Quando a Panini lançou as primeira edições dos encadernados "O Inescrito", e "Sweet Tooth", eu as li, e resenhei aqui:
O INESCRITO & SWEET TOOTH
Analisando os primeiros volumes
das novas apostas da Vertigo da Panini no Brasil.
Com o fim de Y – O ÚLTIMO HOMEM,
e EX-MACHINA, a Panini Comics escolheu
para substituí-las duas sereis do selo Vertigo pra dar continuidade às sereis
de encadernados pra bancas. Tarefa difícil, visto que as sereis terminadas eram excelentes
histórias, cheias de criatividade e muito bem escritas. Pra substituição, não
podem ser quaisquer coisas.
Nas edições 34 e 35 da revista
mensal Vertigo a editora encartou duas ediõçes fac-símile em “formatinho”
contendo trechos das edições nº 1 de cada uma delas. Minhas impressões
iniciais, antes de ler (tanto esses fac-símiles quanto aos encadernados) eram
de que SWEET TOOTH seria ótimo, e O INESCRITO não seria grande coisa. Nunca
gostei de Mike Carey, o autor de O INESCRITO. Mas, ao ler, aconteceu justamente
o contrário. Gostei bastante do trabalho do Carey, e achei o do Jeff Lemire
apenas bom. Bem, vamos analisar cada uma delas:
O INESCRITO
Talvez esta seja a primeira HQ a
retratar o “mundo editorial” tal qual ele se tornou depois do fenômeno Harry
Potter, onde não apenas o bruxinho, mas cada livro precisa se tornar um beste
seller que todos estão lendo ou odiando quem lê. Neste mundo, o maior fenômeno
literário sãoa s aventuras do bruxinho “Tommy Taylor”. Seu autor, Wilson
Taylor, desapareceu misteriosamente. Os fãs do livro são um culto maior que os
de fãs de Tolkien, e esperam que o autor volte para escrever um novo livro do
personagem. Tom Taylor, filho do autor,
vie em convenções, dando entrevistas e autógrafos. Um dia, uma estudante
pergunta se ele realmente é o filho de Wilson Taylor, ou um farsante. Apesar de
saber quem ele realmente é, começam a aparecer provas de que tudo pode ser uma
farsa. Mas em tempos de internet, onde uma mentira pode se tornar uma verdade
apenas pela quantidade de pessoas que acreditam nela (ou postam, curtem,
compartilham, ...), como fugir da repercussão disso? Agora, Tom precisa provar
que não é um farsante, ao mesmo tempo em que procura por seu pai. Mas, no
fundo, ele só queria ficar em paz.
Mike Carey nunca foi um dos meus
escritores favoritos. Tudo o que eu li dele pecava por falta de originalidade.
Em Hellblazer, por exemplo, parecia que ele havia lido tudo o que foi publicado
anteriormente, e feito uma releitura. Chatíssimo. Em outras obras, ele parece
imitar o estilo de Neil Gaiman. Neste O INESCRITO, ele parece seguir por esse
caminho. Muito do ritmo lembra Neil Gaiman. Há até, na última história do
encadernado uma história que mostra o escritor Rudyard Kipling envolvido em uma
conspiração que lembra muito as histórias de Sandman, quando Gaiman inseria
alguma personalidade real, ou recriava alguma história mitológica na sua saga.
Mas apesar desse meu “preconceito” contra Mike Carey, gostei bastante da
leitura deste encadernado. Ele possui um bom ritmo, a história não cai em
momento algum, e tem um clima de suspense bem trabalhado.
No decorrer da história, vão
acontecendo coisas que mostram que realidade e ficção podem não ser coisas
separadas, e o autor sabe misturar isso muito bem, sem fazer com que a história
perca seu “pé no chão”. Aliás, esse é o grande diferencial, na minha opinião, e
o que faz desta uma ótima revista: ela é baseada em nosso mundo. Um mundo com
internet, fofocas inventadas por jornalistas ruins, fãs de livros que vivem
como se estivessem dentro das histórias, etc. Se você for um leitor que não
entende porque seu amigo nerd fica indo em tudo quanto é evento fazendo
“cosplay”, vai se identificar imediatamente com o mundo em que Tom Taylor vive.
E o traço de Peter Gross não é
belo, mas é competente na diagramação, composição das páginas, e dá o clima
exato de seriedade e escapismo que a história existe.
SWEET TOOTH
A premissa básica deste SWEET
TOOTH já me conquistou antes mesmo de eu começar a ler. Quando li as primeiras
reportagens a respeito, já sabia que acabaria colecionando. Mas, ao ler, não me
empolguei tanto quanto achei que iria. A revista conta a história de um mundo
onde “O Flagelo” devastou quase toda a humanidade. Isso fez com que as crianças
híbridas de humanos e animais nascessem. Essas crianças são caçadas, pois são
consideradas valiosas. Uma dessas crianças é Gus, de 7 anos, que vivia sozinho
com seu pai, até que ele morreu. Agora, ele está sozinho no mundo. Até que
surge Jepperd, um homem misterioso e bruto. Ele promete levar Gus até um lugar
chamado de “Reserva”. Pelo caminho, os
dois podem acaber se tornando amigos; ou Gus pode se tornar um ser violento
como Jepperd; ou Jepperd pode se deixar levar pela inocência de Gus.
Essa história parece ter o estilo
clássico dos contos de fadas, mas transposta para a realidade dos dias de hoje,
mas em um ambiente pós-apocaliptico. Jeff Lemire, que também escreve vários
títulos da “linha Dark” da DC, escreve e desenha esta obra singela. Em alguns
momentos durante a leitura, eu, como órfão de “Y – o Último Homem” achava que
estava lendo uma história que se passa no mesmo universo, por mostrar os dois
personagens em uma jornada pelo mundo devastado. Mas o estilo de Jeff Lemire é
bem diferente de Brian K. Vaughan. Principalmente no ritmo que ele conduz a
história. Em algumas páginas, tudo parece ser muito rápido. Você vira as
páginas numa velocidade, e termina todo o encadernado em questão de minutos. Fiquei
com a impressão de que falta mais tempo pra que o leitor se identifique com os
personagens antes que a história realmente passe pra ação. Mas dependendo de
como os próximos encadernados forem construídos, isso pode ser uma
característica boa.Faz com que a história não fique “enrolando” o leitor.
O traço de Lemire não é do tipo
que agrada qualquer leitor. Já vi alguns leitores dizendo que não gostaram
muito do estilo dele, que foge da tradicional busca pelo realismo de muitos
artistas. Pelo contrário, o traço dele é “expressionista”. Torto, estranho à
primeira vista, distorce os personagens em algumas cenas, mas possui uma força
nas caracterizações de gestos e emoções que poucos desenhistas possuem.
RESUMINDO
As duas obras não tem o mesmo
potencial de se tornarem “clássicos”como Y e Ex-Machina foram para muitos
leitores, mas ainda assim, são duas boas leituras. Eu, particularmente, apesar
de ter achado que a leitura de O INESCRITO tenha sido melhor, vou apostar em
colecionar SWEET TOOTH. Além de não confiar totalmente em Mike Carey, a obra de
Jeff Lemire tema vantagem de já ter se encerrado nos EUA, em poucos
encadernados.
Mas essa é a minha opinião. Ao
leitor que optar por qualquer uma delas, vai estar adquirindo uma ótima
leitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário