Com um novo lançamento anunciado pra breve, leia aqui minha crítica do melhor álbum da coleção lançado até agora!
PITECO – INGÁ
Se o projeto “Graphic MSP”
tivesse se encerrado aqui, sem o anúncio de mais obras para o ano que vem,
poderia se dizer que o projeto fechou com chave de ouro. PITECO INGÁ é, talvez, o melhor das quatro graphics lançadas até o
momento.
O quarto livro da série, escrito,
desenhado, e magistralmente pintado por Shiko
é de uma beleza ímpar, do tipo que encontramos em álbuns europeus. Aliás, o
grande chamativo dessa edição é justamente esse, se parecer com um álbum
europeu. A história mostra o povo de Lem, a tribo da qual Piteco faz parte,
tendo que partir em busca de outro local para habitarem, pois onde estão, o rio
está secando. Thuga, a xamã da tribo, profetiza a partida, e que ela será
raptada antes desse dia, mas que a tribo deve seguir sem ela. Quando o rapto
acontece, Piteco decide ir atrás dela. No meio do caminho, várias ameaças,
naturais e mitológicas se interpõe em seu caminho até os “Homens Tigre”, que
levaram Thuga.
A semelhança com as hq’s do velho
continente ficam bem claras já pela arte. Quem leu alguma edição da Heavy Metal
vai ser imediatamente cativado por essa belíssima arte, pintada em aquarela. O
estilo da trama também pode lembrar as sagas de aventura que os europeus tanto
admiram, e que vários autores já se arriscaram a produzir. Mas Shiko vai além.
Como se trata de uma HQ nacional, é claro que o “tempero” nacional não poderia
faltar. Várias das criaturas que cruzam o caminho de nossos heróis fazem parte
da mitologia popular brasileira. Algumas das quais podem não ser facilmente
reconhecidas pela geração mais nova, mas quem já leu um pouco do nosso folclore
vai adorar as versões que Shiko recriou desses mitos. Nada agradável como
Monteiro Lobato retratou, pelo contrário. Os seres aparecem de forma
assustadora na história. Mais um ponto positivo aqui, pois essa mistura entre
uma aventura “realista” e fantasiosa casa perfeitamente.
Além de PIteco, Beleléu e Ogra o acompanham na
jornada, e cada qual possui uma ótima
construção de personalidade. Não são apenas personagens ilustrativos. São
pessoas de carne e osso. Ogra lembra muito as mulheres guerreiras indígenas que
ainda existem em algumas tribos atualmente. E mesmo PIteco não é retratado como
um herói tradicional, pois como é mencionado logo no começo da trama, ele é apenas
um caçador, não um guerreiro.
Os atos da trama estão bem
definidos, mas sem fazer parecer que a história se divide em capítulos. Ela
flui de forma orgânica, com a naturalidade exata para dar credibilidade e ritmo
para uma história do tipo. E, no último ato, quando os heróis chegam ao
território dos Homens Tigre, há a revelação de outra trama, onde se descobre os
motivos que levaram ao rapto de Thuga. Tudo muito bem amarrado.
E, talvez o que seja mais
fascinante nessa HQ é o fato de ser uma trama feminina, e não masculina. Sim,
Piteco é o herói, mas ele não o faz por um “motivo de macho”, como demonstrar
bravura, ou qualquer outro motivo masculino como estamos acostumados a ver nos
filmes. Ele o faz por amor. Logo no começo da história, quando é mencionado que
ele ama Thuga, ele nega. Mas parte em busca dela assim mesmo. O que o move é um
sentimento que faz parte do universo feminino. Ele é um “herói romântico”, não
um “herói guerreiro”, e que acaba se descobrindo como tal durante essa
aventura.
Um tipo de sensibilidade que
muitos autores deviam aprender a ter ao contar suas histórias. Com certeza,
essa ótima HQ vai se tornar mais um clássico nacional. Agora, é reler todas a
quatro obras, aguardando pela próxima fase.
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