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sábado, 5 de abril de 2014

A PLAYBOY


A PLAYBOY, de Chester Brown. Uma HQ autobiográfica sobre o primeiro contato do autor com o sexo oposto através das páginas da revista. Leia minha crítica aqui:

A PLAYBOY
Pra quem não conhece, um texto sobre outra obra do autor do recente “Pagando por Sexo”.

Tá todo mundo falando de “Pagando por Sexo”, obra de Chester Brown, uma autobrografia em quadrinhos onde o autor fala sobre suas experiências com prostitutas. Ouço falar muito bem dessa obra, mas tão bem, que fico imaginando “mas é do mesmo autor do chato ‘A playboy’, tem certeza?”
Sim, pois quando eu li A PLAYBOY, achei tão sem graça que só não vendi porque sabia que não acharia nenhum comprador pra ela. Guardei em uma caixa, e a esqueci.
Até hoje.
Já que Chester Brown está sendo tão elogiado por sua nova obra, resolvi reler esta, só pra ver se minhas impressões mudariam. E mudaram.
A PLAYBOY, publicado aqui no Brail pela Editora Conrad, em 2001, é uma HQ também autobiográfica onde ele conta como foram seus primeiros contatos com a revista masculina de mesmo nome, quando tinha 15 anos. Usando a si mesmo adulto como um narrador que, na forma de um anjo, visita o jovem Chester, ele conta ao leitor seus pensamentos da época, mas vistos atualmente, enquanto o “anjo” passeia ao lado de sua versão mais jovem. Em momento algum ele conversa consigo mesmo jovem, apenas com o leitor, enquanto mostra e fala sobre a experiência de comprar a revista pela primeira vez, como reagiu às pessoas ao seu redor, o que fez com a revista para não ser pego, o que o levou à outras edições, à colecionar, etc.
Em um formato pouco maior que um livro de bolso, e com cerca de 170 página, a HQ dá pra ser lida de uma tacada só, em menos de meia hora, devido ao estilo que o autor emprega. Cada página tem entre um e dois quadrinhos apenas, o que faz o leitor virar as páginas rapidamente. Talvez seja esse um dos motivos que me levou a não gostar muito da primeira vez que li, afinal, com tantas viradas de páginas, uma revista dá a impressão de leitura rápida, de história com ritmo rápido, o que A PLAYBOY definitivamente não é. Pelo contrário, é uma história morosa, com poucas mudanças em sua trama. Chester não se aprofunda em motivações, explicações psicológicas, ou qualquer outro recurso que poderia acrescentar mais drama à história. Ele apenas mostra o que fez e como fez. Por exemplo, quando ele descobre que a garota da capa de uma revista é negra, o que foi a primeira vez que ele se confrontou com seu racismo, é mostrado apenas o “anjo” dizendo pro leitor que ele se arrependeu de ficar se masturbando por ela, depois o seu eu jovem apenas muda de página pra outra garota, e continua o ato masturbatório.
E isso ocorre em todas as páginas da história, nada de se aprofundar nem se explicar. Lendo as críticas do “Pagando por Sexo”, eu compreendi que isso faz parte da sinceridade do autor em mostrar o que fazia e como pensava, pois enquanto ele não dá explicações profundas, ele também não está se justificando, o que poderia parecer um falso moralismo, apenas pra agrada o leitor mais moralista.
Apesar dessa aparente falta de “ação”, Chester segue com a história até sua vida adulta, onde ele foi de um garoto que comprava a revista pra se masturbar até um adulto colecionador, e que descobre que prefere se masturbar do que fazer sexo com as namoradas. Em alguns momentos ele assume que só conseguir transar se imaginasse que estava com algumas das garotas da capa.
Outra cena interessante é um epílogo, onde ele está conversando com um leitor, logo após o lançamento da parte 1 da revista. Ele sabia que em breve seria lançado a parte 2, e esse epílogo, que fecha de um modo tão moroso quanto o resto da história, acaba sendo interessante pelo lada experimentação metalinguística. Ele ainda usa o diálogo de uma  namorada pra justificar o porquê de a história ser assim.
Muito bom.
 Ainda bem que não me desfiz da revista. Passado algum tempo, entendi melhor a história, e fiquei mais curioso por PAGANDO POR SEXO. Espero poder adquirir em breve, e comentar aqui.

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