Leia aqui meu texto sobre PLANETARY, os Arqueólogos do Impossível!
Warren Ellis é um dos mais geniais escritores de hq’s da
atualidade. Com uma habilidade de passear tanto pelos universos de super heróis
(onde trabalhou principalmente na Marvel, e Wildstorm), quanto por suas
criações autorais. Estas, ele costuma brincar sem se apegar à regras
comerciais, e usa e abusa dos seus personagens, das tramas complexas, e
conceitos nada fáceis para leigos entenderem.
PLANTARY, que a Panini está relançando, é um ótimo exemplo de como
o autor brinca com conceitos. A série é pouco falada pela grande mídia do
quadrinhos, talvez pela forma que foi publicada, passando por várias editoras e
formatos, mas quem leu considera uma das melhores séries do começo deste
século. E não é pra menos!
A HQ, maravilhosamente desenhada
por John Cassaday, mostra o “Grupo
Planetary”, os “Arqueólogos do Impossível”, subtítulo que, por si, já é uma
mostra de como a HQ trata de seus temas. O grupo, composto por Elijah Snow,
Jacita Wagner, e o Baterista, viaja o mundo investigando a história do século
XX. Mas não a história que todos
conhecemos, mas a história secreta do mundo. Como Snow e Jackita dizem na
primeira edição: “É um mundo estranho. Vamos mantê-lo assim.”
Snow, que possui o poder de congelamento,
é uma “criança do século”, nascido em 1º de janeiro de 1900, ele viveu por todo
o século XX sem envelhecer. Ele é o líder do grupo, e o personagem principal da
série. No decorrer da série, a HQ parece deixar de lado o conceito de grupo, e
Snow se torna o verdadeiro protagonista, cuja trajetória trata a série. Mesmo
assim, Jackita e o Baterista também possuem seus momentos de destaque na trama.
Entre as investigações deles,
vemos a grande atração dessa obra, que é o fato de eles revisitarem grandes
conceitos e invenções criadas por nossa ficção, como se tudo na verdade tivesse
realmente acontecido, mas em um plano de consciência diferente do resto do
mundo. Assim, as viagens à Lua escritas por Jules Verne realmente existiram,
assim como os heróis dos pulps nos anos 30, e computadores que acessam outras
dimensões, criados na Segunda Guerra Mundial.
Todas essas descobertas são o que
mais chama atenção na leitura. Ellis costura o uso de drogas, com os universos
de personagens clássicos da literatura com a alta tecnologia que ainda está em
desenvolvimento com a naturalidade característica de sua obra. Ler uma história
de Planetary é como abrir a mente após receber um choque cultural. Imagine-se
descobrindo que Godzilla viveu isolado em uma ilha no Japão; ou que o Hulk foi
trancafiado em um poço após a experiência gama; E tudo isso apenas no primeiro
encadernado. Nos seguintes, os conceitos ficam ainda mais fascinantes. Nos
encadernados seguintes o leitor verá uma homenagem à John Constantine, e vários
outros personagens do selo Vertigo, em uma história que serve para ilustrar a
ascensão e “queda” atual dos quadrinhos do selo adulto da DC Comics.
Mas a série não é apenas um
passeio pela ficção do séc. XX como se ela tivesse acontecido. Também há uma trama
que liga todas as edições. Os Planetary possui um grupo de arqui-inimigos, “Os
Quatro” (inspirados no Quarteto Fantástico, da Marvel), que também parecem
estar atrás dos mesmos conhecimentos e objetos que o Planetary. Eles parecem
saber o que aconteceu com “o quarto homem”, um amigo de Snow que ele busca
saber o paradeiro, e reencontrá-lo.
Outra característica de Ellis com
essa série, que pode deixar o leitor confuso na primeira leitura é a ordem
cronológica de algumas edições. Eventos mostrados em uma edição só são
explicados vários números depois, fora de ordem cronológica. Mas, passada a
confusão inicial que isso causa, o leitor pode apreciar e se maravilhar com
esses recursos dramáticos do autor.
O traço de Cassaday, realista e
com poucas linhas, possui o perfeito ritmo com o roteiro, dando o estilo
televisivo que uma série como essa pede. Sem grandes “recursos de impacto”
chamativos, ele sabe usar o layout de página de forma correta, alternando
páginas com muitos quadros com outros de página inteira, de acordo como o ritmo
de leitura, e com o estilo da cena. Suas páginas nunca são cansativas. Pelo
contrário, é difícil resistir á tentação de ficar vários minutos apreciando
cada quadrinho.
Planetary já havia saído por aqui
pelas editoras Pandora, Devir e Pixel, mas nunca completa. A edição final, nº
27, demorou anos para sair lá fora, devido aos atrasos dos autores. Agora, a Panini relança a série completa em 4
encadernados. Pena que não há nenhum texto comentando as referências da
série... Fora isso, é um lançamento
imperdível para leitores de HQs de qualidade requintada. Leia, nem que seja
apenas para manter o mundo um lugar estranho!
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