de personagens clássicos da literatura com a alta tecnologia que ainda está em desenvolvimento com a naturalidade característica de sua obra. Ler uma história de Planetary é como abrir a mente após receber um choque cultural. Imagine-se descobrindo que Godzilla viveu isolado em uma ilha no Japão; ou que o Hulk foi trancafiado em um poço após a experiência gama; E tudo isso apenas no primeiro encadernado. Nos seguintes, os conceitos ficam ainda mais fascinantes. Nos encadernados seguintes o leitor verá uma homenagem à John Constantine, e vários outros personagens do selo Vertigo, em uma história que serve para ilustrar a ascensão e “queda” atual dos quadrinhos do selo adulto da DC Comics.
Mas a série não é apenas um passeio pela ficção do séc. XX como se ela tivesse acontecido. Também há uma trama que liga todas as edições. Os Planetary possui um grupo de arqui-inimigos, “Os Quatro” (inspirados no Quarteto Fantástico, da Marvel), que também parecem estar atrás dos mesmos conhecimentos e objetos que o Planetary. Eles parecem saber o que aconteceu com “o quarto homem”, um amigo de Snow que ele busca saber o paradeiro, e reencontrá-lo.
Outra característica de Ellis com essa série, que pode deixar o leitor confuso na primeira leitura é a ordem cronológica de algumas edições. Eventos mostrados em uma edição só são explicados vários números depois, fora de ordem cronológica. Mas, passada a confusão inicial que isso causa, o leitor pode apreciar e se maravilhar com esses recursos dramáticos do autor.
O traço de Cassaday, realista e com poucas linhas, possui o perfeito ritmo com o roteiro, dando o estilo televisivo que uma série como essa pede. Sem grandes “recursos de impacto” chamativos, ele sabe usar o layout de página de forma correta, alternando páginas com muitos quadros com outros de página inteira, de acordo como o ritmo de leitura, e com o estilo da cena. Suas páginas nunca são cansativas. Pelo contrário, é difícil resistir á tentação de ficar vários minutos apreciando cada quadrinho.
Planetary já havia saído por aqui pelas editoras Pandora, Devir e Pixel, mas nunca completa. A edição final, nº 27, demorou anos para sair lá fora, devido aos atrasos dos autores.  Agora, a Panini relança a série completa em 4 encadernados. Pena que não há nenhum texto comentando as referências da série...  Fora isso, é um lançamento imperdível para leitores de HQs de qualidade requintada. Leia, nem que seja apenas para manter o mundo um lugar estranho!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

PERDIDO E MAL PAGO


Uma hq alternativa bem interessante, sobre a vida adulta de nerds. Sim, amigos, nós nerds ficamos adultos um dia. Leia minha crítica aqui: 


PERDIDO E MAL PAGO
Sabe quando você compra uma HQ sabendo pouco sobre ela, mas acaba se divertindo bastante? Foi meu caso com PERDIDO E MAL PAGO. Nunca tinha ouvido falar dessa HQ ou do autor, mas pela divulgação da GAL Editora, parecia ser algo interessante. E é bom mesmo.
Publicado lá fora nos anos 90 pela Fantagraphics, a história parece ser autobiográfica, se analisarmos a história do autor, Bob Fingerman e seu personagem principal, Rob Hoffman, ambos quadrinhistas que trabalham fazendo HQs pornô. Mas não é exatamente isso. Fingerman apenas usou elementos de sua vida pessoal como base na criação de seu protagonista.
A HQ é sobre a vida amorosa e amigos de Rob, enquanto faz suas hq’s, precisa pagar as contas, e tentar a sorte mudando de carreira. Ele quer sair do emprego como artista erótico, e fazer hq’s mais sérias. À primeira vista, parece um pouco com FRACASSO DE PÚBLICO, da mesma GAL, só que menos “lúdico”, se pode-se dizer isso. PERDIDO E MAL PAGO parece mais “realista”. Ela mostra um outro tipo de nerd, adulto.
Nas quatro histórias dessa edição, vemos Rob tendo que lidar com um novo apartamento, uma convenção de quadrinhos, um fim de semana com parentes, etc. Mas o foco principal da história é seu relacionamento com Sylvia, sua namorada. Eles decidem levar seu relacionamento mais a sério, começando em morar juntos. A história que mais mostra como o foco aqui é mais “sério” e realista é a terceira, onde Sylvia descobre que está grávida, e precisa fazer um aborto. Sem ser panfletário, mas com leves toques críticos, essa história é a mais tocante da edição.
Mas, na maioria das histórias, o mote é o humor. Como não podia deixar de ser, o lado engraçado de ser um nerd adulto, com amigos que ainda parecem estar na infância, mas com os problemas de falta de dinheiro e contas pra pagar.
O traço de Bobo Fingerman é caricatural, mas detalhista. Um ótimo estilo, perfeito para a proposta de ser uma HQ no meio termo entre a seriedade e o humor. E, apesar de ser uma história toda construída nos diálogos, o autor não deixa o ritmo cair. E o fato de cada história ser fechada é outra boa sacada do autor. O leitor pode apreciar cada momento da vida dos personagens com calma.
A edição da GAL possui quatro histórias da série, e um novo volume já está nos planos da editora.


