Leia no link abaixo meu texto sobre KM BLUES, do Daniel Esteves (Nanquim Descartável). Uma ótima HQ imperdível pra quem gosta de boas histórias.
KM BLUES
Há um show da Legião Urbana, onde
o vocalista Renato Russo diz algo como “As pessoas esperam que eu lhes mostre
as respostas. Mas eu nem sei quais são as perguntas.” Em KM BLUES, de Daniel
Esteves, Wanderson e Wagner de Souza, parece que o personagem principal está
passando por esse mesmo “dilema”.
A hq, uma das obras contempladas
pelo PROAC de quadrinhos do estado de SP, conta
a história de Flavio, que está em busca de respostas, e de uma nova
perspectiva pra sua vida. O fio condutor da narrativa é ele em seu carro, na
companhia espiritual do cantor Cartola. Aliás, a “trilha sonora” dessa história
são as músicas do sambista. Quem conhecer as músicas mencionadas nos títulos
dos capítulos, e em trechos da história, com certeza vai ter mais um motivo pra
curtir.
Flávio quer recomeçar sua vida do
zero. Ele pede demissão do emprego, se separa da mulher, e vai embora. Pra
cidade onde cresceu. Refazer as pazes com o passado. Com seu antigo amor. Com
seu pai, com quem teve uma desavença grave. Com amigos de banda. E, no caminho,
conversando com Cartola.
São tantos pormenores, que cada
um deles merecia um tópico, mas ao mesmo tempo, o melhor é deixar o leitor
descobrir a maioria deles por conta própria, assim como acontece na vida. Mas
de todos esses fatos aos quais Flavio parece buscar, os que mais se destacam
são o seu primeiro amor, e o relacionamento com seu pai. Quando jovem, ele
decidiu sair de casa, e mudar de cidade, indignado com o fato de seu pai ter
traído sua mãe, e ela ter se resignado com o fato. Anos depois, em uma outra
cidade, ele acha que não está satisfeito, e precisa mudar novamente sua vida.
Aí é que a história começa pra valer. Ele pega seu carro, e cai na estrada.
E o melhor da história é que ela
é contada de forma fora de ordem temporal. Ou seja, os vários locais e épocas
em que se desenrolam a história são mostrados fora da sequência cronológica. E
o mais interessante é que demora pra gente imaginar onde cada acontecimento se
encaixa na história de Flávio. Uma sacada genial do Roteiro, as várias
histórias são contadas paralelamente, sem que o leitor perceba.
Mas não pense que a história seja
confusa. Pelo contrário. Diálogos fluidos e com a informação na medida certa
deixam o leitor a par de todos os acontecimentos passados de Flávio e as
pessoas ao seu redor. É como se os diálogos, e os cortes fossem a s peças do
quebra-cabeça, que o leitor vai formando enquanto lê.
Quem conhece o trabalho de Daniel
Esteves com “Nanquim Descartável”, e outras histórias, sabe que dramas humanos
sobre relacionamentos são seu forte. E ele escreve sem parecer piegas. Neste KM
BLUES, os personagens agem como pessoas reais, e o autor foge dos clichês do
gênero. Até mesmo as decisões que os personagens tomam (principalmente Flávio,
claro) fogem das convenções do gênero.
E os desenhos de Wanderson de
Souza, com as cores de Wagner de Souza casam perfeitamente com o estilo da
história. Os traços limpos de Wanderson já são conhecidos dos leitores de
Nanquim Descartável, com suas linhas claras, e um traço realista. Diga-se de
passagem, colorido fica ainda melhor.
Outro ponto que merece destaque é
o acabamento gráfico. Graças ao financiamento do Proac, foi possível editar um
álbum de 106 páginas luxuosas, e ainda conter alguns extras sobre os bastidores
da produção, desde o roteiro, até as cores, e ainda um texto biográfico sobre
Cartola.
O leitor que ler este álbum não
vai se arrepender. Talvez até se identifique com Flávio. Ou vai pensar nele
quando estiver em alguma “encruzilhada emocional”, Sem saber que rumo seguir na
vida, ou quando estiver em busca de respostas. Ou das perguntas.
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