Atualmente, os quadrinhos
brasileiros estão conquistando seu espaço à força.
Mesmo com pouco ou nenhum apoio
das grandes editoras, muita coisa boa tem sido lançada por aqui. E, com sorte,
alguns autores conseguem publicar suas obras de forma independente. É o caso
deste MITOLOGIAS, que começou como uma webcomic, mas que acabou tendo uma
versão impressa. E com muita qualidade, diga-se.
A edição, que possui 170 páginas,
e custa apenas R$20,00, pode ser comprada diretamente com os autores. Confesso
que o que me chamou a atenção pra comprar foi primeiramente o preço. Achei que
valeria a pena conhecer algo assim, custando tão pouco. Lendo, a princípio,
demorei pra gostar pra valer da história. O começo dela é meio clichê, apesar
de bem feito. Nada muito grave, mas que me deixou com uma impressão errada da
história. O humor excessivo do personagem principal também me incomodou um
pouco. Afinal, a história não é de humor, talvez o personagem devesse ser menos
engraçado.
Mas como a história flui bem,
continuei a leitura, e ainda bem, pois ela melhora sutil e naturalmente com o
decorrer dos capítulos.
A história começa com uma
introdução do mundo dos Deuses, o que só vai fazer sentido mais tarde na
história. Passado esse prólogo, temos Társio e o “reverendo”, com armas nas
mãos, perseguindo alguém. Eles sobem por escadas, e param em um andar, quando
uma criança se revela um demônio, e atira em Társio. Ele, então, começa a
relembrar como foi que começou a se envolver com esse tipo de assuntos.
Tudo começa em uma edição da
FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty, evento de literatura que
acontece todos os anos na cidade de Paraty. Quem não conhece, é fácil pesquisar
sobre. E o evento também tem dedicado um bom espaço às histórias em quadrinhos.
Társio está no evento com um amigo, juntos para ver um escritor de HQ chamado
“Noah Gaiman”, e pegar um autógrafo. Após o evento, ele acaba perdendo o ônibus
de volta pra casa, e seu amigo sugere que ele vá até a casa de “Luis Pinga”,
que pode dar hospedagem pra ele, mas ele deve tomar cuidado com o que pode ser
pedido em troca. Társio vai até o local, onde Luis Pinga lhe deixa dormir em
sua casa, se em troca, Társio matar alguém. Társio caba aceitando, meio que por
brincadeira, e recebe um par de armas místicas que somem de acordo com o desejo
do dono após pronunciar palavras mágicas, e vai cumprir sua “missão”.
Antes de continuar, é preciso
dizer que este primeiro capítulo é baseado em um conto escrito por Tarsio
Abraches, que está transcrito no final do livro. Talvez por isso, seja um
capítulo um pouco rebuscado demais pra linguagem de uma HQ. Quero dizer, como
adaptação pra quadrinhos, está competente, mas ainda assim, falta desvincular
um pouco a história do conto, pra dar personalidade própria.
Nos capítulos seguintes, agora a
história é criação própria dos autores, Társio vai até a casa de um homem
chamado Fenris, que ele diz que é um monstro disfarçado de home bom, e que
Társio deve matá-lo. Ele precisa cumprir a missão, ao mesmo tempo que aprende
sobre quem são realmente essas pessoas, e como o mundo dos Deuses e o nosso
mundo se conectam. E qual será seu real papel em tudo isso.
A história daí pra frente adquire
um outro tom, mais vele, e ao mesmo tempo com um ritmo mais natural. Társio se
mostra alguém com personalidade própria, não apenas um “engraçadinho” como a
primeira impressão me causou, e todos os personagens agem com mais vitalidade
durante a história. História essa que, basicamente não apresenta nada de novo
no gênero, mas que consegue divertir durante a leitura. Afinal, ela possui boa fluidez , ritmo narrativo, e não é
pedante durante as explicações dos personagens. Nesse quesito, ponto pro
roteirista, pois ele conseguiu fazer o que poucos se lembram , que é fazer com
que as explicações sejam incluídas no desenrolar da trama, e não no “estilo
scooby-doo”, onde todo mundo para pra ouvir a explicação.
Os desenhos lembram muito o
estilo de fanzines. Alguns exageros estilísticos que aparentemente nos fazem
pensar que está tudo fora de proporção, mas é apenas o traço do desenhista que
é assim mesmo, e o mais importante, ele possui uma boa noção de ritmo
narrativo, além de uma ótima diagramação. Em algumas cenas, o quadro está um
pouco super poluído, mas não acontece com frequência.
E, ao final, uma história solo
com Ulisses, o amigo do Társio que o colocou nessa enrascada toda. Muito boa,
por sinal.
No geral, uma boa HQ, que merece
ser conhecida.
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