terça-feira, 5 de agosto de 2014

VIDA DE INSPETOR DE ALUNOS # 41


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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

REINO DOS MALDITOS



Uma história de fantasia para adultos, cheia de elementos trágicos e dramáticos. Leia minha crítica aqui:


REINO DOS MALDITOS
Christopher Grahame é um dos autores de livros infanto-juvenis mais famosos da atualidade. Ele criou um universo literário que vende muitos livros. Mas a fama tem um preço: ele precisa escrever mai um livro. E anda com crise criativa. Pra piorar, a tensão dessa crise o faz ter desmaios de vez em quando. Mas não são apenas desmaios. Cada vez que ele “apaga”, vai parar dentro do universo de Castrovalva, o país que ele mesmo criou par seus livros. País este habitado pelos seres que compõe suas histórias. E que são baseados em suas memórias de imaginações infantis.
Mas as coisas não são bonitas em Castrovalva. Ao contrário do mundinho colorido de seus livros, o país que ele visita em seus desmaios é dominado por um déspota. E, segundo seus amigos desse mundo, o tirano vilão começou a tomar o lugar, e a massacrar seus habitantes exatamente quando Chris deixou de frequentar o lugar. Mas, afinal, esse lugar era apenas criação da imaginação fértil de uma criança. Criança essa que, quando adulto, resolveu transformar tudo em um livro. Como pode esse universo ser real? E como Christopher pode salvar um mundo imaginário? Ou: será que isso tudo é mesmo apenas um mundo imaginário?
Essa é a trama básica de REINO DOS MALDITOS, uma ótima HQ escrita por Ian Edginton, e desenhada por D’Israeli. Ambos pouco conhecidos por aqui. Essa edição foi lançada no Brasil pela “finada” Pixel Media, editora que, durante poucos anos da década passada, parecia interessada em ser a casa das hq’s adultas, publicando muita coisa dos selos Vertigo e Wildstorm.
REINO DOS MALDITOS foi publicada aqui em 2006, e é uma das melhores obras que essa editora trouxe pra nós, leitores brasileiros. Publicada originalmente pela Dark Horse como mini série em 1996, a história prima por um estilo diferente do que estamos acostumados em quadrinhos americanos, mesmo nas obras autorais. Mais parece uma HQ europeia. O traço faz o leitor achar que realmente é uma HQ do velho mundo, mas o ritmo da história é o que mais lembra os álbuns europeus.
Ian Edginton consegue criar uma história que mistura gêneros de forma super competente. Quando a história mostra o universo de Castrovalva das lembranças da infância de Christopher, ou cenas de seus livros, tudo é bem lúdico, como se espera dos  livros clássicos de fantasia infantis. Quando a história transcorre no mundo real, com o autor tendo seus ataques e desmaios, indo ao médico, e fazendo tratamento até descobrir o que realmente está causando seu problema, tudo e bem realista. Como em hq’s da Vertigo, pra citar algo próximo do estilo. E há ainda uma terceira linha narrativa, que é quando Chris “entra” na Castrovalva atual, destruída por uma guerra civil sem fim, dominada por mão de ferro por um vilão qu tem ligações particulares com Christopher. E motivos ainda mais particulares.
Nesses momentos, pode-se imaginar que a história ganharia ares “Tim Burtonescos”, mas nada disso. Apesar de aparentemente a temática ser parecida com os filmes desse diretor, aqui temos um mundo ainda mais realista e cruel. Mesmo ursos de pelúcia falantes  não aparentam ser nada fofinhos. Eles estão lutando em uma guerra. Estão cansados, e envelhecidos. Todos os personagens desse mundo desolado são frios e tristes. Eles sabem que Grahame pode ser sua salvação, mas estão desiludidos. Esse é o charme dessa HQ. Até mesmo Neil Gaiman parece infantil perto dessa obra.
E esse é o grande trunfo dessa edição. Edginton não faz uma história fácil, no sentido de mostrar algo bonito. Mesmo sendo uma história de fantasia, com elementos de contos infantis, tudo é tratado com a frieza da razão. Será que Castrovalva existe mesmo? O autor não usa isso pra concluir com uma explicação à lá sessão da tarde. Mesmo que ele deixe o leitor decidir acreditar em mundos fantasiosos ou não, ainda assim ele aponta uma crença racional.
Pode não ser a “HQ indispensável na estante de todo leitor”, mas com certeza, quem lê-la não irá se arrepender!

domingo, 3 de agosto de 2014

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

FLEX MENTALLO


Mais uma HQ com o estilo maluco de sempre do Grant Morrison. Leia minha crítica aqui: 

FLEX MENTALLO
Uma olhada sobre essa estranha obra do Grant Morrison.

