Leia aqui meu texto sobre o álbum que publica todas as tiras da porraloca dos anos 80.
RE BORDOSA
Lembro quando eu era criança:
havia um cara que morava no mesmo quintal que era um roqueiro cabeludo,com um
quarto cheio de discos do Iron Maiden, AC/DC, e vários gibis espalhados. Me
lembro principalmente das edições da MAD, e da Chiclete com Banana, que eu
sempre folheava. Adorava os desenhos, mesmo que eu ainda não entendia o que
eles queriam dizer. Várias capas da revista ficaram gravadas na minha memória. Também
tinha outro tipo de revistas, mas não é o assunto aqui.
Anos depois, já com 20 anos,
passeava pelo meu sebo favorito, e encontrei um exemplar da “Morte da
Porraloca”. Claro que comprei sem nem pensar muito. Além de barato, eu sabia
que aquilo era um clássico das hq’s nacionais. Agora, sim, as piadas faziam
sentido pra mim. Adorei a leitura, e imediatamente virei fã do Angeli. Passei a
comprar várias outras edições da Chiclete que encontrei pelas minhas
peregrinações por sebos. Talvez até tenha sido isso o que me fez virar
quadrinhista.
Anos depois, finalmente é lançada
uma edição que compila todas as tiras da personagem que seu autor se permitiu a
ousadia de matar. Muitos anos antes de matar um personagem de HQ tivesse virado
rotina. TODA RÊ BORDOSA, é um livrão de 19,5 x 26,5 cm, e 216 páginas.
As tiras foram restauradas
digitalmente a partir dos originais do Angeli, novo letreiramento, e na
publicação foram separadas mais ou menos pelos “temas”. Há as tiras com a Rê no bar, na praia, na
cama, na banheira, com os pais, grávida, com os amantes, na clínica de aborto,
etc.
Além das tiras e hq’s que saíram
na Folha de São Paulo entre 1984 e 1987, há também a história completa da morte
dela, além das hq’s onde o autor “revisita” a Rê, “Memórias de uma Porraloca”,
de 1996, onde ele encontra o diário perdido da Rê Bordosa, e “Vodka”, de 2009,
que mostra um grupo de pessoas que se reúne fantasiados de Rê Bordosa. Além de
alguns extras, como esboços, capas, reprodução de uma reportagem sobre a morte
dela na época, além de tiras em italiano.
Só senti falta de algum texto
contando mais sobre a história da criação dela. Ou algum prefácio do próprio
Angeli. Mas, por outro lado, isso é algo que só vai fazer realmente falta para
os fãs novos, que não conhecem a história, não sabem que o Angeli a criou como
uma forma de “exorcisar” tipos de pessoas que ele odiava, e uma mulher
beberrona e pentelha como ela não é mesmo muito agradável.
Além do que, há os documentários
“Dossiê Rê Bordosa”, e “Angeli 24 Horas”, pra quem quiser saber mais. É só
procurar onde comprar, ou assistir de graça.
Com Rê Bordosa, mais do que
criticar um tipo de mulher considerada “vulgar” pela sociedade, Angeli acabou
fazendo um retrato do comportamento daquela época. E, pra quem ainda não leu, e
pode se perguntar “será que essas tiras tão calcadas nos anos 80 ainda tem
algum valor hoje?” Sim, tem. Os trabalhos de Angeli são atemporais. A Rê é uma
mulher moderna, que estava frente do seu tempo, e continua sendo moderna. Mas o
melhor de tudo é que as piadas continuam engraçadíssimas.
O que posso dizer além de
IMPERDÍVEL?
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