Uma grande história de violência no coração da América. Leia sobre esta saga aqui:
NAÇÃO FORA DA LEI
Uma das melhores publicações
lançadas no Brasil no ano passado, NAÇÃO FORA DA LEI, recentemente publicada
aqui no Brasil pela Gal Editora é uma das histórias mais estranhas e ao mesmo
tempo mais legais escritas por Jamie Delano. Um show de personagens muito bem
caracterizados, cenas com o suspense e um absurdo humor negro dosadas na medida
certa, violência explícita, ótimos diálogos, enfim, tudo o que se espera de uma
boa história que prende o leitor está aqui. Mais conhecido no Brasil por ter
escrito as primeiras edições da revista Hellblazer, onde vive o bruxo inglês
John Constantine, ele já teve outros trabalhos publicados em nosso país, mas é
mais lembrado pelas histórias do mago.
Este NAÇÃO FORA DA LEI é uma das
obras que ele publicou no selo Vertigo, da DC Comics, mas depois foi
republicada por outra editora. A revista, que possuiu 19 edições publicadas lá
fora, não era pra ser uma mini-série, mas uma serie mensal nos moldes de
Preacher, 100 Balas, e outras do selo. Mas a editora resolveu cancelar a
revista, e ficaram apenas essas edições. Talvez, o motivo do cancelamento seja
o estilo que Delano aplicou na história. Em entrevistas, ele deixou claro que
sua proposta foi não ter um “grande objetivo” com a revista, e sim, ir
escrevendo conforme sentisse vontade, deixando a própria história se levar.
Lendo, passa a impressão de que realmente falta algo, e que esse estilo é um
pouco estranho. Demora-se um pouco pra apreciar essa “esquisitice” como sendo o
estilo da saga. Mas depois de se familiarizar com isso, é que o leitor passa a
viver no mesmo mundo dos personagens. Um mundo sujo e pervertido, uma América
que ainda vive sob os mesmos valores retrógrados de uma sociedade que parece
ainda estar no velho oeste.
A história começa mostrando STORY
JOHNSON, um escritor que se perdeu no Vietnã, durante a guerra. Anos depois,
ele reaparece nos EUA, desmemoriado, e em busca de algo. Esse algo é o mote da
história, que o leitor vai descobrindo aos poucos. A única coisa que ele faz é
procurar por sua família. Essa família é composta de vários membros que,
aparentemente, são imortais. E além disso, vários integrantes estão sendo
mortos. Ao mesmo tempo, seu irmão, que achava que ele havia morrido na guerra,
quer encontrá-lo e matá-lo.
Acrescente a isso personagens que
podem ter saído dos livros escritos por Story, ou que inspiraram ele, e uma
conspiração que envolve os poderes americanos, e uma violência explícita cheia
de realismo e sadismo, e com um toque de humor negro à la Preacher, e você terá
a ideia exata de como é esta HQ.
Aliás, falando em Preacher, em
muitos momentos, ela lembra a obra de Garth Ennis. À primeira vista, parece que
é só uma “ilusão” causada pelo fato de ambas terem um jeito “Road movie” de
contar a história, mas NAÇÃO também é carregada no humor negro. E o próprio
estilo de criar diálogos está bem “solto” e natural, lembrando muito pouco o
Delano da época do Hellblazer. Mas esse “novo” Delano não é nem um pouco ruim,
pelo contrário. Ele consegue se sair muito bem nessa experimentação,
apresentando um trabalho que consegue superar muitos escritores do selo
Vertigo.
O único “defeito” que encontrei
enquanto lia, que nem é um defeito, mas faz parte desse estilo de
experimentação, é a “lacuna” entre uma edição e outra. Para quem entende de
dramaturgia, isso é a chamada “elipse”, o espaço de tempo entre um momento e
outro da narrativa, onde não é mostrado o que acontece, mas o leito supõe o que
ouve por motivos até meio óbvios. Pois o escritor faz com que, entre uma edição
e outra, pareça que perdemos muito dos acontecimentos. No começo, é estranho.
Quando se lê a edição seguinte, parece que “pulamos” algum capítulo. Confesso
que demorei pra entender esse recurso. Mas quando entendi, passei a gostar.
Deixa a HQ com uma “cara” de seriado de TV.
E quanto aos desenhos? Quem
conhece a dupla Goran Parlov e Goran Sudzuka das histórias do Justiceiro Max, e
Y – O Último Homem sabe que ambos são competentes, e tem um belo traço. Neste
trabalho, mais antigo que os citados, eles estão bem parecidos um com o outro.
O traço realista, mas limpo, e com um domínio perfeito da narrativa consegue
fazer o leitor penetrar dentro do clima da história. E quando digo clima, estou
dizendo o calor que o meio oeste americano deve possuir. Sim, você se sente
como se estivesse realmente por lá.
E o lançamento no Brasil contou
com a presença do autor, que esteve dando autógrafos e palestrando durante a
Fest Comix do ano passado. Eu estive lá, e garanti meu exemplar autografado. A
edição da Gal possui 11 capítulos do original, e o próximo terá os 8 restantes.
Mas apesar de a história ser toda em sequência, como uma mini-série, o fim da
primeira edição passa a impressão de fechar um “arco” da saga. Agora, é
aguardar a conclusão da série, com o livro RUMO AO INFERNO, que será lançado em
breve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário