Quem lembra do maior evento de marketing dos quadrinhos de antes da era da internet?
Relembre aqui:
A MORTE DO SUPER HOMEM
À 20 anos, morria o maior super
herói de todos os tempos. Na época, foi um evento anunciado em várias mídias,
pois pensava-se que era uma morte definitiva.
Lembro quando saiu a notícia.
Fiquei sabendo pelo Jornal Nacional. Foi uma reportagem sobre o anúncio de que
o Super Homem iria morrer em breve, em uma de suas edições. A reportagem era
quase como se fosse alguém importante que tinha sua morte anunciada. Os
repórteres, os EUA, perguntavam para vários fãs o que eles achavam da morte do
Super. Alguns lamentavam, outros diziam que era um personagem que já tinha dado
tudo o que podia, e que estava na hora de encerrar suas atividades mesmo.
Me lembro que, naquela hora,
pensei “preciso comprar esse gibi”. Somente anos depois foi que eu pude comprar
essa edição, embora a revista tenha saído no Brasil apenas 1 ano depois.
Em uma época em que não existia a
internet da forma como a conhecemos hoje, a notícia da morte do Super conseguiu
chegar aos leitores através da campanha de marketing da editora. Se fosse hoje,
tudo teria vazado, e quando acontecesse, nem teria mais graça. Além do que
todos os planos dos editores seriam de conhecimento dos leitores. Mas naquela
época, não. Foi anunciado que ele iria ser morto em uma história. Ponto. A história
foi lançada nas bancas. Muitos leitores e até não-leitores ficaram curiosos, e
a revista se tornou uma das mais vendidas até então. A DC ficou quatro meses
sem publicar as revistas do Super. Para muitos, o Super Homem tinha morrido de
forma definitiva, e para sempre.
A história não é grande coisa, e
tem vários erros em sua concepção. Em certos momentos, nem parece que ela foi
pensada dramaticamente, mas apenas é uma desculpa pra fazer o Super e o vilão
Apocalipse saírem se socando durante todas as páginas. Mas pra um leitor sem
grandes preocupações, até que agradava bastante.
A HISTÓRIA
O vilão APOCALIPSE, criado apenas
para esse fim, era um sujeito grande e selvagem, que saiu de dentro da terra
vestido em uma roupa de contenção, e começava a matar tudo o que via pela
frente. A Liga da Justiça foi contatada para acabar com ele, mas não consegue.
Quando o Super aparece, começa a porradaria. Durante os capítulos seguintes, os
dois saíam no braço por boa parte dos EUA, até chegar em Metrópolis, a cidade do
Super, onde o herói finalmente conseguia exaustar o vilão, que caía morto. Mas
ele também ficou exausto demais após essa luta, e terminava morrendo nos braços
de Lois Lane. Na época, a jornalista sabia a identidade do Home de Aço, e eles
estava noivos(outra decisão editorial nas coxas, mas deixa isso pra lá). Assim,
acabava a história e a vida do Super Homem.
UM EVENTO DE MARKETING
Na época, tanto nos EUA quanto
aqui, a história teve uma grande repercussão aé entre quem não lia quadrinhos.
Até mesmo a TV daqui noticiou a história da morte, como se noticia a morte de
qualquer celebridade. Aqui, a editora
Abril, que publicava Marvel e DC na época lançou a revista em uma edição
especial de cerca de 160 páginas, contendo toda a saga. Essa publicação ocorreu
cerca de 1 ano antes do que deveria ter saído, se considerarmos a
cronologia vigente na época. Pra um
colecionador das revistas mensais, ela trouxe alguma confusão sobre personagens
coadjuvantes, mas pra novos leitores, nada demais causava espanto. Mesmo assim,
quem só conhecia o Super pelos filmes e desenhos animados, deve ter sido bem
estranho ver o Lex Luthor Jr na história, um cabeludo, ao invés do Lex
tradicional, careca. Nem pergunte...
A revista mensal do Super homem
continuou trazendo as histórias antes da morte dele, normalmente, em uma
estratégia de fazer com que quem tivesse começado a ler a partir da “Morte”
ficasse com vontade de ler as histórias que antecederam o fato. Nos EUA, as
várias revistas do Super pararam de ser publicadas por cerca de 4 meses, o que
fez com que muitos achassem que era uma morte definitiva. Mas é claro que tudo
já estava sendo planejado pra que o personagem voltasse. Tão pensando o quê?
Justo na época em que começava a produção de um seriado pra TV (e que talvez
seu sucesso seja uma consequência de toda a repercussão gerada pela morte nas
hq’s), alguém achava que o Super continuaria morto?
O RETORNO
A Volta do Super Homem foi bem
planejada, apesar de algumas histórias duvidosas no meio do caminho. Primeiro,
as revistas voltaram da numeração em que havia parado, mostrando o que
aconteceu imediatamente após a morte do herói. Quem estava no local no momento
da morte dele tentou ressuscitá-lo, sem sucesso. Depois, aconteceu o velório,
com direito à participação de todos os heróis do universo DC. Agora, a cidade
de Metrópolis era defendida por outros heróis menores, coadjuvantes das
próprias histórias do Super. Mas para dar uma nova injeção de empolgação nos
leitores, a DC fez algo que parecia ousado: criou 4 Super Homens para substituir
o falecido. Dois deles eram óbvios que não enganaram ninguém, mas os outros
dois poderiam ser o verdadeiro, com pequenas modificações. Os que nunca
causariam dúvidas aos leitores foram o Superboy, um clone do super em versão
adolescente, e Aço, um homem comum, com uma armadura de aço e um martelo.
Agora, os outros eram um ciborgue cujo DNA era kryptoniano, e um outro Super
com poderes diferenciados, mas que tinha pleno acesso à Fortaleza da Solidão, e
conhecimento da tecnologia de Krypton. A partir daí, a história mostraria qual
deles seria aceito pelos cidadãos de Metrópolis como o novo e verdadeiro Super
Homem. Talvez a tática tenha sido fazer os leitores também ficarem em dúvida.
Para isso, cada um dos “novos Super Homens” estrelava uma das revistas do
heróis separadamente. Mas por pouco tempo, depois disso, as revistas se
interligaram, para mostrar uma invasão à Terra, que havia sido orquestrada por
um dos Super Falsos.
Nesse meio caminho, o verdadeiro
Kal-El (esse é o nome Kryptoniano do Super Homem) ressuscita, e parte para
salvar o planeta, juntamente com outros heróis, entre eles o Superboy e Aço.
Após derrotar os vilões, o Super recupera seus poderes plenos, e tudo volta ao
que era antes, mas com uma grande mudança: O Super usando cabelo comprido.
Grande mudança, né?
Depois disso, infelizmente, as
histórias voltaram à ser mais do mesmo para o Super. Embora sua morte e
ressurreição tenham deixado marcas no Universo DC, como o que aconteceu com o
Lanterna Verde Hal Jordan, a saga Zero Hora, e o sucesso da empreitada fez com
que os editores resolvessem tentar o mesmo com o Batman no ano seguinte,
fazendo-o ser aleijado pelo vilão Bane, e substituído por um Batman de
armadura, e mais violento, na saga “A Queda do Morcego”.
Depois disso, grandes sagas que
matavam ou modificavam um super herói viraram moda. E como toda moda, cada nova
saga do gênero parecia mais uma cópia mal feita da original. E se nem a
história original era assim tão boa, imaginem as cópias...
No Brasil, a Morte do Super Homem
foi publicada pela Editora Abril, em 1993, e teve um relançamento no ano
seguinte, sempre em formatinho. Em 1994, as sequências foram publicadas em
“Funeral para um Amigo”, em 4 edições, depois o especial “Super Home Além da
Morte”, e a mini-série em 3 edições de 160 página cada “O Retorno do Super
Homem”. A Morte também teve uma republicação mais tarde em formato americano,
como mini-série pela própria Abril, e em um encadernado de luxo pela Panini.
Lembrando que essa história se
passa antes do atual reboot da DC, portanto, pra cronoogia atual, é como se ela
nunca tivesse acontecido. Até o momento em que algum editor resolver que é hora
de recontar a história, em uma nova versão...
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