ZDM, uma hq distópica sobre um futuro onde Nova Iorque não faz parte dos EUA, se tornando um território em guerrilha constante, e onde o jornalista Matt Roth precisa sobreviver. Leia sobre ela aqui:
“Todo
dia é 11/09”, diz uma pichação na primeira edição da série. E, ao ler
essa HQ de Brian Wood, parece que é isso mesmo. Ficamos com a sensação de que a
realidade que vemos pelos meios de comunicação não é bem assim, e que podemos
estar vivendo algo completamente diferente, sem nos darmos conta. Esta HQ é
considerada uma das melhores alusões à guerra do Iraque, mas pode ser sobre
qualquer guerra, qualquer revolução.
Brian Wood era um sucesso promissor no mundo das
hq’s quando, em 2005, lançou DMZ, pelo selo Vertigo,
da DC Comics. Embora seus trabalhos
posteriores não mostrem que ele amadureceu como artista, algumas de suas hq’s
são excelentes. Este, juntamente com LOCAL,
é um dos bons trabalhos do desenvolvedor do game GTA.
“DMZ”
é uma sigla para “DeMilitarized Zone”, ou seja, “Zona
DesMilitarizada”, um local que fica entre
duas forças em guerra, uma espécie de “zona neutra”, ou, comona HQ, uma
zona sem pátria.
A história mostra uma realidade alternativa,
onde uma nova guerra civil nos EUA faz com que a ilha de Mahnattan, em Nova
Iorque, se isole do restante do país, tornando-se a Zona Desmilitarizada do
título. A guerra ocorre entre o governo “oficial” dos EUA, e um exercito dos “Estados Livres.” Essa guerra, como
poderia acontecer de verdade, possui várias nuances bastante obscuras.
Principalmente devido aos conglomerados da mídia, manipuladora dos fatos.
A história começa com o jovem fotojornalista Matty Roth, que, enviado para ser
assistente de um grande repórter, acaba sendo pego no meio de um ataque, quando
entra em Manhattan, ficando preso no local. Procurando por sobrevivência, ele
acaba tendo uma forma de contato com os habitantes que ficaram no local, e
descobrindo que a realidade não é bem como a mídia mostrava, nem como seus
patrões queriam que ele noticiasse.
As primeiras edições são focadas principalmente
em Matty se adaptando ao novo local, e descobrindo como são as coisas na ZDM.
Ele é o elo com o leitor, que acaba vendo a verdade sobre a guerra junto com
ele. Na primeira edição, por exemplo, muitas das informações sobre a guerra
civil vem de jornalistas e militares, e depois vemos as coisa pelos olhos dos
moradores da ilha. Em uma das primeiras edições, por exemplo, vemos Matty
descobrir que um grupo considerado como terrorista, na verdade, são pessoas que
lutam para garantir a sobrevivência de animais do zoológico de NY.
Também temos Zee, a primeira pessoa que fica amiga de Matty quando ele
“desembarca” por ali. Ela é a personagem que fica abrindo os olhos dele, além
de cuidar deles nos momentos mais difíceis, e ensiná-lo como sobreviver por lá.
A revista não procura revelar “segredos” de
como a guerra civil aconteceu, e como as coisas chegaram até tal ponto, mas
mostrar os resultados dos conflitos, e como as pessoas lidariam com uma situação
dessas. Mas o que mais chama atenção é o modo como a mídia lida com os fatos,
manipulando não apenas como noticiarão as coisas, mas agindo como uma
organização secreta. Matty, que na edição nº 6 é resgatado da ilha pela
emissora onde trabalha, e imediatamente é “contratado” como “correspondente de
guerra” oficial deles, se vê usado por eles de forma explícita. Ele se
questiona o tempo todo sobre qual é a realidade desse conflito, e que
interesses podem haver por trás de tudo. Pretendendo ser um porta voz da
realidade da ilha pela emissora, ele acaba se desvinculando dela, e se engaja
na luta das pessoas do local. Afinal, como ele descobre no segundo arco da
revista, o exército americano pode tentar um novo golpe para tomar a ilha a
qualquer momento.
Os desenhos, na maioria do desenhista italiano Riccardo Burchielli são um espetáculo a
parte. Com um estilo “sujo” para os padrões americanos, fazem o leitor se
sentir como se estivesse lendo alguma saga da revista Heavy Metal. Ele sabe como criar uma ambientação de um local
pós-guerra, com cenários destruídos, destroços pelas ruas, etc. E com um ótimo
domínio de narrativa, dando ao leitor o ritmo exato entre os momentos de tensão
com os de reflexão dos personagens.
No Brasil, a série foi inicialmente publicada
pela Editora Pixel, que publicou as
primeiras 10 edições dentro da “Pixel
Magazine”. Após o cancelamento da revista, e a perda dos direitos do selo
Vertigo pela mesma, a Panini
Recomeçou a publicação desde o nº 1, na forma de encadernados. Apesar do preço
nada convidativo, e vendido apenas em livrarias e lojas especializadas, esta é
uma das melhores hq’s publicadas atualmente em nosso país.
Lá fora, a saga se encerrou no nº 72, conforme
o próprio Wood planejava. E, com ou sem guerra no Iraque, sua mensagem
principal continua atualíssima.
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