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sexta-feira, 11 de abril de 2014

LOCAS - VOL 1 - MAGGIE, A MECÂNICA


Um dos gibis alternativos mais legais já produzidos! Só quem nunca leu pra não se apaixonar pela mulheres criadas por Jaime Hernandez.
Leia sobre as Locas aqui:


LOCAS
Depois de anos longe das prateleiras do Brasil, a obra de Jaime Hernandez volta com tudo!
Recentemente, a GAL Editora lançou “Locas: Maggie, a Mecânica”, o primeiro volume que compila o material produzido por Jaime Hernandez para a antológica revista Love and Rockets no asno 80.  Semana passada, comentei sobre Birdland, de Gilbert Hernandez, irmão dele. Não confunda os dois. Eles tem traços parecidos, é verdade, mas analisando bem, dá pra notar as diferenças no estilo de cada um. Eu, particularmente, prefiro o Jaime.
Pra falar desse lançamento, é bom relembrar um pouco da história da revista: Love and Rockets foi uma revista independente publicada pelos irmãos Hernandez, Jaime, Gilbert e Mario. Este último decidiu não se dedicar tanto assim aos quadrinhos. 
Cada um possuía uma série de personagens próprios, que publicavam em várias histórias “soltas”pela revista. Os personagens de Jaime são as famosas “Locas” que estrelam este álbum.
Locas conta a história de várias amigas, centrada principalmente em Maggie e Hopey. Duas mexicanas punk rockers, que possuem uma amizade “colorida”, vivendo e sobrevivendo no dia a dia da sua comunidade. Uma mistura de americanos com mexicanos, como é da origem do próprio autor.
No começo, as histórias da amigas (e de outros personagens que vão surgindo no decorrer das edições) eram mais escapistas, como dá pra conferir neste primeiro álbum. Maggie trabalha como mecânica de foguetes, viaja pra lugares onde dinossauros ainda estão vivos, já foi sidekick de um super herói, etc. Com o tempo, as histórias foram ficando mais pé no chão, mas sem perder a personalidade e as características das personagens.
Outra característica das Locas é o fato de Jaime mostrar o envelhecimento delas. Elas mudam com o tempo, engordando, emagrecendo, mudando o corte de cabelo, etc. Isso acrescenta mais vida à elas, deixando a leitura mais “íntima” para o leitor.
Mas o que mais chama a atenção ao ler as histórias é o modo como elas são retratadas. Acredito que nenhum autor de quadrinhos (e talvez de qualquer outra mídia artística) tenha retratado mulheres com tamanha perfeição e realismo. Não se trata da visualização ou idealização masculina das mulheres. Elas possuem vida própria. Agem, fala, pensam  com mulheres. Dificilmente algum autor homem conseguiria tal êxito, mas Jaime Hernandez consegue.
A forma como ele constrói a história, alterando o ritmo de acordo com a cena, usando os recursos gráficos juntamente com o ritmo do roteiro para colocar o leitor dentro do clima da história, e também na cabeça das personagens são características que só fazem da leitura do livro algo mais delicioso ainda. Apesar das muitas páginas da edição da GAL, se o leitor se deixar levar, poderá ler a edição toda em um fôlego só, e nem se dar conta do tempo passando.
No Brasil, as histórias das Locas já foram publicadas em pequenas doses dentro da revista animal, no final dos anos 80, que publicava as histórias mais curtas. Mais tarde, a Editora Record adquiriu os direitos, e publicou duas revistas, Love and Rockets (que trazia os trabalhos dos irmãos), e Locas, só com as personagens do Jaime. Esta, a menos que eu esteja errado, só teve duas edições publicadas. Mas apesar de, na época, a revista não conseguiu ter uma vida longa, fez muitos fãs, o que anos depois garantiu a volta dos irmãos Hernandez às bancas. A editora Via Letrera já publicou duas edições de Love and Rockets, e agora, a GAL lançou este primeiro volume de Locas, e com a promessa de dar continuidade. Êba!
E a edição da GAL é muito bem caprichada e bonita de ter na estante. Além e uma introdução de Antero Leivas sobre como o trabalho do Jaime é apaixonante, e um posfácil do editor Maurício Muniz sobre seu contato com as Locas, as histórias selecionadas são um exemplo de como o autor deveria se divertir muito enquanto produzia as histórias, e essa diversão consegue transparecer em cada página, e cativar o leitor.
Na primeira metade do livro, acompanhamos Maggie começando seu trabalho de mecânica prosolar, com um novo patrão, e um  novo colega, o famoso galã Rand Race. Após uma apresentação em uma história curta, temos uma história mais longa mostrando ela indo em um trabalho contratado por um político ambicioso em outro país, onde um foguete caiu e está preso ao lado de um dinossauro. Enquanto as formas narrativas variam do tradicional até a narrativa em forma de carta, há várias subtramas das personagens coadjuvantes sendo contadas paralelamente. Nesta edição, a principal delas é Penny Century , que vive várias aventuras em busca de diversão, e do sonho de se tornar uma super heroína, enquanto namora o milionário H.R. Costigan, um homem que tem chifres, literamente.
A segunda parte do livro é dedicada á outros personagens em histórias curtas, mas fechando, há a longa “100 quartos”, onde Penny decide dar uma festa em sua mansão, na ausência do namorado Costigan, e o que começa com apenas uma reuniãozinha noturna entre amigas descamba para Maggie sendo sequestrada por um homem que se escondia na casa, entre outras situações estranhas. Só lendo pra entender, e ficar vidrado.
Um trabalho indispensável pra qualquer amante de boas históriase de quadrinhos alternativos. E se você não conhece as Locas, faça como muitos leitores: compre, leia e se apaixone pelas gatinhas da revista. E que venham as próximas edições!

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