Mais uma HQ com o estilo maluco de sempre do Grant Morrison. Leia minha crítica aqui:
FLEX MENTALLO
Uma olhada sobre essa estranha
obra do Grant Morrison.
Não sei se alguém já falou isso,
mas eu tenho uma teoria de que todos os trabalhos (se não todos, a maioria) do
Grant Morrison fazem parte de um mesmo universo particular dele, um “Morrisonverso”.
Parece que suas hq’s, independente de serem autorais, Dc, Marvel, Vertigo,
possuem ligações com uma mesma temática. Mas não é uma temática que ele repete
como a maioria dos autores, mas que, a cada vez que é mencionada, ele
acrescenta algo que a complementa. Nessa temática, os limites entre a realidade
e o mundo da ficção se encontram. Assim, Flex Mentallo possui ligações com sua
fase no Homem Animal. Parece doideira? Parece, porque é.
Pra quem não leu o Homem Animal
dele, o principal mote de sua fase foi a metalinguagem. Mas não de uma forma
tradicional. Ele usou o personagem para dizer que, na verdade, os quadrinhos
são apenas outra dimensão, que coexiste com a nossa. O que, pra nós, são apenas
aventuras desenhadas no papel, são a vida real para eles. Os personagens apenas
não sabem disso. Mas, em uma edição, o Homem Animal toma conhecimento disso.
Consegue enxergar o leitor. Encontra com sua versão cancelada antes de Crise
nas Infinitas Terras, e até encontra com o próprio Morrison, que lhe conta que
sua vida não passa de criações de um autor que faz o que quer com sua
“marionete”. Flex Mentallo, de certo
modo, parte daí.
Após um texto introdutório que
conta a história editorial do personagem como se ele tivesse existido no mesmo
mercado de DC e Marvel, a HQ começa mostrando o “Homem dos Músculo Mistério”
(Que raio de tradução é essa? Foi feita pelo Google?) vivendo em um mundo
“real”. Ele tem conhecimento de que era um personagem de ficção que acabou
saindo das páginas das hq’s pelo simples fato de acreditar que era real. E
parece não se importar com isso. Apenas segue vivendo normalmente, ajudando a
combater o crime. Até o dia em que encontra um cartão de outro personagem de
quadrinhos, o “Fato”. Será que ele também saiu das hq’s, e foi para o mundo
real?
Enquanto Flex investiga as
aparições do Fato, a história alterna com um escritor de HQ em crise. Um dos
autores que, nesse universo “real”, produzia as hq’s do Flex Mentallo. Aparentemente,
ele quer se suicidar. Bêbado, drogado, fala ao telefone com algum atendente de
apoio à vida, e sai pelas ruas. Através de seus diálogos, tomamos conhecimento
com mais detalhes sobre essa colisão entre o mundo real, e o dos quadrinhos.
Tudo muito bizarro, como é de praxe com as obras do autor escocês. Para que
conhece um pouco da biografia do autor, vai reconhecer que esse personagem, de
certo modo, é o próprio Morrison.
Talvez essa seja uma leitura
bastante confusa para quem não tiver essa visão de dimensões coexistindo, a
nossa, e a das hq’s. Talvez quem não leu sua fase no Homem Animal não consiga
compreender isso em uma primeira leitura. Afinal, além de ser um tema estranho,
essa mini série é contada de forma que mais parece um caleidoscópio, com tudo
sendo jogado ao leitor. Talvez seja preciso ler mais de uma vez.
Mas, pra quem conhece essa
temática do Morrison, fica mais fácil entender. Ou, pelo menos, tentar. Afinal,
provavelmente, há mais coisas que ele quis dizer com essa história do que eu
mesmo consigo dizer com este mero texto.
Mas uma coisa curiosa que me
passou pela cabeça: enquanto na fase do Homem Animal, os personagens de HQ
estão descobrindo que vivem e um universo á parte do nosso, e que talvez eles
não sejam reais, aqui somos nós que descobrimos que os super heróis podem sim
ser reais, e que são apenas mais um universo além do nosso. E, como Alan Moore, e Warren Ellis também
fizeram depois em suas obras, para que esses universos passem à existir, basta
que acreditemos nele. Mas Morrison o faz com menos “crueldade” que Moore e
Ellis. Ele demonstra mais amor aos super heróis clássicos. Ele usa essa
metalinguagem toda para falar da mitologia desses personagens coloridos, e o
que eles representam para nós. Como os professores falam dos mitos gregos e
romanos, Grant Morrison fala dos Super heróis.
A edição da Panini é um pouco
maior que o formato americano, e como extras apresenta algumas páginas com a
criação da arte de Frank Quitely (posso dizer que é o desenhista que mais
“casou” com os roteiros do Grant Morrison?), dos primeiros rabiscos nas
próprias páginas do roteiro, até a arte final. O preço não é muito agradável,
mas pra quem é fã desse autor maluco, é uma HQ obrigatória!
Flex Mentallo foi criado por
Grant Morrison durante sua passagem pelo título da Patrulha do Destino. Uma
série que bem que podia ser publicada por aqui, talvez no mesmo formato que
obras como “Y – O Último Homem”. Que tal, hein, Panini?
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