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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

REINO DOS MALDITOS



Uma história de fantasia para adultos, cheia de elementos trágicos e dramáticos. Leia minha crítica aqui:


REINO DOS MALDITOS
Christopher Grahame é um dos autores de livros infanto-juvenis mais famosos da atualidade. Ele criou um universo literário que vende muitos livros. Mas a fama tem um preço: ele precisa escrever mai um livro. E anda com crise criativa. Pra piorar, a tensão dessa crise o faz ter desmaios de vez em quando. Mas não são apenas desmaios. Cada vez que ele “apaga”, vai parar dentro do universo de Castrovalva, o país que ele mesmo criou par seus livros. País este habitado pelos seres que compõe suas histórias. E que são baseados em suas memórias de imaginações infantis.
Mas as coisas não são bonitas em Castrovalva. Ao contrário do mundinho colorido de seus livros, o país que ele visita em seus desmaios é dominado por um déspota. E, segundo seus amigos desse mundo, o tirano vilão começou a tomar o lugar, e a massacrar seus habitantes exatamente quando Chris deixou de frequentar o lugar. Mas, afinal, esse lugar era apenas criação da imaginação fértil de uma criança. Criança essa que, quando adulto, resolveu transformar tudo em um livro. Como pode esse universo ser real? E como Christopher pode salvar um mundo imaginário? Ou: será que isso tudo é mesmo apenas um mundo imaginário?
Essa é a trama básica de REINO DOS MALDITOS, uma ótima HQ escrita por Ian Edginton, e desenhada por D’Israeli. Ambos pouco conhecidos por aqui. Essa edição foi lançada no Brasil pela “finada” Pixel Media, editora que, durante poucos anos da década passada, parecia interessada em ser a casa das hq’s adultas, publicando muita coisa dos selos Vertigo e Wildstorm.
REINO DOS MALDITOS foi publicada aqui em 2006, e é uma das melhores obras que essa editora trouxe pra nós, leitores brasileiros. Publicada originalmente pela Dark Horse como mini série em 1996, a história prima por um estilo diferente do que estamos acostumados em quadrinhos americanos, mesmo nas obras autorais. Mais parece uma HQ europeia. O traço faz o leitor achar que realmente é uma HQ do velho mundo, mas o ritmo da história é o que mais lembra os álbuns europeus.
Ian Edginton consegue criar uma história que mistura gêneros de forma super competente. Quando a história mostra o universo de Castrovalva das lembranças da infância de Christopher, ou cenas de seus livros, tudo é bem lúdico, como se espera dos  livros clássicos de fantasia infantis. Quando a história transcorre no mundo real, com o autor tendo seus ataques e desmaios, indo ao médico, e fazendo tratamento até descobrir o que realmente está causando seu problema, tudo e bem realista. Como em hq’s da Vertigo, pra citar algo próximo do estilo. E há ainda uma terceira linha narrativa, que é quando Chris “entra” na Castrovalva atual, destruída por uma guerra civil sem fim, dominada por mão de ferro por um vilão qu tem ligações particulares com Christopher. E motivos ainda mais particulares.
Nesses momentos, pode-se imaginar que a história ganharia ares “Tim Burtonescos”, mas nada disso. Apesar de aparentemente a temática ser parecida com os filmes desse diretor, aqui temos um mundo ainda mais realista e cruel. Mesmo ursos de pelúcia falantes  não aparentam ser nada fofinhos. Eles estão lutando em uma guerra. Estão cansados, e envelhecidos. Todos os personagens desse mundo desolado são frios e tristes. Eles sabem que Grahame pode ser sua salvação, mas estão desiludidos. Esse é o charme dessa HQ. Até mesmo Neil Gaiman parece infantil perto dessa obra.
E esse é o grande trunfo dessa edição. Edginton não faz uma história fácil, no sentido de mostrar algo bonito. Mesmo sendo uma história de fantasia, com elementos de contos infantis, tudo é tratado com a frieza da razão. Será que Castrovalva existe mesmo? O autor não usa isso pra concluir com uma explicação à lá sessão da tarde. Mesmo que ele deixe o leitor decidir acreditar em mundos fantasiosos ou não, ainda assim ele aponta uma crença racional.
Pode não ser a “HQ indispensável na estante de todo leitor”, mas com certeza, quem lê-la não irá se arrepender!

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