Um dos gibis alternativos mais legais já produzidos! Só quem nunca leu pra não se apaixonar pela mulheres criadas por Jaime Hernandez.
Leia sobre as Locas aqui:
LOCAS
Depois de anos longe das
prateleiras do Brasil, a obra de Jaime Hernandez volta com tudo!
Recentemente, a GAL Editora
lançou “Locas: Maggie, a Mecânica”, o primeiro volume que compila o material
produzido por Jaime Hernandez para a antológica revista Love and Rockets no
asno 80. Semana passada, comentei sobre
Birdland, de Gilbert Hernandez, irmão dele. Não confunda os dois. Eles tem
traços parecidos, é verdade, mas analisando bem, dá pra notar as diferenças no estilo
de cada um. Eu, particularmente, prefiro o Jaime.
Pra falar desse lançamento, é bom
relembrar um pouco da história da revista: Love and Rockets foi uma revista
independente publicada pelos irmãos Hernandez, Jaime, Gilbert e Mario. Este
último decidiu não se dedicar tanto assim aos quadrinhos.
Cada um possuía uma série de personagens próprios, que publicavam em várias histórias “soltas”pela revista. Os personagens de Jaime são as famosas “Locas” que estrelam este álbum.
Cada um possuía uma série de personagens próprios, que publicavam em várias histórias “soltas”pela revista. Os personagens de Jaime são as famosas “Locas” que estrelam este álbum.
Locas conta a história de várias
amigas, centrada principalmente em Maggie e Hopey. Duas mexicanas punk rockers,
que possuem uma amizade “colorida”, vivendo e sobrevivendo no dia a dia da sua
comunidade. Uma mistura de americanos com mexicanos, como é da origem do
próprio autor.
No começo, as histórias da amigas
(e de outros personagens que vão surgindo no decorrer das edições) eram mais
escapistas, como dá pra conferir neste primeiro álbum. Maggie trabalha como
mecânica de foguetes, viaja pra lugares onde dinossauros ainda estão vivos, já
foi sidekick de um super herói, etc. Com o tempo, as histórias foram ficando
mais pé no chão, mas sem perder a personalidade e as características das
personagens.
Outra característica das Locas é
o fato de Jaime mostrar o envelhecimento delas. Elas mudam com o tempo,
engordando, emagrecendo, mudando o corte de cabelo, etc. Isso acrescenta mais
vida à elas, deixando a leitura mais “íntima” para o leitor.
Mas o que mais chama a atenção ao
ler as histórias é o modo como elas são retratadas. Acredito que nenhum autor
de quadrinhos (e talvez de qualquer outra mídia artística) tenha retratado
mulheres com tamanha perfeição e realismo. Não se trata da visualização ou
idealização masculina das mulheres. Elas possuem vida própria. Agem, fala,
pensam com mulheres. Dificilmente algum
autor homem conseguiria tal êxito, mas Jaime Hernandez consegue.
A forma como ele constrói a
história, alterando o ritmo de acordo com a cena, usando os recursos gráficos
juntamente com o ritmo do roteiro para colocar o leitor dentro do clima da
história, e também na cabeça das personagens são características que só fazem
da leitura do livro algo mais delicioso ainda. Apesar das muitas páginas da
edição da GAL, se o leitor se deixar levar, poderá ler a edição toda em um
fôlego só, e nem se dar conta do tempo passando.
No Brasil, as histórias das Locas
já foram publicadas em pequenas doses dentro da revista animal, no final dos
anos 80, que publicava as histórias mais curtas. Mais tarde, a Editora Record
adquiriu os direitos, e publicou duas revistas, Love and Rockets (que trazia os
trabalhos dos irmãos), e Locas, só com as personagens do Jaime. Esta, a menos
que eu esteja errado, só teve duas edições publicadas. Mas apesar de, na época,
a revista não conseguiu ter uma vida longa, fez muitos fãs, o que anos depois
garantiu a volta dos irmãos Hernandez às bancas. A editora Via Letrera já
publicou duas edições de Love and Rockets, e agora, a GAL lançou este primeiro
volume de Locas, e com a promessa de dar continuidade. Êba!
E a edição da GAL é muito bem
caprichada e bonita de ter na estante. Além e uma introdução de Antero Leivas
sobre como o trabalho do Jaime é apaixonante, e um posfácil do editor Maurício
Muniz sobre seu contato com as Locas, as histórias selecionadas são um exemplo
de como o autor deveria se divertir muito enquanto produzia as histórias, e
essa diversão consegue transparecer em cada página, e cativar o leitor.
Na primeira metade do livro,
acompanhamos Maggie começando seu trabalho de mecânica prosolar, com um novo
patrão, e um novo colega, o famoso galã
Rand Race. Após uma apresentação em uma história curta, temos uma história mais
longa mostrando ela indo em um trabalho contratado por um político ambicioso em
outro país, onde um foguete caiu e está preso ao lado de um dinossauro.
Enquanto as formas narrativas variam do tradicional até a narrativa em forma de
carta, há várias subtramas das personagens coadjuvantes sendo contadas
paralelamente. Nesta edição, a principal delas é Penny Century , que vive
várias aventuras em busca de diversão, e do sonho de se tornar uma super
heroína, enquanto namora o milionário H.R. Costigan, um homem que tem chifres,
literamente.
A segunda parte do livro é
dedicada á outros personagens em histórias curtas, mas fechando, há a longa
“100 quartos”, onde Penny decide dar uma festa em sua mansão, na ausência do
namorado Costigan, e o que começa com apenas uma reuniãozinha noturna entre
amigas descamba para Maggie sendo sequestrada por um homem que se escondia na
casa, entre outras situações estranhas. Só lendo pra entender, e ficar vidrado.
Um trabalho indispensável pra
qualquer amante de boas históriase de quadrinhos alternativos. E se você não
conhece as Locas, faça como muitos leitores: compre, leia e se apaixone pelas
gatinhas da revista. E que venham as próximas edições!
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