Não sei se alguém já falou isso, mas eu tenho uma teoria de que todos os trabalhos (se não todos, a maioria) do Grant Morrison fazem parte de um mesmo universo particular dele, um “Morrisonverso”. Parece que suas hq’s, independente de serem autorais, Dc, Marvel, Vertigo, possuem ligações com uma mesma temática. Mas não é uma temática que ele repete como a maioria dos autores, mas que, a cada vez que é mencionada, ele acrescenta algo que a complementa. Nessa temática, os limites entre a realidade e o mundo da ficção se encontram. Assim, Flex Mentallo possui ligações com sua fase no Homem Animal. Parece doideira? Parece, porque é.
Pra quem não leu o Homem Animal dele, o principal mote de sua fase foi a metalinguagem. Mas não de uma forma tradicional. Ele usou o personagem para dizer que, na verdade, os quadrinhos são apenas outra dimensão, que coexiste com a nossa. O que, pra nós, são apenas aventuras desenhadas no papel, são a vida real para eles. Os personagens apenas não sabem disso. Mas, em uma edição, o Homem Animal toma conhecimento disso. Consegue enxergar o leitor. Encontra com sua versão cancelada antes de Crise nas Infinitas Terras, e até encontra com o próprio Morrison, que lhe conta que sua vida não passa de criações de um autor que faz o que quer com sua “marionete”.  Flex Mentallo, de certo modo, parte daí.
Após um texto introdutório que conta a história editorial do personagem como se ele tivesse existido no mesmo mercado de DC e Marvel, a HQ começa mostrando o “Homem dos Músculo Mistério” (Que raio de tradução é essa? Foi feita pelo Google?) vivendo em um mundo “real”. Ele tem conhecimento de que era um personagem de ficção que acabou saindo das páginas das hq’s pelo simples fato de acreditar que era real. E parece não se importar com isso. Apenas segue vivendo normalmente, ajudando a combater o crime. Até o dia em que encontra um cartão de outro personagem de quadrinhos, o “Fato”. Será que ele também saiu das hq’s, e foi para o mundo real?
Enquanto Flex investiga as aparições do Fato, a história alterna com um escritor de HQ em crise. Um dos autores que, nesse universo “real”, produzia as hq’s do Flex Mentallo. Aparentemente, ele quer se suicidar. Bêbado, drogado, fala ao telefone com algum atendente de apoio à vida, e sai pelas ruas. Através de seus diálogos, tomamos conhecimento com mais detalhes sobre essa colisão entre o mundo real, e o dos quadrinhos. Tudo muito bizarro, como é de praxe com as obras do autor escocês. Para que conhece um pouco da biografia do autor, vai reconhecer que esse personagem, de certo modo, é o próprio Morrison.
Talvez essa seja uma leitura bastante confusa para quem não tiver essa visão de dimensões coexistindo, a nossa, e a das hq’s. Talvez quem não leu sua fase no Homem Animal não consiga compreender isso em uma primeira leitura. Afinal, além de ser um tema estranho, essa mini série é contada de forma que mais parece um caleidoscópio, com tudo sendo jogado ao leitor. Talvez seja preciso ler mais de uma vez.
Mas, pra quem conhece essa temática do Morrison, fica mais fácil entender. Ou, pelo menos, tentar. Afinal, provavelmente, há mais coisas que ele quis dizer com essa história do que eu mesmo consigo dizer com este mero texto.
Mas uma coisa curiosa que me passou pela cabeça: enquanto na fase do Homem Animal, os personagens de HQ estão descobrindo que vivem e um universo á parte do nosso, e que talvez eles não sejam reais, aqui somos nós que descobrimos que os super heróis podem sim ser reais, e que são apenas mais um universo além do nosso.  E, como Alan Moore, e Warren Ellis também fizeram depois em suas obras, para que esses universos passem à existir, basta que acreditemos nele. Mas Morrison o faz com menos “crueldade” que Moore e Ellis. Ele demonstra mais amor aos super heróis clássicos. Ele usa essa metalinguagem toda para falar da mitologia desses personagens coloridos, e o que eles representam para nós. Como os professores falam dos mitos gregos e romanos, Grant Morrison fala dos Super heróis.
A edição da Panini é um pouco maior que o formato americano, e como extras apresenta algumas páginas com a criação da arte de Frank Quitely (posso dizer que é o desenhista que mais “casou” com os roteiros do Grant Morrison?), dos primeiros rabiscos nas próprias páginas do roteiro, até a arte final. O preço não é muito agradável, mas pra quem é fã desse autor maluco, é uma HQ obrigatória!
Flex Mentallo foi criado por Grant Morrison durante sua passagem pelo título da Patrulha do Destino. Uma série que bem que podia ser publicada por aqui, talvez no mesmo formato que obras como “Y – O Último Homem”. Que tal, hein, Panini?